Quais são as ações a serem realizadas pela Equipe de Estratégia de saúde da Família-ESF durante uma visita puerperal?

| 15 dezembro 2015 | ID: sofs-23092
Solicitante:
CIAP2:
DeCS/MeSH: ,
Graus da Evidência: ,

Os cuidados no puerpério devem ser individualizados, a fim de atender às necessidades da dupla mãe-bebê, respeitando as crenças e opiniões da mulher e de sua família sobre os cuidados nessa fase da vida¹.

Devem incluir avaliação física e observação da mãe e da criança, cuidados com o recém-nascido (medicina), checagem de vacinação e a avaliação do aleitamento materno (2), empoderamento da família para os cuidados com o bebê e promoção de bem-estar fisiológico e emocional da família, além do eficiente reconhecimento de problemas relacionados ao período, que devem ser adequada e oportunamente avaliados¹.


Recomenda-se uma visita domiciliar na primeira semana após a alta do bebê. Caso o recém-nascido (RN) tenha sido classificado como de risco, a visita deverá acontecer nos primeiros 3 dias após a alta. O retorno da mulher e do recém-nascido ao serviço de saúde e uma visita domiciliar, entre 7 a 10 dias após o parto, devem ser incentivados desde o pré-natal, na maternidade e pelos agentes comunitários de saúde na visita domiciliar².

Ações relacionadas ao recém-nascido²:

• Verifique a existência da Caderneta de Saúde da Criança e, caso não haja, providencie sua abertura imediata;
• Insira as informações do recém-nascido no SisPreNatal;
• Verifique se a Caderneta de Saúde da Criança está preenchida com os dados da maternidade. Caso não esteja, procure verificar se há alguma informação sobre o peso, o comprimento, o teste de Apgar, a idade gestacional e as condições de vitalidade;
• Verifique as condições de alta da mulher e do RN;
• Observe e oriente a mamada, reforçando as orientações dadas durante o pré-natal e na maternidade, destacando a necessidade do aleitamento materno exclusivo até o sexto mês de vida do bebê, não havendo a necessidade de oferecer água, chá ou qualquer outro alimento ao RN;
• Observe e avalie a mamada para a garantia do adequado posicionamento e da pega da aréola;
• Observe a criança em geral: o peso, a postura, a atividade espontânea, o padrão respiratório, o estado de hidratação, as eliminações e o aleitamento materno, a ectoscopia, as características da pele (presença de palidez, icterícia e cianose), o crânio, as orelhas, os olhos, o nariz, a boca, o pescoço, o tórax, o abdômen (as condições do coto umbilical), a genitália, as extremidades e a coluna vertebral. Caso seja detectada alguma alteração, solicite avaliação médica imediatamente;
• Identifique o RN de risco ao nascer;
• Realize o teste do pezinho e registre o resultado na Caderneta da Criança;
• Verifique se foram aplicadas no RN, na maternidade, as vacinas BCG e de hepatite B. Caso não tenham sido, aplique-as no RN, na unidade, e registre-as no prontuário e na Caderneta de Saúde da Criança;
• Agende as próximas consultas de acordo com o calendário previsto para o seguimento da criança: no 2º, 4º, 6º, 9º, 12º, 18º e 24º meses de vida (2), as quais devem ser alternadas com o médico da equipe.

Condutas e orientações a puérpera sobre²:

• Higiene, alimentação, atividades físicas;
• Atividade sexual, informando-a a respeito de prevenção de DST/Aids;
• Cuidados com as mamas, reforçando a orientação sobre o aleitamento (considerando a situação das mulheres que não puderem amamentar);
• Cuidados com o recém-nascido;
• Direitos da mulher (direitos reprodutivos, sociais e trabalhistas). Oriente a puérpera sobre o planejamento familiar e a utilização de método contraceptivo, se for o caso:
• Dê a ela uma informação geral sobre os métodos que podem ser utilizados no pós-parto;
• Explique a ela como funciona o método da LAM (amenorreia da lactação);

Os critérios que autorizam o uso de LAM como método contraceptivo seguro conforme o Consenso de Bellagio são amenorréia, amamentação exclusiva ou quase exclusiva e intervalo pós-parto menor que seis meses. Para mulheres com risco inaceitável para gestação, outros métodos, além da amenorréia da lactação devem ser empregados.³
Quando ocorre a amamentação exclusiva, a menstruação costuma correr mais tarde. Nesses casos, quando a mulher encontra-se em amenorréia, a fertilidade retorna tardiamente e a probabilidade de acumulada de gravidez até o 6º mês fica em torno de 2%. No entanto quando a amamentação é mista ou quando a mulher já menstruou, a chance de ovulação aumenta de forma importante.³

• Se a mulher não deseja ou não pode usar a LAM, ajude-a na escolha de outro método²;
• Disponibilize o método escolhido pela mulher com instruções para o seu uso, dizendo-lhe o que deve ser feito se o método apresentar efeitos adversos e dando-lhe instruções para o seguimento;
• Aplique vacinas conforme calendário vacinal (se necessário);
• Ofereça teste anti-HIV e VDRL, com aconselhamento pré e pós-teste, para as puérperas não aconselhadas e testadas durante a gravidez e o parto;
• Prescreva suplementação de ferro: 40mg/dia de ferro elementar, até três meses após o parto, para mulheres sem anemia diagnosticada;
• Registre informações em prontuário e insira as informações do puerpério no SisPreNatal.

Recomenda-se o início precoce da deambulação. Estudos observacionais demonstraram redução do risco de trombose venosa puerperal e de embolia pulmonar com a indicação dessa conduta no puerpério imediato (Grau de evidência D)³.

A suplementação rotineira de vitamina A (200.000 UI por via ora, dose única) para lactantes não tem impacto na morbimortalidade materna ou infantil (Grau de evidência A) (1). Educação sobre contracepção no puerpério leva a um maior uso de métodos contraceptivos e a menos gestações não planejadas (Grau de evidência A)¹.

É importante que as mulheres recebam informação sobre o processo fisiológico de recuperação após o nascimento e saibam que alguns problemas de saúde são comuns (3). Instruções escritas, como a utilização de folhetos educativos, costumam ser úteis (Grau de evidência D)¹.

Atributos APS – É importante que os profissionais da Atenção Primária à Saúde, estejam atentos a sinais e sintomas que se configurem como mais desestruturantes e que fujam da adaptação “normal” e da característica do puerpério; levar em consideração a importância do acompanhamento da puérpera desde a primeira semana após o parto, prestando o apoio necessário à mulher no seu processo de reorganização psíquica, quanto ao vínculo com o seu bebê, nas mudanças corporais e na retomada do planejamento e da vida familiar; incluir a família nos atendimentos de puericultura e no amparo à puérpera; fornecer orientações quanto ao aleitamento materno exclusivo, acolher as ansiedades e fantasias da puérpera, abrir espaço para dúvidas e oferecer dicas práticas para facilitar o ato da amamentação (integralidade, longitudinalidade, coordenação do cuidado)².

Bibliografia Selecionada:

  1. Gusso G. et al. Tratado de Medicina de família e comunidade: princípios, formação e prática. Porto Alegre: Artmed, 2v. Cap. 116. Cuidados no Puerpério. Página: 999-1008, 2012.
  2. Brasil. Ministério da Saúde. Atenção ao pré-natal de baixo risco. Brasília: Ministério da Saúde, 2012. (Cadernos de Atenção Básica, 32. Disponível em: http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/cadernos_atencao_basica_32_prenatal.pdf.
  3. Duncan et al. Medicina Ambulatorial: condutas de atenção primária baseadas em evidências.4 ed- Porto Alegre: Artmed. Página: 386-400, 2013.