Como tratar tricomoníase em gestantes?

| 12 janeiro 2017 | ID: sofs-35799
Solicitante:
CIAP2:
DeCS/MeSH: ,
Graus da Evidência:
Recorte Temático:

O tratamento para tricomoníase em gestante é sempre sistêmico. Todas as gestantes sintomáticas devem ser tratadas com metronidazol 2g VO em dose única em qualquer estágio da gestação [B] 1. Para pacientes que não responderam ao tratamento com metronidazol em dose única, recomenda-se como tratamento alternativo, metronidazol 500 mg VO a cada 12 horas por 7 dias ou metronidazol 250mg VO a cada 8 horas por 7 dias. Em casos de gestante com tricomoníase o parceiro também deverá ser tratado, sendo orientado Metronidazol 500 mg VO a cada 12 horas por 7 dias ou tinidazol 2 g em dose única.
Em gestantes assintomáticas, devem-se avaliar os riscos e os benefícios do tratamento uma vez que alguns estudos mostraram aumento de risco de parto prematuro, associado ao uso de metronidazol (B). Caso o tratamento seja necessário, deve-se considerar postergá-lo para depois da 37 semanas de gestação1.
O parceiro sexual sempre deve ser tratado, podendo ser utilizado metronidazol ou tinidazol 2 g em dose única; ou Metronidazol 500 mg VO a cada 12 horas por 7 dias  (D).5
Tratamento com metronidazol (até 1.200 mg/dia) por via oral é permitido durante o período de amamentação, não havendo necessidade de suspender temporariamente o aleitamento materno. O medicamento não está associado a efeitos adversos com doses de até 1.200 mg/dia, mas o leite pode adquirir gosto metálico, podendo prejudicar sua aceitação pela criança. Deve-se evitar dose única de 2 g, e nesse caso, adiar a amamentação por 12 a 24 horas1.


A Tricomoníase é uma infecção genital causada pelo Trichomonas vaginalis (protozoário flagelado) e tem como reservatório o colo uterino, a vagina e a uretra. A doença é considerada uma doença sexualmente transmissível, pois é transmitida através das relações sexuais ou contato íntimo com secreções de uma pessoa contaminada.
A prevalência da doença varia entre 10% a 35%, conforme a população estudada e o método diagnóstico4.
A tricomoníase caracteriza-se por corrimento abundante, amarelado ou amarelo-esverdeado, bolhoso; prurido e/ou irritação vulvar; dor pélvica (ocasionalmente); disúria, polaciúria; hiperemia da mucosa, com placas avermelhadas evidenciando colpite difusa e/ou focal, com aspecto de framboesa 2,4.
O diagnóstico laboratorial da Tricomoníase é feito através de visualização dos protozoários móveis em material de endocérvice, por meio de bacterioscopia. A Tricomoníase vaginal pode alterar a classe da citologia oncótica. No caso de mulheres com Tricomoníase e alterações morfológicas celulares, deve-se realizar o tratamento e repetir a citologia após três meses, para avaliar a persistência das alterações4.
Não havendo exame microscópico disponível no momento da consulta, utilizar a medida do pH vaginal e o teste das aminas (“do cheiro”), que auxiliam a realização de um diagnóstico mais preciso que aquele baseado simplesmente no aspecto do corrimento (diagnóstico clínico), enganoso na maioria das vezes3.
Observações

O uso de preservativos, o cuidado com os fômites (instrumentos ginecológicos, toalhas, roupas íntimas) e o tratamento do doente e de todos os seus parceiros devem ser considerados na prevenção da tricomoníase.

Atributos da APS
O acompanhamento ao longo do tempo, da gestante que apresenta tricomoníase, pela equipe da atenção básica é fundamental para se chegar a um diagnóstico e tratamento efetivos. Nesta dimensão do cuidado é importante que o profissional de saúde facilite o acesso dessa paciente ao serviço de saúde e adote medidas que sejam proativas estimulando a adesão da mulher ao tratamento e a ações preventivas que serão importantes para evitar reinfecções.

Bibliografia Selecionada:

  1. B., DUNCAN, B., SCHMIDT, Inês, GIUGLIANI, Elsa J. DUNCAN, Schmidt, GIUGLIANI, Ca. Medicina ambulatorial: condutas de atenção primária baseadas em evidências. 4th Edition. ArtMed, 01/2013. VitalBook file.
  2. Gustavo, GUSSO, LOPES, José Mauro Ceratti organizadores. Tratado de Medicina de Família e Comunidade – princípios, formação e prática – 2volumes. ArtMed, 01/2012. VitalBook file.
  3. Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Programa Nacional de DST e Aids. Manual de Controle das Doenças Sexualmente Transmissíveis / Ministério da Saúde, Secretaria de Vigilância em Saúde, Programa Nacional de DST e Aids. Brasília: Ministério da Saúde. 2006. Disponível em: http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/manual_controle_das_dst.pdf
  4. Brasil. Ministério da Saúde.  Secretaria de Ciência, Tecnologia e Insumos Estratégicos. Comissão Nacional de Incorporação de Técnologias (CONITEC) no SUS. Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas das Infecções Sexualmente Transmissíveis. Relatório de Recomendações – 04/2015. Disponível em: http://conitec.gov.br/images/Consultas/Relatorios/2015/Relatorio_PCDT_IST_CP.pdf
  5. Centers for Disease Control and Prevention. Sexually transmitted diseases treatment guidelines, 2010 [Internet]. Atlanta: MMWR; 2010 [capturado em 30 jun. 2011]. Disponível em: http://www.cdc.gov/std/treatment/2010/STD-Treatment-2010-rr5912.pdf.