Por que os diabéticos são mais vulneráveis à amputação de dedos, pés ou pernas?

| 29 julho 2015 | ID: sofs-21582
CIAP2:
DeCS/MeSH: ,
Graus da Evidência:

Os diabéticos são mais vulneráveis a amputação de membros inferiores, pois o Diabetes Mellitus é uma doença metabólica crônica e se caracteriza por uma variedade de complicações, entre as quais se destaca o pé diabético, considerado um problema grave e com consequências muitas vezes devastadoras diante dos resultados das ulcerações, que podem implicar em amputação de dedos, pés ou pernas. (1).

A neuropatia diabética, que é quando os nervos responsáveis pela nossa sensação de dor e tato estão afetados pelo diabetes, pode causar perda da sensibilidade protetora dos pés, deixando-os mais sujeitos a machucados, feridas ou até mesmo amputação de parte dos membros inferiores (dedos, pés, perna) (2).

O ACS tem atribuições bastante específicas com relação aos pacientes com diabetes mellitus (3):

– Registrar, em sua ficha de acompanhamento, o diagnóstico de diabetes de cada membro da família.
– Encorajar uma relação paciente-equipe colaborativa, com participação ativa do paciente e, dentro desse contexto, ajudar o paciente seguir as orientações alimentares, de atividade física e de não fumar, bem como de tomar os medicamentos de maneira regular.
– Estimular que os pacientes se organizem em grupos de ajuda mútua, como, por exemplo, grupos de caminhada, trocas de receitas, técnicas de auto-cuidado, entre outros.
– Questionar a presença de sintomas de elevação e/ou queda do açúcar no sangue aos pacientes com diabetes identificado, e encaminhar para consulta extra.
– Verificar o comparecimento dos pacientes com diabetes às consultas agendadas na unidade de saúde (busca ativa de faltosos).


Complementação – O diabetes mellitus (DM) é um dos problemas de saúde mais importantes da atualidade, por ser uma doença com elevada morbidade e mortalidade (1). É uma doença crônica, autoimune, caracterizada pela deficiência da produção de insulina pelo organismo. O problema envolve o metabolismo da glicose no sangue, podendo ser apresentado de várias maneiras (4).

Diabetes tipo 1 é em geral abrupta, acometendo principalmente crianças e adolescentes sem excesso de peso. Na maioria dos casos, a hiperglicemia é acentuada, evoluindo rapidamente para cetoacidose, especialmente na presença de infecção ou outra forma de estresse (4).

O DM tipo 2 costuma ter início insidioso e sintomas mais brandos. Manifesta-se, em geral, em adultos com longa história de excesso de peso e com história familiar de DM tipo 2. No entanto, com a epidemia de obesidade atingindo crianças, observa-se um aumento na incidência de diabetes em jovens, até mesmo em crianças e adolescentes (5).

O diabetes apresenta alta morbimortalidade, com perda importante na qualidade de vida. Está associado à hiperglicemia e a um maior risco de eventos cardiovasculares, alterações renais e oftalmológicas, neuropatia periférica, úlceras e amputações de membros inferiores (6).

Úlceras de pés e amputação de extremidades são as complicações mais graves. Sua prevenção primária visa prevenir neuropatia e vasculopatia. O monitoramento de um conjunto de fatores que eleva o risco de úlcera e amputação de extremidades, tornando sua prevenção mais custo-efetiva. Para tanto, os seguintes pontos são fundamentais (7):

1. Avaliar os pés dos pacientes anualmente quanto a:

• História de úlcera ou amputação prévia, sintomas de doença arterial periférica, dificuldades físicas ou visuais no cuidados dos pés.
• Deformidades dos pés (pé em martelo ou dedos em garra, proeminências ósseas) e adequação dos calçados; evidência visual de neuropatia (pele seca, calosidade, veias dilatadas) ou isquemia incipiente; deformidades ou danos de unhas.

2. Discutir a importância dos cuidados dos pés como parte de programa educativo para prevenção de úlcera e amputação.

3. Negociar um plano de cuidado baseado nos achados clínicos e da avaliação de risco.

4. Oferecer apoio educativo para cuidados dos pés de acordo com as necessidades individuais e o risco de úlcera e amputação.

5. Avaliar o risco do paciente de acordo com os achados clínicos.

6. Planejar intervenções baseadas nas categorias de risco.

Classificação de risco do pé diabético (7)

– Sem risco adicional: sem perda de sensibilidade; sem sinais de doença arterial periférica, sem outros fatores de risco.
– Em risco: presença de neuropatia; um único outro fator de risco.
– Alto risco: diminuição da sensibilidade associada à deformidade nos pés ou evidência de doença arterial periférica; ulceração ou amputação prévia (risco muito elevado).
– Com presença de ulceração ou infecção: ulceração presente.

Atributos da APS – O cuidado com o diabetes normalmente é complexo e demorado, baseado em muitas áreas do cuidado à saúde. As mudanças de estilo de vida necessárias, a complexidade do manejo e os efeitos adversos do tratamento fazem do autocuidado e da educação para as pessoas com diabetes peças centrais no manejo (coordenação do cuidado) (6).

Anualmente devem ser reforçadas as medidas para o controle glicêmico, tanto não farmacológicas (dieta saudável, atividade física regular e cessação do tabagismo), quanto farmacológicas (adesão ao tratamento, uso de antidiabéticos orais e aplicação de insulina quando necessário). Sessões individuais ou material informativo devem ser oferecidos às pessoas incapazes ou não dispostas a participar de atividades em grupo (acesso, integralidade, longitudinalidade, coordenação dos cuidados, orientação comunitária) (6).

Educação em Saúde – Orientações educacionais básicas para cuidados dos pés (7):

– Examinar os pés diariamente. Se necessário, pedir ajuda a familiar ou usar espelho;
– Avisar o médico se tiver calos, rachaduras, alterações de cor ou úlceras;
– Vestir sempre meias limpas, preferencialmente de lã, algodão, sem elástico;
– Calçar sapatos que não apertem, de couro macio ou tecido. Não usar sapatos sem meias;
– Sapatos novos devem ser usados aos poucos. Usar inicialmente, em casa, por algumas horas por dia;
– Nunca andar descalço, mesmo em casa;
– Lavar os pés diariamente, com água morna e sabão neutro. Evitar água quente. Secar bem os pés, especialmente entre os dedos;
– Após lavar os pés, usar um creme hidratante á base de lanolina, vaselina liquida ou glicerina. Não usar entre os dedos;
– Cortar as unhas de forma reta, horizontalmente;
– Não remover calos ou unhas encravadas em casa; procurar equipe de saúde para orientação.

10 Coisas que Você Precisa Saber Sobre Diabetes (8) – http://www.endocrino.org.br/10-coisas-que-voce-precisa-saber-sobre-diabetes/

SOF relacionadas:

 

  1. Qual profissional de saúde tem competência para avaliação do pé diabético com uso de estesiômetro?
  2. Como avaliar os pés dos pacientes diabéticos? É indispensável usar monofilamento para testar sensibilidade?
  3. O que é membro fantasma pós-amputação de pé diabético e quais orientações podem ser dadas ao paciente e seus familiares?

Bibliografia Selecionada:

  1. Hirota CMO; Haddad MCL; Guariene MLDM. Pé diabético: o papel do enfermeiro no contexto das inovações terapêuticas. Cienc Cuid Saude. 2008; 7(1): 114 –120. Disponível em: http://periodicos.uem.br/ojs/index.php/CiencCuidSaude/article/view/4955/3218. Acesso em: 29 julho 2015.
  2. Pharm H; Amstrong DG; Harvey C. Screening techniques to idenfity people at high risk for diabetic foot ulceration. Diabetes Care, 2000; 23: 606-11. Disponível em: http://care.diabetesjournals.org/content/23/5/606.long. Acesso em: 29 julho 2015.
  3. Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia. Diabetes. Disponível em: http://www.endocrino.org.br/diabetes/. Acesso em: 10 outubro 2014.
  4. Brasil. Ministério da Saúde. Estratégias para o cuidado da pessoa com doença crônica: diabetes mellitus. Brasília: Ministério da Saúde, 2013. (Cadernos de Atenção Básica, n. 36). Disponível em: http://dab.saude.gov.br/portaldab/biblioteca.php?conteudo=publicacoes/cab36. Acesso em: 10 outubro 2014.
  5. Telessaúde RS. Materiais de Apoio. Diabetes Mellitus. Disponível em: https://plone.ufrgs.br/telessauders/materiais/publicacoes-dab-ministerio-da-saude/guias-de-referencia-rapida-subpav-rio/diabetes-mellitus/view. Acesso em: 10 outubro 2014.
  6. Brasil. Ministério da Saúde. Estratégias para o cuidado da pessoa com doença crônica: diabetes mellitus. Brasília: Ministério da Saúde, 2013. (Cadernos de Atenção Básica, n. 36). Disponível em: http://dab.saude.gov.br/portaldab/biblioteca.php?conteudo=publicacoes/cab36. Acesso em: 10 outubro 2014.
  7. Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia. 10 Coisas que Você Precisa Saber Sobre Diabetes. Disponível em: http://www.endocrino.org.br/10-coisas-que-voce-precisa-saber-sobre-diabetes/. Acesso em: 10 outubro 2014.