Em pacientes adultos com sequelas de hanseníase que apresentam escaras de decúbito o tratamento para estas escaras é o convencional?

| 6 agosto 2009 | ID: sofs-2146
Solicitante:
CIAP2:
DeCS/MeSH: , , ,
Recorte Temático: ,

Sim, o tratamento é o convencional, mas a hanseníase interfere no processo de cicatrização das úlceras, porém os profissionais da equipe multiprofissional devem estar atentos à identificação dos diversos fatores que podem interferir na cicatrização e identificar as diferenças entre a pele íntegra e a lesada destacando sempre, a importância da prevenção de traumas, ulcerações e consequentes incapacidades.
As úlceras podem ser classificadas, quanto a causa, em: cirúrgicas, não cirúrgicas; segundo o tempo de reparação, em agudas e crônicas, e, de acordo com a profundidade, em relação a extensão da parede tissular envolvida (epiderme, derme, subcutâneo e tecidos mais profundos, como músculos, tendões, ossos e outros), em graus, I, II, III e IV.
Grau I: ocorre um comprometimento da epiderme; a pele se encontra íntegra, mas apresenta sinais de hiperemia, descoloração ou endurecimento.
Grau II: ocorre a perda parcial de tecido envolvendo a epiderme ou a derme; a ulceração é superficial e se apresenta em forma de escoriação ou bolha.
Grau III: existe comprometimento da epiderme, derme e hipoderme (tecido subcutâneo).
Grau IV: comprometimento da epiderme, derme, hipoderme e tecidos mais profundos.
As orientações a seguir se fazem necessárias para realização de todo e qualquer curativo e em qualquer tipo de lesão.
O soro fisiológico sempre deve estar aquecido entre 35º e 37°C, As soluções utilizadas devem ser, preferencialmente aquecidas para evitar a redução da temperatura no leito da ferida. Uma temperatura constante de 37º C estimula a mitose durante a granulação e epitelização. Alguns autores descrevem um aumento significativo na atividade mitótica em feridas cujo curativo mantinha a temperatura próxima da temperatura corporal.
Deve-se lavar o local irrigando soro fisiológico sobre a ferida, fazer somente um furo no frasco de soro com agulha 12×30. Estudos comprovaram que a utilização da “técnica do chuveirinho” retardava a cicatrização provocando uma limpeza agressiva na ferida, dificultando assim a reconstituição dos tecidos que cobrem o leito da ferida.
A técnica de curativos pode ocasionar trauma mecânico, provocado pela limpeza agressiva (atrito com gaze, jatos líquidos com excesso de pressão), coberturas secas aderidas ao leito da ferida e/ou inadequadas que interferem no processo da cicatrização retardando a cura.
No que tange aos agentes tópicos os estudos comprovam que vários produtos estudados apresentaram melhora na cicatrização das lesões, a seguir apresentamos alguns deles e seu Grau de Evidência. Para utilização destes produtos será necessária a avaliação do profissional (em que grau a úlcera ou a ferida se encontra) condições financeiras do paciente ou dos insumos que a unidade disponha.

Agentes Tópicos
AGE/TCM
Grau de evidência: B
Mecanismo de ação: Mantém o leito da ferida úmida e aceleram o processo de granulação.
Indicações: Lesões abertas não infectadas. Profilaxia de úlcera de pressão
Frequência de troca: Em média 12h.

Alginato de Cálcio
Grau de evidência: B, C
Mecanismo de ação: Alta capacidade de absorção
Indicações: Feridas com exudação abundante com ou sem infecção. Feridas cavitarias.Feridas sanguinolentas.
Frequência de troca: Mediante saturação do curativo em média com 24h.

Carvão Ativado
Grau de evidência: D
Mecanismo de ação: –
Indicações: Feridas fétidas infectadas ou com grande quantidade de exudato.
Frequência de troca: Segundo a saturação em média 48h a 72h pode ser associado a outros produtos como
AGE e Alginato de cálcio.

Filme Transparente
Grau de evidência: A, B
Mecanismo de ação: Mantém o leito da ferida úmida e apresenta permeabilidade seletiva. É transparente e
aderente a superfícies secas.
Indicações: Cobertura de incisões cirúrgicas. Prevenção de úlceras de pressão. Fixação de cateteres
vasculares.
Frequência de troca: Em média a cada sete dias

Hidrocolóides
Grau de evidência: B
Mecanismo de ação: –
Indicações: Feridas limpas com média e pequena quantidade de exudato. Prevenção de úlceras de pressão. Queimaduras de segundo grau.Coberturas de incisões, suturas cirúrgicas, e na fixação de tubos e drenos poderão ser utilizados hidrocolóides de espessura extrafina. Feridas cavitárias podem ser utilizadas hidrocolóides em forma de pasta ou grânulos.
Frequência de troca: Com a saturação do produto em média no quinto ou sexto dia. Neste caso o hidrocoloide adquire uma coloração mais clara e consistência menos densa.

Soro Fisiológico
Grau de evidência: B
Mecanismo de ação: Favorece o processo de autólise do tecido desvitalizado e a formação do tecido de
granulação
Indicações: É indicado tanto para a limpeza da ferida como para o tratamento.
Frequência de troca: Conforme a saturação do curativo e em média a cada 4 horas.

Categoria da Evidência: Grau A, B, C e D
A – Estudos experimentais ou observacionais de melhor consistência
B – Estudos experimentais ou observacionais de menor consistência
C – Relatos de casos estudos não controlados
D – Opinião desprovida de avaliação crítica, baseada em consensos, estudos fisiológicos ou modelos animais

 

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Bibliografia Selecionada:

  1. Duncan BB,Schmidt MI, Giugliani ERJ. Medicina ambulatorial: condutas de atenção primária baseadas em evidências, 3a ed. Porto Alegre: Artmed; 2004.
  2. Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Políticas de Saúde. Departamento de Atenção Básica. Área Técnica de Dermatologia Sanitária. Manual de condutas para úlceras neurotróficas e traumáticas. Brasília: Ministério da Saúde; 2002. (Série J. ; Cadernos de Reabilitação em Hanseníase No. 2). Disponível em: http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/manual_feridas_final.pdf. Acesso em: 12 maio 2015
  3. Santos VLCG. Avanços tecnológicos no tratamento de feridas e algumas aplicações em domicílio. In: Duarte YAO, Diogo MJD. Atendimento domiciliar: um enfoque gerontológico. São Paulo: Atheneu; 2000. p. 265- 305.