Quais os riscos associados ao uso inadequado de anabolizantes?

| 10 maio 2017 | ID: sofs-36115
Solicitante:
CIAP2:
DeCS/MeSH: , ,
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Recorte Temático:

Atualmente, o mundo tem vivido um momento do culto exagerado ao corpo e à estética, onde tem se observado um aumento das cirurgias plásticas, aumento crescente dos frequentadores de academias de ginástica e a venda de cosméticos e produtos para emagrecer são constantes. Aliado a isso, tem-se observado um consumo exagerado de substâncias lícitas e ilícitas o que contribui ainda mais para o agravamento da situação[1]. Nos dias atuais observa-se que um novo mito tem se incorporado às práticas esportivas, agravando ainda mais o consumo exagerado dessas substâncias, o de que substâncias diversas estão disponíveis para ganho de massa muscular e consequente melhoria do rendimento e do desempenho físico. Entre elas os esteroides androgênicos anabolizantes [1].
Os riscos associados ao uso de anabolizantes incluem: tremores, aparecimento de acne grave, retenção hídrica, dores nas articulações, aumento da pressão sanguínea, alteração do metabolismo do colesterol (diminuindo o HDL e aumentando o LDL com elevação do risco de doenças coronarianas), alterações nos testes de função hepática, icterícia e tumores no fígado, policitemia, exacerbação da apneia do sono, estrias e maior tendência às lesões do aparelho locomotor (pois as articulações não estão aptas para o aumento de força muscular). Além disso, os indivíduos que fazem o uso de anabolizantes injetáveis correm o risco de compartilhar seringas contaminadas e se infectar com HIV hepatite B ou C [1,2].


A atrofia do volume testicular, redução da contagem de espermatozoides, impotência, infertilidade, calvície, oligúria e disúria, hipertrofia da próstata e desenvolvimento de mama com ginecomastia nem sempre reversível, são riscos muito comuns na população masculina Na mulher a ocorrência do crescimento de pelos com distribuição masculina, alterações ou ausência de ciclo menstrual, hipertrofia do clitóris, voz grave e diminuição de seios (atrofia do tecido mamário) também é comum.
No adolescente é comum ocorrer a maturação esquelética precoce com fechamento prematuro das epífises ósseas, baixa estatura e puberdade acelerada, levando a crescimento dismórfico [1,2].
Além de todos esses riscos, o abuso de anabolizantes pode causar problemas emocionais como variação de humor, incluindo agressividade e raiva incontroláveis, e levar a episódios violentos como suicídios e homicídios, principalmente conforme a frequência e o volume utilizado.
Usuários apresentam sintomas depressivos de síndrome de abstinência ao interromper o uso, o que pode contribuir para a dependência. Ainda podem experimentar ciúme patológico, quadros maníacos e esquizofrenoides, extrema irritabilidade, ilusões (podendo haver uma distorção de julgamento em relação aos sentimentos e invencibilidade), distração, confusão mental e esquecimentos, além de alterações da libido e suas consequências [1,2].
Os esteroides anabolizantes são derivados sintéticos da testosterona que funcionam como esteroides produzidos pelos próprios seres humanos [2]. Podem ser classificados em androgênicos e corticoides. Aqueles usados indevidamente são, na maioria, esteróides androgênicos (que agem como testosterona).
Os esteroides usados para tratamentos de reações inflamatórias são os corticoides (prednisolona, cortisona, beclometasona, budesonida, dexametasona e vários outros), e todos têm diferentes graus de efeitos anabólicos. Os esteroides androgênicos, secretados pelas glândulas suprarrenais ou pelos testículos, são hormônios sexuais masculinos, que incluem a testosterona, a diidrotestosterona e a androstenediona [1]. Inicialmente, seu uso terapêutico restringia-se basicamente ao tratamento de pacientes queimados, deprimidos, em recuperação de grandes cirurgias e também para restaurar ou restabelecer o peso corporal dos sobreviventes dos campos de concentração durante a 2ª guerra mundial (HARTGENS; KUIPERS, 2004; FERREIRA et al., 2007).
Atualmente, estão sendo empregados terapeuticamente no tratamento de diversas condições clínicas, como AIDS, alguns tipos de anemia, cirrose hepática, alguns tipos de câncer, osteoporose, entre outras. Os pacientes com deficiências hormonais, queimaduras severas e disfunções que estão associadas, principalmente, ao catabolismo do tecido muscular esquelético também têm apresentado boas resposta [2].
A testosterona, proveniente do colesterol, é produzida, nos homens, principalmente nos testículos, e uma pequena quantidade, nas glândulas adrenais. A testosterona e seus metabólitos, como a diidrotestosterona, agem em várias partes do corpo humano produzindo as características sexuais masculinas secundárias (calvície, pelos no rosto e no corpo, voz grossa, maior massa muscular, pele mais grossa e maturidade dos genitais); na puberdade, produz acne, crescimento peniano e testicular (em relação a comprimento e diâmetro) e fusão da epífise óssea, cessando assim o crescimento em altura [1].
A produção normal no homem adulto é de cerca de 4 a 9 mg por dia, podendo ser aumentada pelo estímulo do exercício físico intenso. As mulheres produzem somente 0,5mg de testosterona/dia, daí a dificuldade em adquirir massa muscular [1]. Contudo, a maioria dos efeitos colaterais advém do uso indiscriminado, abusivo e não terapêutico, com dosagens que costumam ultrapassar a dosagem terapêutica em até 100 vezes [2].

Atributos da APS

É importante que os profissionais da saúde que atendem os adolescentes estejam atentos ao fato e questionem, durante a entrevista, o uso dessas substâncias. Os profissionais da saúde devem sempre debater valores pré-concebidos de nossa sociedade, racionalizando o culto ao corpo e trabalhando o resgate da prudência e a prevenção dos riscos à saúde.

Bibliografia Selecionada:

1. Machado AG, Ribeiro PCP. Anabolizantes e seus riscos. Adolesc Saude. 2004;1(4):20-22. Disponível em: http://www.adolescenciaesaude.com/detalhe_artigo.asp?id=201
2. Odilon Salim Costa Abrahin; Evitom Corrêa de Sousa. Androgenic anabolic steroids and side effects: a critical scientific review. Rev. educ. fis. UEM vol.24 no.4 Maringá Oct./Dec. 2013. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1983-30832013000400014