Qual o método de ensaio da medida de hemoglobina glicada (A1C) mais confiável?

| 10 novembro 2017 | ID: sofs-37158
Solicitante:
CIAP2:
DeCS/MeSH: ,
Graus da Evidência:

Segundo a última recomendação da American Diabetes Association (2017), o método de ensaio da medida de hemoglobina glicada (A1C) mais confiável é o método certificado pelo National Glycohemoglobin Standardization Program (NGSP) com rastreabilidade de desempenho analítico ao método utilizado no Diabetes Control and Complications Trial (DCCT) (1).

MAIOR1

Fonte: Adaptado de: American Diabetes Association. Standards of Medical Care in Diabetes – 2017. Diabetes Care. 2017. Disponível em: http://professional.diabetes.org/sites/profissional.diabetes.org/files/media/dc_40_s1_final.pdf.


Existem diversas metodologias comerciais para a realização do teste de hemoglobina glicada na rotina laboratorial. Segundo dados do programa de ensaio de proficiência do College of American Pathologists (CAP) referente ao GH5 Survey Data, atualizado em dezembro de 2016, a grande maioria dos métodos utilizados pelos laboratórios para a dosagem de A1C apresentou coeficiente de variação inferior a 3,5% (1).
Apesar da maioria das sociedades estipular um valor de A1C inferior a 7% como meta, para adultos não gestantes os valores alvo de A1C devem ser individualizados. A meta de A1c pode variar de 6% (na ausência de hipoglicemias) a pouco mais de 8%. Aspectos como condições econômicas, risco de hipoglicemia, duração do diabetes, expectativa de vida, doença microvascular, doença macrovascular e condições associadas devem ser considerados para estipularmos um alvo (1).Os métodos atuais disponíveis para dosagem da A1C se baseiam em um dos seguintes fundamentos (1):
– Diferença na carga iônica: Cromatografia de troca iônica (HPLC); Eletroforese em gel de agarose; Eletroforese capilar.
– Características estruturais: Cromatografia de afinidade (HPLC) utilizando derivados do ácido borônico; Imunoensaio turbidimétrico.
– Reatividade química: Método colorimétrico (1).
O teste laboratorial remoto (TLR) ou point-of-care (POC) ou point-of-care testing (POCT) estão disponíveis no mercado (1). Os testes laboratoriais remotos certificados pelo NGSP podem ser consultados no site do NGSP(3).
Com o intuito de se evitar problemas na interpretação dos níveis de A1C obtidos pelos diversos métodos laboratoriais, foi criado um projeto especial NGSP com a finalidade de harmonizar os métodos para dosagem de A1C, visando padronizar os resultados em relação ao método utilizado no trabalho do DCCT (1).
O NGSP recomenda que os fabricantes certifiquem seus métodos a cada ano; o certificado de rastreabilidade expira após 1 ano. Durante o ano, é responsabilidade do fabricante garantir que os resultados do seu método permaneçam consistentes ao longo do tempo durante todo o ano e entre lotes. Não é intenção do NGSP certificar cada lote de reagentes (3). Os fabricantes recebem certificados de rastreabilidade para concluir com sucesso o teste de polarização para métodos específicos, lotes de reagentes, lotes de calibração e instrumentação usada. A rastreabilidade para o DCCT aplica-se apenas aos resultados das amostras de sangue fresco. A análise do material processado (por exemplo, liofilizado) pode estar sujeita a efeitos de matriz e quaisquer comparações com o DCCT com os resultados dos espécimes processados devem ser feitas com cautela (3).
Tendo em vista a variabilidade dos métodos laboratoriais disponíveis e, consequentemente, a ampla faixa de variação de “valores normais”, é absolutamente fundamental que o médico clínico tenha uma noção de alguns aspectos pré-analíticos que modificam a interpretação do teste de A1C. Somente assim ele poderá esclarecer suas dúvidas junto ao laboratório clínico e, desta forma, acompanhar adequadamente e interpretar corretamente os resultados dos testes de A1C (1).
Contudo, o controle glicêmico melhora o risco de complicações microvasculares em pacientes com diabetes tipo 2, sendo que cada queda de 1 por cento na hemoglobina glicada (A1C) está associada a melhores resultados sem efeito limiar (4). Apenas um ensaio clínico randomizado demonstrou um efeito benéfico da terapia intensiva em resultados macrovasculares no diabetes tipo 2 (Grau de Evidência A) (4,5).
Com alguma frequência, os resultados do teste de A1C podem não estar compatíveis com a condição clínica do paciente e/ou com os níveis efetivos de glicemia que o paciente apresenta nos diversos horários do dia. Embora o teste de A1C seja hoje em dia considerado como um dos parâmetros mais fiéis da avaliação do controle glicêmico, é muito importante ressaltar o papel da variabilidade glicêmica e seu impacto sobre os resultados do referido teste de A1C (1).
Atributos da APS

Integralidade/coordenação dos cuidados: Os cuidados com as pessoas com diabetes devem ser individualizados levando-se em conta os aspectos de motivação, risco de hipoglicemia, duração da doença, expectativa de vida, outras doenças, complicações micro e macrovasculares e aspectos econômicos, além das abordagens mais específicas que incluem educação e preferências do paciente, efeitos colaterais e custos dos tratamentos prescritos, entre outros (1).

Bibliografia Selecionada:

1. Sociedade Brasileira de Diabetes. Atualização sobre hemoglogina (A1C) para avaliação do controle glicêmico e para o dignóstico do diabetes: aspectos clínicos e laboratoriais. Posicionamento Oficial SBD, SBPC-ML, SBEM e FENAD 2017/2018. São Paulo, agosto de 2017. Disponível em: http://www.diabetes.org.br/publico/images/banners/posicionamento-3-2.pdf
2. Sociedade Brasileira de Diabetes. Conduta Terapêutica no Diabetes Tipo 2: Algoritmo SBD 2017. Posicionamento Oficial SBD nº 02/2017. Disponível em: http://www.diabetes.org.br/profissionais/images/2017/POSICIONAMENTO-OFICIAL-SBD-02-2017-ALGORITMO-SBD-2017.pdf
3. National Institutes of Diabetes and Digestive and Kidney Diseases. Harmonizing Hemoglobin 1c Testing. A better A1C test means better diabetes care. Updated 09/01/2017. List of NGSP Certified Methods (pdf) . Disponível em: http://www.ngsp.org/docs/methods.pdf
4. McCulloch DK, UpToDate. Initial management of blood glucose in adults with type 2 diabetes mellitus. Literature review current through: Sep 2017. | This topic last updated: Feb 03, 2017. Disponível em: http://www.uptodate.com/contents/initial-management-of-blood-glucose-in-adults-with-type-2-diabetes-mellitus?source=search_result&search=A1C&selectedTitle=16%7E150
5. Holman RR, Paul SK, Bethel MA, Matthews DR, Neil HA. 10-year follow-up of intensive glucose control in type 2 diabetes. N Engl J Med 2008 Oct 9 ; 359(15):1577-89. doi: 10.1056/NEJMoa0806470. Epub 2008 Sep 10. Disponível em: http://www.nejm.org/doi/pdf/10.1056/NEJMoa0806470