O tratamento para hanseníase, interfere na eficácia dos contraceptivos? Quais as melhores opções?

| 10 novembro 2017 | ID: sofs-37174
Solicitante:
CIAP2:
DeCS/MeSH: , ,
Recorte Temático:

Pode haver sim essa interferência, especialmente devido ao uso da Rifampicina, droga  comumente utilizada no esquema padrão da hanseníase e também da tuberculose.


A Rifampicina apresenta um grande número de interações medicamentosas. O fármaco é um potente indutor do sistema citocromo P450 (CYP450), incluindo as subfamílias CYP3A e CYP2C, que representam mais de 80% das isoenzimas da CYP450. Por esse motivo, sua administração resulta em diminuição do tempo de meia vida para uma série de compostos que são metabolizados total ou parcialmente por estes CYPs. Além disso, a rifampicina também induz a UDP-glicuronil transferase, outra enzima implicada no metabolismo de diversos medicamentos que podem ter seus níveis plasmáticos reduzidos quando administrados concomitantemente.
A possibilidade das interações medicamentosas com a rifampicina requer uma anamnese terapêutica rigorosa em relação aos medicamentos em uso sempre que for prescrita. Dentre essas interações, a que ocorre com contraceptivos deve ser sempre lembrada.
A melhor estratégia contraceptiva sempre irá depender de considerações sobre o momento de vida e preferências pessoais da paciente e/ou casal em questão. Essa avaliação precisa considerar também outros fatores que possam influir na indicação ou contraindicação do método – afora o tratamento para a hanseníase – como: tabagismo, obesidade, alergias e hipertensão.
Excluindo essas questões, temos a seguinte orientação para pacientes em uso de Rifampicina:
a) Poderiam ser usados em qualquer circunstância (classe de indicação 1):
-Anticoncepcionais injetáveis de progestágeno trimestrais (“Depo-provera”);
-DIU com Levonorgestrel
-DIU de cobre;
-Espermicida;
-Diafragma
-É importante lembrar que o uso de preservativo (masculino ou feminino) deve ser sempre encorajado, pois além de atuar no planejamento familiar, previne doenças sexualmente transmissíveis
b)anticoncepcionais injetáveis combinados mensais (como a “Mesigyna”) teriam categoria de indicação 2, isso é, em geral, seu uso é permitido.
c)Contraceptivos hormonais orais combinados e pílulas com apenas progesterona geralmente não são recomendados. Exceção feita para quando outros métodos indicados não estejam disponíveis ou não sejam aceitáveis (categoria 3 de indicação). Se a opção tomada em conjunto com a paciente for o uso de anticoncepcional hormonal, a pílula deve ter concentrações mais expressivas de estrógeno. A Organização Mundial da Saúde em sua última recomendação (2) sugere que preparações com “pelo menos” 30 μg deveriam ser utilizadas.

Bibliografia Selecionada:

1. Brasil. Ministério da Saúde. Protocolos da Atenção Básica : Saúde das Mulheres / Ministério da Saúde, Instituto Sírio-Libanês de Ensino e Pesquisa – Brasília : Ministério da Saúde, 2016. 230 p. : il. Disponível em: http://189.28.128.100/dab/docs/portaldab/publicacoes/protocolo_saude_mulher.pdf
2. Medical Eligibility Criteria for Contraceptive Use. 5th edition. Geneva: World Health Organization; 2015. II, Using the recommendations. Available from: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/books/NBK321153/
3. Arbex MA, Varella MCL, Siqueira HR, Mello FAF. Drogas antituberculose: interações medicamentosas, efeitos adversos e utilização em situações especiais – parte 1: fármacos de primeira linha. J. bras. pneumol. [Internet]. 2010 Oct [cited 2017 Nov 10] ; 36( 5 ): 626-640. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1806-37132010000500016&lng=pt. http://dx.doi.org/10.1590/S1806-37132010000500016