É seguro o uso da fluoxetina na gestação e na lactação?

| 1 dezembro 2014 | ID: sofs-15292
Solicitante:
CIAP2:
DeCS/MeSH: , ,
Graus da Evidência:

Para considerar o uso de fluoxetina na gestação e lactação, é importante avaliar os riscos/benefícios do sua prescrição. De um lado, há os riscos potenciais do medicamento; de outro, há o risco de não tratar adequadamente uma gestante que necessita de um psicofármaco 1,2. Dessa forma, é indicado, com ressalvas, o uso de fluoxetina nos casos de depressão durante a gestação e lactação.
Por apresentar baixo risco obstétrico3, a Fluoxetina, pode ser indicada para tratar a depressão durante a gravidez – FDA risco C1. A concentração deste psicofármaco no leite, em geral, é baixa, porém, por haver poucos estudos sobre efeitos no lactante e no desenvolvimento da criança, recomenda-se cautela 3.
A maior preocupação do uso da fluoxetina durante a gestação e puerpério envolve os risco para o bebê, os mais frequentes, citados na literatura são: teratogênese quando usada no primeiro trimestre da gestação 4; retardo do crescimento fetal, malformações fetais e disfunções neurológicas, uso no segundo e terceiro trimestre da gestação 2,3; e toxicidade e abstinência após parto, no uso durante o terceiro trimestre, além de possíveis prejuízos ao longo do desenvolvimento e comportamento da criança 4, como: irritabilidade, choro constante, tremores, dificuldades para dormir, convulsões 2.
De outro lado, a depressão não tratada durante a gravidez pode levar ao nascimento de crianças com baixo peso ao nascer, parto prematuro, má assistência pré-natal, a incapacidade de reconhecer ou denunciar sinais de parto; um aumento do risco de abuso fetal, neonaticídio ou suicídio materno 1,2.
Desta forma, durante a gestação, a conduta recomendada é considerar se o benefício potencial á gestante justifica o risco potencial para o feto1. No pós-parto, avaliar a necessidade de ajustes na dose diária da medicação, por exemplo, a redução de dose, tendo em vista o funcionamento corporal da mulher voltando a níveis basais. Aconselha-se avaliação cardíaca e pulmonar do recém-nascido expostos no primeiro trimestre da gestação 4. (Grau de Recomendação B)
Na lactação, deve-se dar preferência para o uso da fluoxetina em dose única, logo antes da mamada que antecede o período mais longo de sono do bebê. Isso fará com que o pico da concentração do fármaco no leite incida fora do período da mamada. Em casos de recém-nascidos prematuros ou que apresentem problemas hepáticos, renais, cardíacos ou neurológicos deve-se evitar exposição à psicofármacos através da mamada 4.
Deve-se manter o acompanhamento e avaliação do recém-nascido, bem como discutir os prós e os contras com os responsáveis e manter a comunicação com o médico da Atenção Primária, caso seja detectado algum problema de comportamento ou desenvolvimento do recém-nascido que podem ou não estar associadas ao uso de psicofármacos durante a gestação 3,5.
É importante monitorar e notificar quaisquer eventos adversos envolvendo o uso de inibidores da recaptação de serotonina durante a gestação e, após o parto, em recém-nascido expostos a fluoxetina no final do terceiro trimestre1 que podem aparecer precocemente ou mesmo após alguns anos3. A decisão envolvendo gestação e uso de psicofármacos não é simples. O profissional de saúde deve basear suas decisões em evidências científicas e nas diretrizes de órgãos de regulação de medicamentos ou em consensos de especialistas, bem como discutir o caso com a equipe interdisciplinar, por exemplo o NASF, com apoio do pediatra, psicólogo e psiquiatra.
A equipe pode levar em consideração outras possibilidades de tratamento nos casos de depressão leve ou moderada. A psicoterapia pode ser um tratamento adequado, caso a situação não necessite prioritariamente de intervenção farmacológica 2.


Bibliografia Selecionada:

  1. Food and Drug Administration. FDA drug safety communication: Selective serotonin reuptake inhibitor (SSRI) antidepressant use during pregnancy and reports of a rare heart and lung condition in newborn babies. 2012. Disponível em: http://www.fda.gov/drugs/drugsafety/ucm283375.htm [Acesso em 11 jul. 2014]
  2. Yonkers KA, Wisner KL, Stewart DE et al. The management of depression during pregnancy: a report from the American Psychiatric Association and the American College of Obstetricians and Gynecologists. Obstet Gynecol. 2009; 114:703-13. Disponível em: http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC3103063/pdf/nihms293836.pdf/?tool=pmcentrez. Acesso em: 11 jul. 2014
  3. Wichman, CL. Congenital Heart Disease Associated With Selective Serotonin Reuptake Inhibitor Use During Pregnancy. Congenital heart disease associated with selective serotonin repautak. Clin Proc. 2009; 84 (1):23-27. Disponível em:  http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC2664566/. Acesso em 11 jul 2014.
  4. Botega JN (ORG). Prática psiquiátrica no hospital geral: interconsulta e emergência.3 ed, 2012, cap. 30:465-480. Disponível em: http://books.google.com.br/books?id=UCLLWcrQJWAC&printsec=frontcover&hl=pt-BR#v=onepage&q&f=false. Acesso 07 outubro 2014.
  5. Occhiogrosso M, et al. Persistent Pulmonary Hypertension of the Newborn and Selective Serotonin Reuptake Inhibitors: Lessons From Clinical and Translational Studies. Am J Psychiatry 2012;169:134-140. Disponível em: https://www.thieme-connect.com/DOI/DOI?10.1055/s-0030-1262507 . Acesso em 11 jul 2014.