Como proceder com uma criança menor de um ano com membros em geno varo?

| 30 agosto 2016 | ID: sofs-35457
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O geno varo é uma condição frequente na puericultura na qual a criança apresenta os joelhos bem afastados (abertos) enquanto os tornozelos se aproximam. Pode ser normal na criança do zero aos três anos de idade. Neste caso chamamos de geno varo fisiológico. A deformidade não é muito acentuada, é simétrica e regride espontaneamente do início da marcha (um ano) até no máximo três anos (1), porém, crianças obesas podem ter dificuldades nesta regressão espontânea.
Existem, entretanto, algumas doenças que podem causar geno varo, nestes casos chamamos de geno varo patológico. As principais causas são:
-Deficiência de vitamina D: faz com que a criança tenha menos cálcio no organismo e portanto tenham ossos mais fracos que “entortam” com o peso do corpo.
-Tíbia vara de Blount: doença que afeta o crescimento da tíbia próxima ao joelho que faz com que este fique varo. Pode ser uni ou bilateral.
-Síndromes genéticas: a criança apresenta várias outras alterações morfológicas além do joelho varo.
É muito importante o reconhecimento por parte do profissional da saúde daqueles casos de evolução desfavorável para que a indicação de tratamento seja feita de forma precoce e a criança não tenha prejuízos psicológicos e de desenvolvimento neuropsicomotor desnecessários. Se o geno varo é muito “expressivo”, persiste além de 2 anos (aumentando em vez de diminuir) ou ocorre em apenas uma perna, o paciente deve necessariamente passar por uma avaliação com o médico de sua Equipe da Saúde da Família e o encaminhamento para um serviço de ortopedia deve ser fortemente considerado. É importante atentar que o diagnóstico de quadros patológicos pode ser difícil na criança muito pequena. Muitas vezes é preciso aguardar para se chegar a uma conclusão (clínica e radiológica) sobre o caráter da deformidade.
O tratamento dependerá do diagnóstico e deverá levar em consideração diversos aspectos como idade, expectativa de crescimento e condição clínica do paciente.
Nos casos de geno varo fisiológico, a criança deverá apenas ser acompanhada. Os pais das crianças que apresentarem obesidade devem ser orientados sobre hábitos saudáveis para correção do excesso de peso. Em poucos casos tratamentos ortopédicos específicos são indicados. O primeiro ano de vida é um dos períodos críticos para o desenvolvimento da obesidade (6) e se não houver intervenção, sua persistência pode determinar não só deformidades ósseas, mas também diversos outros problemas como alterações respiratórias e desordens do sono (8,9).
Nos casos mais graves (como a tíbia vara de Blount ou em síndromes genéticas) procedimentos cirúrgicos como uma osteotomia podem ser indicados.


Atributos da APS
O cuidado à criança ou a qualquer outra fase do ciclo vital humano, é complexo, multidimensional e sofre influência de diversos e distintos fenômenos nas ações do cuidar. O cuidado apresenta-se, como um conjunto de circunstâncias interdependentes, que resulta em um uma conjugação de elementos que confluem para um todo complexo que se constrói e se modifica continuamente. Por conseguinte, a integralidade e coordenação do cuidado, como princípio da APS, remete para a compreensão de que os fatores que interferem na saúde da criança são amplos e perpassando por outros setores que não só o da saúde.

Bibliografia Selecionada:

  1. Abzug, Mark; Hay, William; Levin, Myron; Deterding, Robin. Current diagnosis and treatment pediatrics.  23a. ed. 2016
  2. Skinner, Harry B; McMahon, Patrick J. ed. Current Diagnosis & Treatment in Orthopedics. 5a. ed. 2014. Disponível em: http://accessmedicine.mhmedical.com/book.aspx?bookID=675
  3. Rocha, Eduardo S.T., Pedreira, Ailton C.S. Problemas ortopédicos comuns na adolescência. J Pediatr (Rio J) 2001;77(Supl.2):s225-s33. Disponível em: http://www.jped.com.br/conteudo/01-77-s225/port.pdf
  4. Lessmann JC, Sousa FGM, Marcelino G, Erdmann AL. O olhar de acadêmicos de enfermagem acerca do ambiente de cuidado interpretado à luz do paradigma da complexidade. Online Braz J Nurs [periódico na internet]. 2005 [acesso em 13 maio 2006];5(1). Disponível em: http://www.objnursing.uff.br/index.php/nursing/rt/printerFriendly/174/43
  5. Sociedade Brasileira de Pediatria. Departamento de Nutrologia Obesidade na infância e adolescência. Manual de Orientação.  3a. ed. São Paulo: Sociedade Brasileira de Pediatria. Departamento de Nutrologia, 2012. Disponível em: http://www.sbp.com.br/pdfs/14617a-PDManualNutrologia-Alimentacao.pdf
  6. Federação Latino-Americana de Sociedades de Obesidade. Consenso Latino-Americano em Obesidade. Arq Bras Endocrinol Metab, vol.43 no.1 São Paulo Feb. 1999. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0004-27301999000100006
  7. Sociedade Brasileira de Pediatria. Avaliação nutricional da criança e do adolescente – Manual de Orientação. São Paulo: Sociedade Brasileira de Pediatria. Departamento de Nutrologia, 2009 Disponível em: http://www.sbp.com.br/pdfs/MANUAL-AVAL-NUTR2009.pdf
  8. Speiser, PW et all.  Consensus statement: childhood obesity. J Clin Endocrinol Metab, March 2005, 90(3):1871–1887. Disponível em: http://press.endocrine.org/doi/pdf/10.1210/jc.2004-1389
  9. Sabin MA, Crowne EC, Shield JPH. The prognosis in childhood obesity. Current Pediatrics. 2004; 14:110-114. Disponível em: http://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S0957583903001556