O que é hérnia hiatal e como realizar o acompanhamento nutricional nesses casos?

| 15 setembro 2015 | ID: sofs-21798
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Habitualmente, todo o estômago encontra-se abaixo do diafragma, na cavidade abdominal. A hérnia do hiato caracteriza-se pelo deslizamento de uma porção do estômago para o tórax, através do hiato do diafragma1. O tipo mais comum de hérnia hiatal é a hérnia por deslizamento e a forma menos comum é a hérnia paraesofágica2.

A hérnia de hiato pode ocorrer por fraqueza do diafragma, que permite a passagem de parte do estômago pelo hiato; por traumatismo torácico ou abdominal; ou, ainda, por pressão excessiva e mantida dos músculos adjacentes causada, por exemplo, por tosse, espirros, esforço defecatório ou levantamento de pesos1. Sua ocorrência é mais comum em pessoas idosas e portadoras de obesidade1.

Uma hérnia de hiato de pequenas dimensões habitualmente não resulta em sintomas. Em tamanhos maiores, pode causar alteração dos mecanismos de proteção contra a passagem do ácido gástrico para o esôfago, causando sintomatologia de doença de refluxo gastro-esófágico1. Uma hérnia de grandes dimensões pode, ainda, causar dificuldade na passagem dos alimentos (disfagia) e, nesse caso, devem ser feitas orientações adequadas à condição clínica do paciente1.


Apesar de não ser sinônimo de refluxo, a presença de hérnia hiatal aumenta o risco de sua ocorrência, independente da baixa pressão do esfíncter inferior do esôfago2,3. Pacientes com refluxo patológico têm falha de propulsão esofágica e/ou defeito mecânico da cárdia associado à hérnia hiatal (B)3. Nesses casos, o acompanhamento nutricional deve objetivar a redução dos sintomas. A terapia é similar àquela para Doença de Refluxo Gastroesofágico (DRGE) e esofagite, caracterizando-se, em geral, por: consumo de refeições menores, de baixo teor de gordura e evitando-se os alimentos e bebidas que podem aumentar as secreções gástricas ou reduzir a pressão do esfíncter esofágico inferior, como chocolate, cafeína, bebidas alcoólicas e alimentos picantes2,3. A cirurgia não é sempre indicada nos casos de hérnia hiatal, pois o controle dos sintomas através de medicações e mudança alimentar é geralmente preferido2.

Após ampla revisão em literatura realizada pela Federação Brasileira de Gastroenterologia et. al, foram descritas as seguintes evidências científicas a serem consideradas para o tratamento não farmacológico da DRGE4:

– O tabagismo é fator de risco para DRGE não erosiva (B) e para sintomas de refluxo (B);

– O consumo frequente de álcool é fator de risco para sintomas de refluxo (B);

– O consumo de café está associado à DRGE (B);

– Os episódios de DRGE são desencadeados pelo estresse e fadiga (B);

– Os episódios de DRGE são desencadeados pela postura, sendo que trabalhar em posição inclinada é fator de risco para DRGE não erosivo (B);

– A alimentação noturna, quanto mais tardia, produz maior índice de refluxo, principalmente em obesos e com DRGE erosiva (B). Pequeno espaço entre jantar e deitar está associado a aumento do risco de DRGE, sobretudo com tempo menor do que 3 horas (B);

– O consumo de doces e pão branco está associado a sintomas de refluxo (B);

– O consumo excessivo de alimentos e de doces está associado com DRGE (B).

– A obesidade predispõe ao refluxo gastroesofágico e a perda de peso produz melhora do refluxo pós-prandial e reduz o tempo de pH < 4 (B);

– A ingestão de proteínas está associada à DRGE erosiva, e de fibras, a menor risco de DRGE (B);

– O consumo de frutas tem efeito protetor nos sintomas de refluxo (B);

– A dieta rica em gordura não aumenta o número de episódios de refluxo, nem a exposição esofágica ácida (B), contrariando a indicação anteriormente colocada por outra literatura, o que pode indicar que não há consenso sobre essa questão;

– A elevação da cabeceira da cama (28 cm) reduz o número de episódios de refluxo e o tempo de pH < 5 (B);

– Atividade física parece ter efeito protetor com relação à DRGE (B).

Após a revisão realizada, os autores concluíram que, apesar do excesso de peso (IMC > 25), do tabagismo, do consumo de álcool, café, doces, proteínas, de excesso alimentar, de postura inclinada, do estresse e da fadiga estarem associados à DRGE, não há informação consistente definindo que a resolução desses fatores é seguida de resolução ou melhora da DRGE4. No entanto, a elevação da cabeceira da cama e a alimentação noturna seguidas do deitar-se mais tarde são medidas que reduzem a exposição ácida esofágica4.

O conhecimento das recomendações atuais para tratamento da DRGE deve subsidiar o trabalho das equipes de saúde no âmbito da Atenção Básica em relação ao acompanhamento de pessoas com hérnia hiatal, inclusive como mecanismo de incentivo à promoção de mudanças nos estilos de vida, observando-se necessidades e possibilidades de mudanças a fim de buscar a produção de um cuidado integral.

Bibliografia Selecionada:

  1. Endoscopia Digestiva SB. Hérnia de hiato. Disponível em http://sped.pt/index.php?option=com_k2&view=item&id=720:h%C3%A9rnia-do-hiato&Itemid=493 [acesso em 31 julho 2015].
  2. Mahan LK, Escott-Stump S. Krause. Alimentos, nutrição e dietoterapia. São Paulo: Roca; 2005.
  3. Guimarães EV, Marguet C, Camargos PAM. Tratamento da doença do refluxo gastroesofágico. J. Pediatr., v. 82, n. 2, 2006. Disponível em http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0021-75572006000700003&script=sci_arttext [acesso em 27 agosto 2015].
  4. Gastroenterologia FB, Endoscopia Digestiva SB, Cirurgia Digestiva CB et. al. Diretrizes em foco – Doenças do refluxo gastroesofágico: tratamento não farmacológico. Elsevier Editora Ltda. Disponível em http://www.scielo.br/pdf/ramb/v58n1/v58n1a09.pdf [acesso em 21 julho 2015].