Deve-se suspender o uso de anticoncepcional hormonal combinado oral quanto tempo antes da avaliação da função ovariana?

| 27 outubro 2016 | ID: sofs-35651
Solicitante:
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Graus da Evidência:

O Ministério da Saúde recomenda a dosagem do hormônio folículo estimulante (FSH) na fase folicular precoce ao ciclo menstrual após a interrupção do anticoncepcional hormonal combinado oral (AHCO) e caso o resultado seja maior que 40 mUI/ml deve-se confirmar com nova dosagem 30 dias após a suspensão do AHCO1.


Complementação
Menopausa é um período fisiológico caracterizado pela cessação dos ciclos menstruais por um período de 12 meses ou mais. Por ter ocorrência eminentemente clínica não há, portanto, necessidade de dosagens hormonais a não ser quando a menopausa for cirúrgica e/ou houver dúvidas em relação ao quadro hormonal1.
As mulheres com boa reserva ovariana tem produção suficiente de hormônios ovarianos no início do ciclo menstrual para manter o FSH em um nível baixo. Já as mulheres com um número reduzido de folículos e oócitos têm insuficiente produção de hormônios ovarianos para proporcionar uma inibição pituitária da secreção de FSH e consequentemente há um aumento do hormônio folículo-estimulante no início do ciclo menstrual2.
A avaliação da função ovariana é indicada para mulheres com falência ovariana prematura, história familiar de falência ovariana prematura, nas pacientes jovens que serão submetidas a tratamentos para neoplasias podendo acarretar em infertilidade futuramente e nas pacientes inférteis candidatas a técnicas de reprodução assistida para avaliar o prognóstico para gestação viável.³
A dosagem do FSH é suficiente para o diagnóstico de hipofunção ou falência ovariana, quando o resultado for maior do que 40 mUI/ml. Para verificar a instalação do climatério é necessário dosar o FSH na fase folicular precoce ao ciclo que se segue à parada do anticoncepcional. Valores maiores que 40 mUI/ml sugerem falência ovariana devendo se repetir a dosagem hormonal 30 dias após a suspensão da medicação para confirmação1.
No caso de mulheres mais jovens ou as com mais de 35 anos que tenham fatores de risco para insuficiência prematura do ovário sugere-se dosar o FSH e estradiol no 3º dia do ciclo menstrual. A dosagem do FSH é um exame simples e possui baixo custo. Considera-se um valor inferior a 10 mIU / ml sugestivo de reserva ovariana adequada e níveis de 10 a 15 mIU / ml limítrofes. O limite superior para a concentração normal de FSH é laboratório dependente; valores de corte de 10 a 25 mUI / mL foram relatados por causa da utilização de diferentes padrões de referência ensaio de FSH e metodologias de ensaio. Os níveis de estradiol basais elevados devem-se ao recrutamento folicular precoce avançado que ocorre em mulheres com reserva ovariana pobre. Altos níveis de estradiol podem inibir a produção de FSH pituitária e assim mascarar um dos sinais de diminuição da reserva do ovário em mulheres na perimenopausa. Assim, a medição de ambos os níveis de FSH e estradiol ajuda a evitar ensaios FSH falso-negativo2.
Os estudos indicam que há um alto grau de atenuação das gonadotrofinas hipofisárias durante o uso do contraceptivo oral e um alto poder de recuperação da hipófise durante o tempo de pausa entre as cartelas. Tal fato indica que no período de pausa do anticoncepcional o eixo hipotálamo-hipófise não permanece bloqueado sendo importante para o clínico na identificação da falência ovariana na usuária de contraceptivo hormonal oral2-5. Estudo observou que os níveis de hormônio folículo estimulante (FSH) são significativamente suprimidos em mulheres que fazem uso de contraceptivos orais contendo estrogênio e podem não retornar aos níveis basais até duas semanas após o último comprimido ativo. Portanto, a medição do FSH durante o uso de contraceptivos orais pode não ser fiável ​​para determinar o status da menopausa4.
Um estudo indicou que para avaliar a função ovariana é mais apropriado interromper o uso de contraceptivo oral por pelo menos dois meses5. Já outro estudo sugere que a interrupção da pílula e dosagem do FSH seja feita duas a quatro semanas após o sétimo dia de interrupção da AHCO. Um nível maior ou igual a 25 UI / l indica que o paciente provavelmente entrou na transição da menopausa. No entanto, não há nenhum índice de FSH que forneça garantia absoluta de entrada na pós-menopausa6.
No estudo que avaliou os efeitos do anticoncepcional sobre a hipófise após cerca de três semanas de uso diário e após sete dias da interrupção, na semana do intervalo livre da medicação, os níveis de FSH aumentaram de 1,3 mUI/ml, no dia da ingestão do último comprimido, para 5,7 mUI/ml no sétimo dia de pausa; sendo observado um aumento acima de 400%. Já os níveis de LH aumentaram de 0,8 mUI/ml para 4,3 mUI/ml sofrendo um incremento acima de 300%. O aumento de estrogênio foi de 20,2 para 28,0 pg/ml. Os níveis de prolactina diminuíram de 12,4 para 10,2 ng/ml. Concluiu-se que a concentração sérica das gonadotrofinas nos últimos dias da cartela do anticoncepcional testado está intensamente suprimida, havendo incremento de 3 a 4 vezes nos dias de intervalo de uso7.

Atributos da APS
Longitudinalidade: o acompanhamento da paciente com falência ovariana requer uma relação pessoal de confiança e corresponsabilidade entre a paciente e a equipe de saúde. Uma boa relação médico paciente poderá contribuir para a aplicação das condutas necessárias já que se trata de um assunto que lida diretamente com questões físicas e emocionais.

Bibliografia Selecionada:

  1. Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Ações Programáticas Estratégicas. Manual de Atenção à Mulher no Climatério/Menopausa.  – Brasília : Editora do Ministério da Saúde, 2008. 192 p. Disponível em: https://www.nescon.medicina.ufmg.br/biblioteca/imagem/1934.pdf
  2. Kuohung W, Hornstein MD. Evaluation of female infertility. UptoDate [homepage na internet]. [acesso em 07 de julho de 2016]. Disponível em: http://www.uptodate.com/contents/evaluation-of-female-infertility
  3. Silva ALB, Vilodre LCF. Avaliação da reserva ovariana: métodos atuais. FEMINA 2009 Mar; 37 (3): 150-154. Disponível em: http://rpcadm.hospitalmoinhos.org.br/Arquivos/8fdfe7ac-395a-4b6f-9ecb-3be04de6c7c7.pdf
  4. Allen RH, Cwiak CA, Kaunitz AM. Contraception in women over 40 years of age. CMAJ : Canadian Medical Association Journal. 2013;185(7):565-573. Disponível em: http://www.cmaj.ca/content/185/7/565
  5. Berg MHVD, Broeder EVDD, Overbeek A, Twisk JWR, Schats R, Leeuwen FEV et al. Comparison of ovarian function markers in users of hormonal contraceptives during the hormone-free interval and subsequent natural early follicular phases. Human Reproduction 2010 Feb;25(6):1520-1527. Disponível em: http://humrep.oxfordjournals.org/content/25/6/1520.long
  6. Casper RFC. Clinical manifestations and diagnosis of menopause. UptoDate [homepage na internet]. [acesso em 07 de julho de 2016]. Disponível em: http://www.uptodate.com/contents/clinical-manifestations-and-diagnosis-of-menopause?source=see_link&sectionName=Menstrual+cycle+and+endocrine+changes&anchor=H171787387#H171787387
  7. Ferreira Dalton, Medeiros Sebastião Freitas de. Avaliação da inibição do eixo neuroendócrino com contraceptivo oral de baixa dosagem. Rev. Bras. Ginecol. Obstet.  [Internet]. 2004  July [cited  2016  June  24] ;  26( 6 ): 463-469. Available from: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0100-72032004000600007&lng=en.  http://dx.doi.org/10.1590/S0100-72032004000600007