A criança com microcefalia relacionada ao vírus Zika pode apresentar um atraso no desenvolvimento neuropsicomotor?

| 9 novembro 2017 | ID: sofs-37135
Solicitante:
CIAP2:
DeCS/MeSH: , , ,
Graus da Evidência:

A criança com microcefalia pode apresentar um atraso no desenvolvimento neuropsicomotor como dificuldades para firmar a cabeça (controle cervical), sentar, engatinhar, andar, fazer transposições posturais, além de atividades como subir, descer uma escada, pular, correr, entre outras. Também podem ter comprometimentos para o desenvolvimento de ações como agarrar, soltar, manipular brinquedos e objetos (1).


A microcefalia relacionada ao vírus Zika é uma doença nova, que está sendo descrita pela primeira vez na história, com base no surto ocorrido no Brasil. Caracteriza-se pela ocorrência de microcefalia com ou sem outras alterações no sistema nervoso central em crianças cuja mãe tenha histórico de infecção pelo vírus Zika na gestação (2).
As crianças com microcefalia relacionada ao vírus Zika nos primeiros anos de vida também têm sido considerados críticos para o desenvolvimento das habilidades motoras, cognitivas e sensoriais das crianças (3).
A estimulação precoce pode ser definida como um programa de acompanhamento e intervenção clínico-terapêutica multiprofissional com bebês de alto risco e com crianças pequenas acometidas por patologias orgânicas – entre as quais, a microcefalia –, buscando o melhor desenvolvimento possível, por meio da redução de sequelas do desenvolvimento neuropsicomotor, bem como de efeitos na aquisição da linguagem, na socialização e na estruturação subjetiva, podendo contribuir, inclusive, na estruturação do vínculo mãe/bebê e na compreensão e no acolhimento familiar dessas crianças (4,5).
Qualquer programa de estimulação do desenvolvimento da criança deve ter seu início tão logo o bebê esteja clinicamente estável e se estender até os três anos de idade. Os primeiros anos de vida têm sido considerados críticos para o desenvolvimento das habilidades motoras, cognitivas e sensoriais. É neste período que ocorre o processo de maturação do sistema nervoso central sendo a fase ótima da plasticidade neuronal. Tanto a plasticidade quanto a maturação dependem da estimulação. A estimulação precoce tem como meta, portanto, aproveitar este período crítico para estimular a criança a ampliar suas competências, tendo como referência os marcos do desenvolvimento típico (3).
É imprescindível o envolvimento dos pais e familiares no programa de estimulação precoce, considerando que o ambiente social é o mais rico em estímulos para a criança. A equipe deve informar a família sobre o problema e seus desdobramentos, orientando-os a utilizar momentos como o banho, vestuário, alimentação, autocuidado e, principalmente, as brincadeiras para estimular (5).
Vários estudos afirmam que os resultados de uma estimulação precoce são mais contundentes a partir do envolvimento e participação ativa da família, o que otimiza efeitos no desenvolvimento infantil. Para isso é preciso levar em consideração valores e aspectos culturais de cada núcleo familiar, além de promover uma aprendizagem colaborativa pautada no oferecimento de oportunidades à família: oportunidade de descobrir o que quer e o que precisa para atingir seus objetivos; oportunidade para reconhecer o que já sabem e podem fazer e de descobrirem o que ainda precisam aprender; oportunidade de participar na seleção e na utilização de métodos de avaliação e de intervenção com suas crianças (5).
Efetivar a participação dos pais passa também por ações para estabelecer objetivos da estimulação precoce junto com a família, planejar intervenções, realizar aconselhamentos, ofertar apoio social e encorajamento aos cuidadores, de modo que percebam o sucesso do tratamento como conquistas de suas iniciativas e esforços (3,6).
De acordo com o Ministério da Saúde, a atenção ao recém-nascido, lactente e criança com microcefalia deve ser realizado o aleitamento materno contínuo até os 2 anos ou mais, sendo exclusivo nos primeiros 6 meses de vida (7).
Atributos
O acolhimento e o cuidado a essas crianças e a suas famílias são essenciais para que se conquiste o maior ganho funcional possível nos primeiros anos de vida, fase em que, como dito anteriormente, a formação de habilidades primordiais e a plasticidade neuronal estão fortemente presentes, proporcionando amplitude e flexibilidade para progressão do desenvolvimento nas áreas motoras, cognitiva e de linguagem (3,8).

Bibliografia Selecionada:

1. Conselho Federal de Fisioterapia e de Terapia Ocupacional- COFFITO. Cartilha: Diagnóstico: Microcefalia. E agora? 2016, 12 p. Disponível em: http://coffito.gov.br/nsite/wp-content/uploads//comunicao/materialDownload/CartilhaMicrocefalia_Final.pdf
2. Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Departamento de Vigilância das Doenças Transmissíveis. Protocolo de vigilância e resposta à ocorrência de microcefalia. Brasília: Ministério da Saúde, 2016. (Emergência de Saúde Pública de Importância Nacional – ESPIN). Disponível em: http://www.saude.go.gov.br/wp-content/uploads/2016/12/protocolo-de-vigilancia-e-resposta-a-ocorrencia-de-microcefalia-versao-1.3.pdf
3. Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Diretrizes de estimulação precoce: crianças de zero a 3 anos com atraso no desenvolvimento neuropsicomotor decorrente de microcefalia. Brasília: Ministério da Saúde, 2016. (Plano nacional de enfrentamento à microcefalia. Versão preliminar). Disponível em: http://portalarquivos.saude.gov.br/images/pdf/2016/janeiro/13/Diretrizes-de-Estimulacao-Precoce.pdf
4. Cestari VRF, Barbosa IV, Carvalho ZMF, Melo EM, Studart RMB. Evidências científicas acerca da paralisia cerebral infantil. Cogitare enferm. [Internet]. 2013 Dic [citado 2017 Nov 09] ; 18( 4 ): 796-802. Disponível em: http://www.revenf.bvs.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1414-85362013000400025&lng=es&nrm=iso&tlng=pt
5. Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Protocolo de atenção à saúde e resposta à ocorrência de microcefalia relacionada à infecção pelo vírus Zika. Brasília: Ministério da Saúde, 2015. (Plano nacional de enfrentamento à microcefalia. Versão preliminar). Disponível em: http://www.nutes.ufpe.br/indu/pluginfile.php/12830/mod_resource/content/1/zika2.pdf
6. Dias ACB, Freitas JC, Formiga CKMR, Viana FP. Desempenho funcional de crianças com paralisia cerebral participantes de tratamento multidisciplinar. Fisioter. Pesqui. [Internet]. 2010 Set [citado 2017 Nov 09] ; 17( 3 ): 225-229. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1809-29502010000300007&lng=pt&nrm=iso&tlng=pt/ http://dx.doi.org/10.1590/S1809-29502010000300007
7. Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Protocolo de atenção à saúde e resposta à ocorrência de microcefalia relacionada à infecção pelo vírus zika [recurso eletrônico] – Brasília: Ministério da Saúde, 2016. Disponível em: http://combateaedes.saude.gov.br/images/sala-de-situacao/Protocolo_SAS_versao_3_atualizado.pdf
8. Núcleo de Telessaúde de Sergipe. Como trabalhar o desenvolvimento neuropsicomotor em crianças com microcefalia? – Segunda Opinião Formativa, 05 jul 2016. Disponível em: http://aps.bvs.br/aps/como-trabalhar-o-desenvolvimento-neuropsicomotor-em-criancas-com-microcefalia/