Como acontece a cicatrização de feridas e como orientar usuários e equipe no roteiro de acompanhamento?

| 27 julho 2015 | ID: sofs-21553
Solicitante:
CIAP2: ,
DeCS/MeSH: ,
Graus da Evidência:

Existem diversos fatores que dificultam a cicatrização de feridas tais como: o tempo de evolução da ferida, sua extensão, profundidade, pressão contínua sobre a área lesada, infecção, edema, tabagismo, alcoolismo, uso de agentes tópicos inadequados, uso de antibióticos locais, técnica inadequada de curativos, idade, aporte nutricional inadequado, obesidade, anemia, uso de medicamentos sistêmicos, (anti-inflamatórios, imunossupressores, quimioterápicos, radioterapia), estresse, ansiedade e depressão. (1)
Dentre as patologias que interferem no processo de cicatrização destacam-se a hanseníase, diabetes mellitus e hipertensão arterial sistêmica. (1)
Nos casos de pacientes com receita com cobertura para curativo, sem um protocolo que oriente a utilização de cobertura, a melhor conduta é um diálogo com o médico da equipe sobre o tratamento de feridas, para que este estimule os usuários na correta utilização em cada fase da ferida.
O roteiro de avaliação e tratamento de feridas pode ser feito em equipe, na unidade de saúde da família, e é uma oportunidade para a sistematização da assistência de enfermagem.
A avaliação das feridas deve ser interdisciplinar e seu tratamento deve ser dialogado pelos profissionais e pelo usuário. A avaliação das feridas deve ser ampla e levar em conta aspectos, físicos, sociais e psicológicos, tais como: (1,2)

1) História do doente: verificar a queixa principal, presença de fatores que interferem na cicatrização, data do início da úlcera, causa, se é a primeira ou uma úlcera recorrente; presença de dor e tratamentos já utilizados anteriormente.
2) Exame físico: verificar as medidas antropométricas (peso e altura), localização da úlcera, condições da pele, presença de calosidades, atrofias musculares, edema (inchaço), pulsos (pedioso e tibial posterior), alterações de sensibilidade e sinais de inflamação. O exame dos pulsos periféricos deve ser realizado, para a detecção de possível insuficiência arterial associada à hanseníase. A avaliação neurológica ajuda a detectar problemas de sensibilidade, conforme descrito no Manual de Prevenção de Incapacidade Física.
3) Avaliação psicossocial: este aspecto também deve ser avaliado, pois alterações em sua imagem corporal, ansiedade em relação ao diagnóstico, podem levar o doente a situações de estresse, o que contribui negativamente para a cicatrização.
4) Autocuidado: identificar esta possibilidade em relação à sua úlcera, orientando-o e estimulando-o a realizar seu curativo, para adaptar-se às atividades da vida diária.
5) Localização da ferida/úlcera.
6) Apresentação da ferida/úlcera:
a) Intenção da ferida: 1ª intenção ou primária – a cicatrização primária envolve a reepitelização, na qual a camada externa da pele cresce fechada; 2ª intenção ou secundária – é uma ferida que envolve algum grau de perda de tecido; 3ª intenção ou terciária – ocorre quando intencionalmente a ferida é mantida aberta para permitir a diminuição ou redução de edema ou infecção ou para permitir a remoção.
b) Grau da úlcera: Grau I – ocorre um comprometimento da epiderme, a pele se encontra íntegra, mas apresenta sinais de hiperemia, descoloração ou endurecimento; Grau II – ocorre a perda parcial de tecido envolvendo a epiderme ou a derme, a ulceração é superficial e se apresenta em forma de escoriação ou bolha; Grau III – existe comprometimento da epiderme, derme e hipoderme (tecido subcutâneo); e Grau IV – comprometimento da epiderme, derme, hipoderme e tecidos mais profundos.
c) Grau de contaminação, dor, pele ao redor da ferida, borda da ferida, leito da ferida, exsudato, odor, profundidade da ferida e extensão;
d) Tipo de tecido – indica a fase do processo de cicatrização em que a ferida/ úlcera se encontra: tecido necrótico, tecido fibrinoso, tecido de granulação ou tecido de epitelização.

O tratamento utilizado e a conduta também são importantes constar no roteiro para avaliação subsequente da ferida e avaliação da conduta.


O processo educativo é um grande aliado aos serviços de atenção básica. A equipe de saúde da família, inclusive o médico, deve discutir sobre a temática com a comunidade, sobre uso de coberturas, tratamento e fases da cicatrização das feridas.
Quanto ao uso de coberturas em feridas segue considerações sobre substâncias, ação, indicação, contraindicação e apresentação (1,2).

No cuidado de feridas cabe ao enfermeiro generalista (3,4):

–        Avaliar o cliente de forma integral e personalizada (aspectos físicos, emocionais e sociais);
–        Prescrever e realizar os cuidados de enfermagem, considerando a avaliação integral e personalizada do cliente e da ferida;
–        Prescrever produtos e coberturas (primárias e secundárias), bem como produtos de fixação, de acordo com a avaliação do cliente e características da ferida, visando à limpeza e promoção do processo de reparação tecidual, considerando as diferentes etapas desse processo;
–        Realizar orientação ao cliente e família visando o autocuidado e continuidade dos cuidados no domicílio;
–        Realizar registro da avaliação do cliente e de sua ferida, além das condutas implementadas;
–        Reavaliar o cliente, sua ferida e as condutas nas diferentes fases do processo de cicatrização; e
–        Solicitar parecer ao enfermeiro especialista em dermatologia ou estomaterapia e a outros profissionais nos casos complexos e/ou quando necessário.

Ressalta-se que para a realização destas atividades o enfermeiro deverá basear-se preferencialmente em protocolos estabelecidos e aprovados pela instituição e/ou ser devidamente capacitado e atualizado, respondendo por suas ações com base no Código de Ética e Civil.

Atributos APS

No cuidado de feridas é importante o conceito longitudinalidade que é baseado numa relação pessoal de confiança ao longo do tempo entre indivíduos e a equipe de saúde da família, por meio dessa relação os profissionais conhecem os pacientes e isto possibilita uma maior resolutividade nos serviços de saúde.

Bibliografia Selecionada:

  1. Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Políticas de Saúde. Departamento de Atenção Básica. Manual de condutas para úlceras neurotróficas e traumáticas. Brasília: Ministério da Saúde, 2002. Acesso em 09.02.2014. Disponível em http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/manual_feridas_final.pdf
  2. Durgante, Vania. Coberturas. Hospital Universitário de Santa Maria. Direção de Enfermagem. Acesso em 09.02.2014. Disponível em http://200.18.45.28/sites/enfermagem/index.php/coberturas-padronizadas-husm
  3. Conselho Regional de Enfermagem do Paraná. Câmara Técnica de Legislação e Normas. Parecer n.º 016/2014. Acesso em 09.02.2014. Disponível em http://pr.corens.portalcofen.gov.br/wp-content/uploads/sites/15/2014/08/libreoffice.pdf
  4. Conselho Regional de Enfermagem de Sergipe. Câmara Técnica de Legislação e Normas. Parecer técnico n.º 009/2014 – Responsabilidade da realização de curativos contaminados e de grande porte. Acesso em 09.02.2014. Disponível em http://se.corens.portalcofen.gov.br/wp-content/uploads/2014/04/PARECERTECNICO092014.pdf