Qual a abordagem recomendada para homens com queixa de ejaculação precoce?

| 28 fevereiro 2019 | ID: sofs-37659
Solicitante:
CIAP2:
DeCS/MeSH: ,

A abordagem clínica de homens queixando-se de ejaculação precoce (ou rápida) demanda, inicialmente, a contextualização psicossocial e o esclarecimento do sintoma1. Há opções farmacológicas para se prescrever nessas situações, mas nem sempre elas são suficientes para sanar o problema, podendo apenas suprimir o sintoma temporariamente2,3,4. O exame complementar fundamental a ser realizado nos homens que sofrem com esse problema, quando descartado possíveis causas fisiológicas, é a investigação psíquica, para localizar o foco da ansiedade5.


Existem inúmeras abordagens teóricas para realizar essas investigações psíquicas, que podem ser escolhidas de acordo com a formação do profissional de saúde bem como a realidade da sua Unidade de Saúde. Sugere-se que, independente da abordagem escolhida, tenha-se como objetivo reduzir a ansiedade de desempenho, buscando investigar problemas no relacionamento (se o paciente tiver um relacionamento estável), sentimentos relacionados a ansiedade ou culpa, memória ou experiência traumática/desagradáveis6.
O primeiro passo no consultório frente a um paciente que se queixa de ejaculação precoce é compreender o que ele considera como precoce.1 Não raro, aquilo que os homens entendem como orgasmo masculino rápido seria veloz se comparado ao imaginário fantasioso, ou a relatos de outros homens, nos quais ocorreria um dilatado tempo para se chegar ao clímax das relações sexuais. Em um segundo momento, se ficar constatado que realmente a velocidade com a qual o homem libera o ejaculado comprometa significativamente o relacionamento com a(o) parceira(o), há que se oferecer tratamento.
A propósito, a ejaculação precoce é um sintoma, não uma condição psíquica inalterável, e, como qualquer outro sintoma, ela é passível de interpretação.5 O profissional de saúde disposto a ajudar os homens com essa queixa deve motivar reflexões sobre os orgasmos precoces, embasado na medicina da pessoa1, por exemplo:
* Você considera sua ejaculação rápida em comparação a que ou a quem?
* Por que você acha que isso, de ejacular rapidamente, acontece com você?
* Você relaciona esse problema com algum evento em sua vida?

* Você já conversou com a sua parceira sobre esse seu incômodo?
* Como você se sente a cada vez que isso acontece?
Existem técnicas que podem ser sugeridas para contribuir com a diminuição da ansiedade inicial até que se localize raiz do problema. Pode-se sugerir uma técnica desenvolvida por Masters e Johnson que consiste na estimulação do pênis até alta excitação (sem ejaculação) seja alcançada. Cessar a estimulação por alguns minutos e repetir o estímulo por mais 4 a 5 vezes até que a ejaculação seja permitida. De acordo com o Oxford Handbook of Psychiatry 3.ed, essa técnica auxilia em 90% dos casos.6
A fim de registrar a existência de medidas estritamente sintomáticas para o problema em pauta, os fármacos elencados como primeira escolha para “tratar” a ejaculação precoce são os inibidores seletivos da recaptação de serotonina (ISRS), sendo a paroxetina mencionada como primeira linha e a sertralina como segunda opção, ambas em doses menores do que o usualmente prescrito para outras indicações dessas drogas.2,4
Anestésicos tópicos são apresentados como outra possibilidade, no entanto, classificam-se como segunda linha na supressão da ejaculação precoce.Podem provocar efeitos adversos, a saber, eritema da pele e da glande, sensação de queimação, e reações alérgicas, até mesmo na(o) parceira(o).2
Uma vez que foram mencionados os ISRS, convém informar que o risco de suicídio parece aumentado e grosseiramente subestimado no tocante ao uso desses antidepressivos. GØtzche7 alerta para a improbidade científica generalizada que distorceu seriamente a percepção dos benefícios e danos dos ISRS, hoje rotineiramente prescritos.
O referido autor menciona que uma análise desses psicofármacos e medicamentos similares, realizada pela Food and Drug Administration (FDA) em 2006, incluindo 372 ensaios controlados por placebo, envolvendo 100 mil pacientes, descobriu que os ISRS aumentavam o comportamento suicida em indivíduos com idade de até 40 anos, aproximadamente. Desta forma, afirma que os suicídios, a possibilidade de suicídio e a violência associados a tais medicamentos estão sorrateira e intencionalmente omitidos, em decorrência de práticas não éticas e corruptas da indústria de medicamentos, que fatura cifras impressionantes com a venda dos ISRS.7
Portanto, apesar de não ser proibido prescrever fármacos para indivíduos que se queixam de ejaculação precoce, é fundamental haver ciência sobre as limitações e riscos dessas drogas, especialmente quando se opta pela prescrição de ISRS a adultos jovens. O tratamento da ejaculação precoce idealmente deve ser feito de forma integral, considerando os vários aspectos da pessoa, seu histórico e seu contexto de vida.1 Sendo a integralidade um dos atributos da atenção primária à saúde, deduz-se que esse problema será melhor manejado por profissionais atuantes nesse nível de atenção à saúde e que os objetivos poderão ser mais facilmente atingidos com o trabalho multiprofissional.
SOF Relacionadas
1) O que é ejaculação precoce? Quais são as causas? Qual é o tratamento? Qual a faixa etária é mais atingida?
2) Como deve ser a abordagem e o tratamento da ejaculação precoce na Atenção Primária à Saúde?

Bibliografia Selecionada:

1. Stewart M, Brown JB, Weston WW, McWhinney IR, McWilliam CL, Freeman TR. 2a ed. Medicina centrada na pessoa: transformando o método clínico. Porto Alegre: Artmed; 2010.
2. Ferron MM, Lopes Junior A. Problemas da Sexualidade. In: Gusso G, Lopes JMC (organizadores). Tratado de Medicina de Família e Comunidade: Princípios, formação e prática. Porto Alegre: Artmed; 2012:741-746.
3. Núcleo de Telessaúde do Rio Grande do Sul. BVS APS.  O que é ejaculação precoce? Quais são as causas? Qual é o tratamento? Qual a faixa etária é mais atingida? Segunda Opinião Formativa.  ID: sof-5371. 2013. Disponível em: http://aps.bvs.br/aps/o-que-e-ejaculacao-precoce-quais-causas-desta-doenca-qual-o-tratamento-qual-a-faixa-etaria-dos-homens-que-e-mais-atingida/ (acesso em 10 abr 2017).
4. Núcleo de Telessaúde do Rio Grande do Sul. BVS APS. Como deve ser a abordagem e o tratamento da ejaculação precoce na Atenção Primária à Saúde? Segunda Opinião Formativa.ID: sof-5265. 2010. Disponível em: http://aps.bvs.br/aps/como-deve-ser-feita-a-abordagem-e-o-tratamento-da-ejaculacao-precoce-em-ambiente-de-atencao-primaria-a-saude/?post_type=aps&l=pt_BR (acesso em 1o abr 2017).
5. Zimerman DE. Fundamentos psicanalíticos: teoria, técnica e clínica – uma abordagem didática. Porto Alegre: Artmed; 1999.
6. GØtzche PC. Medicamentos mortais e crime organizado: como a indústria farmacêutica corrompeu a assistência médica. Porto Alegre: Bookman; 2014.