Como devo proceder frente a um paciente com Doença de Chagas na fase crônica ou indeterminada da doença?

| 21 julho 2009 | ID: sofs-1317
Solicitante:
CIAP2:
DeCS/MeSH: ,
Graus da Evidência:

A literatura ainda é controversa em relação ao tratamento de pacientes com Doença de Chagas na fase crônica ou indeterminada da doença. De acordo com a Organização Mundial da Saúde, todos os indivíduos infectados pelo T. cruzi devem ser tratados com nifurtimox ou benzonidazol, independentemente da situação clínica ou da fase da doença, embora as taxas de cura na fase crônica possam ser tão baixas quanto 8%.
O Consenso Brasileiro em Doença de Chagas, elaborado pelo Ministério da Saúde no ano de 2005, relata que não há indicação de tratamento em larga escala para adultos na fase crônica na perspectiva de programas de saúde pública.
Ainda nesse Consenso encontramos as seguintes informações que são pertinentes: “Embora haja divergências quanto às percentagens de cura no tratamento etiológico da doença de Chagas, há consenso sobre a sua utilidade, a depender de circunstâncias, como: fase da doença, idade do paciente e condições associadas”.
Tratamento da fase aguda – Na fase aguda, definida pela evidência do Trypanosoma cruzi no exame direto do sangue periférico, o tratamento deve ser realizado em todos os casos e o mais rápido possível, após confirmação diagnóstica, independente da via de transmissão. Devido à toxicidade das drogas disponíveis, não é recomendado o tratamento durante a gestação.
Tratamento na fase crônica – Na fase crônica recente (na prática, em crianças) é valido o mesmo raciocínio quanto à recomendação do tratamento na fase aguda. Nesse sentido, considera-se que devem ser tratadas todas as crianças com idade igual ou inferior a 12 anos, com sorologia positiva.
Para adultos, embora faltem evidências que garantam o sucesso dessa terapia nas diferentes circunstâncias, o tratamento específico pode ser instituído na forma crônica recente. Para essa finalidade considerou-se como recente o período de cinco a doze anos, após a infecção inicial. Para a fase crônica de maior duração, o tratamento tem sido indicado na forma indeterminada e nas formas cardíacas leves e digestivas. Não há evidências de benefícios nas formas avançadas, quanto à evolução clínica das mesmas. A regressão de lesões inflamatórias e fibróticas, já observada em estudos experimentais, ainda não foi confirmada na clínica.
De que qualquer modo não há indicação de tratamento em larga escala para adultos na fase crônica na perspectiva de programas de saúde pública.
São considerados portadores da forma indeterminada (FI) da doença de Chagas os indivíduos soropositivos e/ou com exame parasitológico positivo para T. cruzi que não apresentam quadro sintomatológico próprio da doença, e com resultados de eletrocardiograma de repouso, estudo radiológico de tórax, esôfago e cólon normais (1a. Reunião Anual de Pesquisa Aplicada em doença de Chagas, 1984). Não são necessários outros exames complementares para a classificação do portador da FI.
A FI tem particular relevância por ser a apresentação de maior prevalência, além do evidente caráter benigno e do baixo potencial evolutivo da mesma, conforme ficou demonstrado em estudos longitudinais. Em vista dessa benignidade, não se justifica a prática comum de solicitação de exames sorológicos para doença de Chagas na avaliação pré-admissional e nos exames periódicos realizados por instituições e/ou empresas públicas e privadas. Quanto aos demais exames complementares, deverão ser solicitados segundo as especificidades da atividade laboral que o indivíduo irá exercer”.
Dessa forma, o primeiro passo para avaliar a necessidade de tratamento do paciente portador da Doença de Chagas é avaliar em qual fase da doença o paciente se encontra. Após, deve-se considerar características como idade do paciente e condições associadas. Ressaltamos, que em caráter individual, pode-se considerar o tratamento específico para o portador da forma indeterminada.


Bibliografia Selecionada:

  1. Organización Panamericana de la Salud. Tratamiento etiológico de La enfermedad de Chagas: conclusiones de una consulta técnica. Genebra: Organización Panamericana de la Salud; 1998. Disponível em:  http://cidbimena.desastres.hn/filemgmt/files/tratamientochagas.pdf. Acesso em 29 jan 2015.
  2. Consenso Brasileiro em Doença de Chagas. Rev Soc Bras Med Trop. 2005;38(supl. 3):7-29. Disponível em: ftp://ftp.cve.saude.sp.gov.br/doc_tec/ZOO/chagas05_consenso_svs.pdf. Acesso em 29 jan 2015.