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Qual a conduta para o controle das DST/AIDS e rastreamento de CA de colo de útero em mulheres homo/bissexuais?

| 8 agosto 2014 | ID: sofs-6902
Solicitante:
CIAP2:
DeCS/MeSH: , , ,
Graus da Evidência: ,
Recorte Temático: ,

Nos cuidados sexual ou reprodutivo deve-se considerar que qualquer paciente, mesmo grávida, pode ser uma mulher lésbica ou bissexual. Assim, nos atendimentos ginecológicos, às DST/AIDS/HIV, incluindo o planejamento familiar, deve-se contemplar o aconselhamento sobre prevenção e prática do sexo seguro, cuidado com uso de objetos (brinquedos eróticos), bem como a investigação de sintomatologia, pois a transmissão de doenças sexualmente transmissíveis (DSTs) e do HIV ocorre, também, através da relação sexual homossexual1.
Há estudos que demonstram que as DSTs e os problemas ginecológicos são menos comuns em pacientes lésbicas, que não praticam sexo com penetração peniana, porém reforçam a importância e necessidade de se examinar as pacientes, especialmente quando há história de contato heterossexual recente2.
O HPV pode ser transmitido de mulher para mulher, podendo ser encontradas anomalias citológicas cervicais mesmo em mulheres que nunca se envolveram em relações heterossexuais. Isto pode ser explicado pela transmissão do HPV através do contato oral-genital, brinquedos sexuais compartilhados, ou contatos digital-genital. O risco aumenta se a mulher tem história de relações sexuais desprotegidas com múltiplos parceiros masculinos3.
Outros estudos, sobre o HPV4, destacam a transmissão do vírus, não apenas pelo contato sexual, como o estudo realizado em detentas de um presídio em SP. Este estudo correlacionou o comportamento sexual de 27 detentas que apresentaram resultado positivo para a presença de HPV na cavidade oral. Foi possível observar que das 27 amostras positivas para HPV, em 18 (66,67%) destas foi identificada a presença de infecção pelo HPV, sendo que dentre as mulheres com HPV havia tanto comportamento heterossexual quanto bissexual e homossexual4.
O HPV pode causar uma variedade de lesões hiperplásicas, pois os vírus pode ser mucosotrópicos, que infectam as mucosas oral, respiratória e genital; e, cutaneotrópicos, encontrados em indivíduos imunocompetentes e em portadores de epidermodisplasias verruciformes. Pode ser transmitido por via orogenital e não exclusivamente através da relação sexual com penetração5.
O contato sexual é o principal modo de transmissão do HPV. Em relação à transmissão para a cavidade oral, parece existir uma via materno-fetal e após o período neonatal, outros mecanismos podem estar envolvidos, como a inoculação a partir de lesões cutâneas para outro indivíduo ou auto inoculação. Alguns autores consideram que, em adultos, a principal via de contágio da infecção oral pelo HPV parece ser por meio da prática do sexo orogenital, porém, a transmissão do trato genital para a mucosa oral ou vice-versa não está esclarecida. Outros consideram que a infecção genital pelo HPV é considerada a doença viral mais frequente na população ativa sexualmente6,7.
Para o rastreamento do câncer de colo de útero, os estudos existentes indicam a mesma conduta de cuidados, independente da opção sexual, havendo poucas pesquisas desenvolvidas especificamente com mulheres homossexuais1,2,3. De acordo com Ferris et al, deixar de oferecer acompanhamento e o exame ginecológico de rotina para lésbicas ignora a necessidade universal para o rastreio do câncer de colo de útero, independentemente de práticas sexuais atuais, e representa uma prática negligente3.
As recomendações gerais de periodicidade, para o rastreamento do câncer de colo de útero, são: intervalo entre os exames deve ser de três anos, após dois exames negativos, com intervalo anual (Grau de recomendação A); início da coleta deve ser aos 25 anos de idade para as mulheres que já tiveram atividade sexual (Grau de recomendação A); exames devem seguir até os 64 anos e serem interrompidos quando, após essa idade, as mulheres tiverem pelo menos dois exames negativos consecutivos nos últimos cinco anos (Grau de recomendação B); para mulheres com mais de 64 anos e que nunca realizaram o exame citopatológico, deve-se realizar dois exames com intervalo de um a três anos. Se ambos forem negativos, essas mulheres podem ser dispensadas de exames adicionais (Grau de recomendação B). Porém, quando os resultados estiverem fora da normalidade, é importante a avaliação individual, assim como em situações especiais como amostra insatisfatória para avaliação, gestantes, mulheres histerectomizadas, pós-menopausa, imunossuprimidas e sem atividade sexual8.
Precisamos minimizar as barreiras existentes para que lésbicas e bissexuais consigam chegar aos serviços de saúde de Atenção Básica / Atenção Primária e possibilitar a garantia de cuidados de saúde, com acolhimento para a integralidade e resolubilidade no cuidado, sendo receptivos e eticamente adequados no fornecimento de respostas às necessidades dessa população, sem qualquer discriminação com base em raça, cor, religião, nacionalidade, orientação sexual ou gênero percebido. Há algumas possibilidades sugeridas para melhorar o atendimento a esses usuários1:

  1. Você é solteiro, casado, viúvo, divorciado ou tem um companheiro?
  2. Tem vida sexual ativa? Se sim, com homem, mulher ou ambos?
  3. Sente-se sexualmente atraído por homens, mulheres, ou homens e mulheres?
  4. Estas perguntas, podem ser feitas em formulários preenchidos pelos usuários ou constar em fichas de consulta, porém, atentar para a necessidade de codificar as respostas quando em questionários de preenchimento pelos usuários para evitar preocupações com a confidencialidade.

Bibliografia Selecionada:

  1. Committee on Health Care for Underserved Women. Committee Opinion: Health Care for Lesbians ang Bisexual Women. The American College of Obstetricians and Gynecologists: Women’s Health Care Physicians. 2012; (525): 1-4. Disponível em: http://www.acog.org/~/media/Committee%20Opinions/Committee%20on%20Health%20Care%20for%20Underserved%20Women/co525.pdf?dmc=1&ts=20140709T1423199464 Acesso em: 12 ago 2014.
  2. White JC, Levinson W. Lesbian Health Care – What a Primary Care Physician Needs to Know. West J Med. 1995; 162: 463-6. Disponível em: http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC1022805/pdf/westjmed00057-0073.pdf  Acesso em: 12 ago 2014.
  3. 3-Hutchinson MK, Thompson AC, Cederbaum JA. Multisystem Factors Contributing to Disparities in Preventive Health Care Among Lesbian Women. AWHONN, the Association of Women’s Health, Obstetric and Neonatal Nurses. 2006; 35(3): 393-402.  Disponível em: http://www.researchgate.net/publication/7080223_Multisystem_factors_contributing_to_disparities_in_preventive_health_care_among_lesbian_women Acesso em: 12 ago 2014.
  4. Zonta MA, Monteiro J, Santos JR G, Pignatari ACC. Infecção oral pelo HPV em mulheres com lesão escamosa de colo uterino no sistema prisional da cidade de São Paulo, Brasil. Braz. j. otorhinolaryngol. 2012; 78(2): 66-72. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/bjorl/v78n2/v78n2a11.pdf  Acesso em: 12 ago 2014.
  5. Tristão W, Ribeiro RMP, Oliveira CA, Betiol JC, Bettini JSR. Estudo epidemiológico do HPV na mucosa oral por meio de PCR. Braz. j. otorhinolaryngol. 2012; 78(4): 66-70. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/bjorl/v78n4/v78n4a13.pdf   Acesso em: 12 ago 2014.
  6. Esquenazi D, Bussoloti Filho I, Carvalho MGC, Barros FS. A frequência do HPV na mucosa oral normal de indivíduos sadios por meio da PCR. Braz. J. Otorhinolaryngol. 2010; 76(1): 78-84. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/bjorl/v76n1/v76n1a13.pdf  Acesso em: 12 ago 2014.
  7. Castro TMPG, Neto CER, Scala KA, Scala WA. Manifestações orais associada ao papilomavírus humano (hpv) conceitos atuais: revisão bibliográfica. Rev. Bras. Otorrinolaringol. 2004; 70(4): 546-50. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/rboto/v70n4/a17v70n4.pdf  Acesso em: 12 ago 2014.
  8. Brasil. Ministério da Saúde. Controle dos cânceres do colo do útero e da mama. 2a ed. Brasília: Ministério da Saúde; 2013.  p.45-57.  Disponível em: http://189.28.128.100/dab/docs/portaldab/publicacoes/cab13.pdf  Acesso em: 12 ago 2014.