Quais as evidências científicas para o uso da Espinheira Santa no tratamento de úlcera gástrica?

| 14 outubro 2015 | ID: sofs-22011
Solicitante:
CIAP2: ,
DeCS/MeSH: ,

A Maytenus ilicifolia Mart. ex Reissek, conhecida popularmente como espinheira santa, pode ser utilizada nas gastrites, dispepsias e no tratamento coadjuvante de úlceras pépticas. Atua como reguladora das funções estomacais e promove a proteção da mucosa gástrica1,2,3.

Em revisão realizada sobre as propriedades farmacológicas da Maytenus ilicifolia Mart. ex Reissek, há relato de dois ensaios clínicos sobre a atividade da planta em pacientes com dispepsias e úlcera péptica. Em uma das pesquisas, os pacientes que utilizaram liofilizados (ausência de água, e bactérias no extrato) de espinheira santa apresentaram melhora significativa da sintomatologia dispéptica global e dos sintomas de azia e gastralgia, comparado ao grupo placebo. O segundo estudo investigou vinte pacientes portadores de úlcera péptica, os quais dez receberam tratamento com cápsulas diárias de liofilizado de espinheira santa e dez receberam placebo. Devido ao número de desistências e a cicatrização de úlceras também ter ocorrido no grupo placebo os resultados não foram estatisticamente relevantes. Ressalta-se a necessidade do aprofundamento das pesquisas clínicas em um maior número de pacientes que deverá ser observado por um período de 4 a 6 meses para que se possa ter uma resposta conclusiva sobre o efeito cicatrizante da espinheira-santa, já que os estudos de farmacologia pré-clínica são positivos2.


Além da Maytenus ilicifolia Mart. ex Reissekexistem outras espécies conhecidas popularmente como espinheira santa conforme se observa no quadro abaixo:

Nome científico Nome popular Uso popular Partes usadas Via, Forma de utilização posologia e modo de usar Efeitos adversos e toxicologia Contra-indicação
Espinheira-santa Azia, dispepsias, úlceras Folhas Infusão com uma colher de sobremesa de folhas em uma xícara de água quente 3 vezes ao dia Pode diminuir a produção de leite

 

Evitar em grávidas e lactantes.

 

Maytenus aquifolia

Família: Celastraceae

Espinheira-santa Azia, dispepsias, úlceras, mesmo uso da M. ilicifolia

 

Folhas Infusão com uma colher de sobremesa de folhas em uma xícara de água quente 3 vezes ao dia Pode diminuir a produção de leite

 

Evitar em grávidas e lactantes.

 

Zollernia ilicifolia (Brongn) Vog.

Família: Fabaceae

Espinheira-santa Azia, gastrites

 

Folhas Infusão com uma colher de sobremesa em uma xícara de água quente Não há estudos, relatos sugerem cautela no uso Por falta de estudos é melhor evitar uso em grávidas
Sorocea bonplandii (Baill.) W.C. Burger,Lanj.& Wess.Boer

Família: Moraceae

Espinheira santa, chincho, folha da serra, ñanboyta Azia, gastrites Folhas Infusão da folha Não há relatos Não há relatos

 

Como não há muitos estudos da utilização das outras espécies de espinheira santa optou-se for dar ênfase aos aspectos terapêuticos e toxicológicos da Maytenus ilicifoliaMart. ex Reissek..As ações dessa plantana úlcera péptica e gastrite envolvem mais de um mecanismo de ação e não se deve somente a um princípio ativo específico, mas a diferentes fitocomplexos, dentre esses, pode-se citar os terpenos, taninos, ácidos fenólicos e flavonoides2.

Modo de uso (pessoas acima de 12 anos)

Infuso: tomar 150 mL (3g das folhas secas em 150ml de água) logo após o preparo, três a quatro   vezes ao dia1.

Cápsulas: Tomar 2 cápsulas 3x ao dia (padronização de 13,3mg de taninos totais por cápsula) dose diária de 60 a 90 mg de taninos totais expressos em pirogalol4.

Tintura: tomar 10 a 20mL (da tintura a 20%) dividido em 2 ou 3 doses, diluído  em água5.

Contra-indicações:

Pacientes com histórico de hipersensibilidade e alergia a Maytenus ilicifolia Mart. ex Reissek. O infuso ou medicamento fitoterápico não é recomendado durante a lactação e a gravidez, pois diminui a produção de leite e pode provocar contrações uterinas4. Não há relatos na literatura de interações medicamentosas6.

É importante lembrar que os medicamentos fitoterápicos a base de M. ilicifolia fazem parte da Relação Nacional de Medicamentos Essenciais (RENAME). As formas farmacêuticas recomendadas são: cápsula, emulsão, solução oral e tintura, logo, as equipes de saúde podem inclui-los na Relação Municipal de Medicamentos Essenciais (REMUME) e adquiri-los pelo componente básico da Assistência Farmacêutica3.

A recomendação da utilização da Maytenus ilicifolia Mart. ex Reissek em pacientes com úlcera gástrica mostra-se favorável, possui baixa densidade tecnológica, fácil acesso e baixo custo, além de valorizar o saber popular, corroborando o princípio da integralidade da atenção. Ressalta-se a importância da educação permanente na atualização periódica de evidências clínicas que corroborem a etnofarmacologia da planta.

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Bibliografia Selecionada:

  1. Brasil. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Farmacopeia Brasileira. Formulário Fitoterápico Nacional. Disponível em: http://www.anvisa.gov.br/hotsite/farmacopeiabrasileira/conteudo/Formulario_de_Fitoterapicos_da_Farmacopeia_Brasileira.pdf [Acesso em: 09 abr 2014]
  2. Santos-Oliveira R, Coulaud-Cunha S, Colaço W. Revisão da Maytenus ilicifolia Mart. ex Reissek, Celastraceae. Contribuição ao estudo das propriedades farmacológicas. Rev. bras. farmacogn. 2009; 19(2b): 650-659. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/rbfar/v19n2b/a25v192b.pdf [ Acesso em: 11 fev 2015].
  3. Brasil. Ministério da Saúde. Relação Nacional de medicamentos (RENAME). Disponível em:http://crfsc.org.br/nv/images/stories/principal/pdf/anexos_rename_2012_pt_533_30_03_12.pdf  [Acesso em: 09 abr 2014]
  4. BRASIL. Ministério da Saúde. Agência nacional de Vigilância Sanitária. Instrução normativa n° 02 de 13 de maio de 2014. Diário Oficial. República Federativa do Brasil, Brasília, DF, 2014.
  5. Índice terapêutico fitoterápico. Espinheira Santa. p. 153-154, Petrópolis : EPUB, 2008.
  6. Nicoletti MA, Oliveira Júnior MA, Bertasso CC, Caporossi PY, Tavares APL. Principais interações no uso de medicamentos fitoterápicos. Infarma. 2007; 19 (2):32-40 Disponível em: http://www.cff.org.br/sistemas/geral/revista/pdf/10/infa09.pdf