Qual o mecanismo de ação da Papaína e a concentração ideal para uso em uma escara com necrose?

| 29 janeiro 2015 | ID: sofs-17433
Solicitante:
CIAP2:
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O mecanismo de ação da papaína é como desbridante químico, facilitando o processo cicatricial. Tem ações bacteriostáticas, bactericidas e anti-inflamatórias e proporciona alinhamento das fibras de colágeno, promovendo crescimento tecidual uniforme. A concentração da papaína de 8 a 10% deve ser utilizada na presença de necrose de coagulação (2), após efetuar escarectomia (retirada total da região necrosada). Na presença de necrose de liquefação a ferida deverá ser lavada em jatos com solução de papaína de 4 a 6% diluída em solução fisiológica. E na presença de tecido de granulação a concentração deverá ser de 2% (1).


Complementação
A papaína é uma enzima proteolítica retirada do látex do vegetal mamão papaia (Carica Papaya), no qual são comercializadas na forma de pó, pasta, creme e gel, sendo que o pó deve ser diluído no momento do uso, em concentrações que irão variar conforme as características da ferida (quantidade de tecido necrótico, presença de infecção, presença de tecido de granulação, etc) (1). A sua indicação é para o tratamento de úlceras abertas, infectadas e desbridamento de tecidos desvitalizados ou necróticos (2).
Contudo a papaína é um método enzimático de desbridamento que pode levar dias a semanas para apresentar resultado. Um ensaio clínico com 21 pacientes com escaras demonstrou uma maior redução de tecido necrótico com o uso de uma combinação de papaína e ureia (95,4% de redução) em comparação ao uso de colagenase (35,8%) por 4 semanas, mas sem alterar a frequência de resolução do ferimento (Grau B) (3).
É contra indicada em pacientes com sensibilidade à substância ou outro componente da formulação (1). Os efeitos adversos é uma sensação de queimadura. O exsudado liquefeito da digestão enzimática pode irritar a pele. Lavagens e limpeza frequente da área ao redor da lesão pode aliviar o desconforto. Evite lavar as lesões com peróxido de hidrogênio em solução, pois pode inativar a papaína. Usar para lavagem soro fisiológico ou papaína 4 – 6 % em soro fisiológico. A substituição do curativo está indicada em média, a cada 12 horas (Grau C) (3).
Na avaliação da lesão é importante que os profissionais de saúde classifiquem a ferida e identifique o estágio da cicatrização, para que possa realizar uma estimativa do processo cicatricial e quais os fatores que irão interferir neste processo. Essa combinação de métodos dará uma visão mais acurada sobre o caso. Essa avaliação deve vir acompanhada de um registro minucioso sobre a ferida que descreva a localização, etiologia, tamanho, tipo, a coloração de tecido no leito da lesão, quantidade e característica do exsudato, odor, aspecto da pele ao redor, entre outros, também os aspectos relacionados às condições gerais do usuário, tais como: estado nutricional, doenças crônicas concomitantes, imunidade, atividade física, condições socioeconômicas e para os acamados, local onde permanece a maior parte do tempo, condições do local entre outros precisam ser avaliados (4). Também é necessária a avaliação se possível diária da evolução da ferida no sentido de continuar ou modificar as condutas até então estabelecidas (5).
Deve-se observar se existem sinais, sintomas ou situações que indicam gravidade do ferimento entre eles: sangramento intermitente, presença de corpo estranho, extensa área corporal lesionada, extensa área de necrose, estágio IV (perda total da pele com extensa destruição, necrose de tecidos ou danos muscular, ósseos ou estrutura de suporte), sinais de infecção e secreção abundante (6).

Atributos APS / P&P
Dentre as diversas atividades que envolvem o processo de trabalho das equipes da Estratégia Saúde da Família (ESF), e que necessita de um atendimento mais humanizado, pode-se considerar o atendimento ao usuário portador de feridas e o tratamento das mesmas. O cuidado humanitário que deve ser ofertado ao portador de ferida, que precisa receber tratamento baseado nos princípios da equidade e integralidade, não tendo a ferida como único foco, levando em consideração as demais condições físicas, ambientais e psicológicas (7).
Para a prevenção de úlceras de pressão é importante usar uma superfície de apoio dinâmica (colchão ou sobreposição) em indivíduos com alto risco de desenvolver úlceras de pressão, quando não é possível o reposicionamento manual frequente. Orientar a virar e a posicionar, sempre que possíveis todos os indivíduos em risco de úlceras de pressão. . Assegurar de que os calcâneos se encontram afastados da superfície da cama. Os dispositivos de proteção dos calcâneos devem elevá-los completamente (ausência de carga) de tal forma que o peso da perna seja distribuído ao longo da sua parte posterior sem colocar pressão sobre o tendão de Aquiles. O joelho deve ficar em ligeira flexão. Use uma almofada debaixo das pernas (região dos gémeos) para elevar os calcâneos (calcâneos flutuantes). Usar uma almofada de assento de redistribuição de pressão em indivíduos sentados numa cadeira e que apresentam diminuição da mobilidade e que se encontre em risco de desenvolver úlceras de pressão (8).

Bibliografia Selecionada:

  1. Segunda Opinião Formativa-SOF-RS-BVS. 17 dez 2008. Em qual tipo de feridas/úlceras está indicado o uso de papaína a 10%? Pode-se utilizá-la em úlcera isquêmica focal? Disponível em: http://blog.telessaudebrasil.org.br/?p=212.Acesso em: 29 jan 2015.
  2. Ministério da Saúde. Secretaria de Política de Saúde. Manual de Condutas para Úlceras Neurotrópicas e Traumáticas. Departamento de Atenção Básica. Área Técnica de Dermatologia Sanitária. Brasília, 2002. Disponível em: http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/manual_feridas_final.pdf Acesso em: 29 jan 2015.
  3. Segunda Opinião Formativa-SOF-RS-BVS. Qual o método mais eficaz de desbridamento de escara necrótica em paciente acamado: papaína ou desbridamento cirúrgico? 15 out 2009. Revisão em: Agosto 2013. Disponível em: http://blog.telessaudebrasil.org.br/?p=3128. Acesso em: 29 jan 2015.
  4. Secretaria Municipal de Saúde. Vigilância em Saúde. Protocolo de cuidados de feridas / Coordenado por Antônio Anselmo Granzotto de Campos; Organizado por Lucila Fernandes More e Suzana Schmidt de Arruda. Florianópolis: IOESC, 2007. Disponível em: http://www.pmf.sc.gov.br/arquivos/arquivos/pdf/26_10_2009_10.46.46.f3edcb3b301c541c121c7786c676685d.pdf. Acesso em: 29 jan 2015.
  5. H.C. Hospital das Clínicas de Porto Alegre. Avaliação e tratamento de feridas – orientações aos profissionais de saúde. Disponível em: http://www.lume.ufrgs.br/bitstream/handle/10183/34755/000790228.pdf?sequence=1. Acesso em: 29 jan 2015.
  6. H.C. Hospital das Clínicas de Porto Alegre. Avaliação e tratamento de feridas – orientações aos profissionais de saúde. Disponível em: http://www.lume.ufrgs.br/bitstream/handle/10183/34755/000790228.pdf?sequence=1. Acesso em: 29 jan 2015.
  7. Souza L. R. Organização do Processo de trabalho na sala de curativos das equipes da estratégia de saúde da família do município de Santo Antonio do Itambé_MG, 2012. Disponivel em: http://www.nescon.medicina.ufmg.br/biblioteca/imagem/3762.pdf Acesso em: 29 jan 2015.
  8. Guidelines Internacionais Úlceras de Pressão – Guia de referência rápida – Prevenção, foi traduzido para Português por, Filomena Mota, Domingos Malta, Rita Videira, Lúcia Vales e Paulo Alves. European Pressure Ulcer Advisory Panel & ©National Pressure Ulcer Advisory Panel 2009. Disponível em: http://www.epuap.org/guidelines/QRG_Prevention_in_Portuguese.pdf. Acesso em: 29 jan 2015.