Como a modificação da dieta pode auxiliar pacientes com Lúpus?

| 10 outubro 2018 | ID: sofs-40623
Solicitante:
CIAP2:
DeCS/MeSH:
Recorte Temático:

Pacientes com Lúpus Eritematoso Sistêmico (LES) tendem a apresentar triglicerídeos e pressão arterial elevados, aumentando os riscos para desenvolvimento de uma síndrome metabólica (SM). Um estudo mostrou que quando avaliada a presença de SM associada a pacientes com LES, percebeu-se uma prevalência de 26%, podendo variar e 18 a 34%, de acordo com os critérios utilizados para diagnóstico.


Algumas das manifestações presentes no paciente com LES estão relacionadas à nutrição, não como fator etiológico, mas como repercussão clínica. As mais comuns incluem deficiência de selênio, zinco e vitamina D, alteração lipídica, anorexia, pancreatite, hepatite, nefrite e glomerulonefrite.
No entanto, devido ao tratamento crônico a base de corticosteróides, percebe-se efeitos secundários que também podem ser amenizados com a dieta, tais como ganho de peso, hipertensão, osteoporose, dislipidemia, hipocalemia, hiperglicemia, resistência à insulina e predisposição para infecções. Ao encontro desta afirmativa, estudos indicam que a suplementação com Ômega-3 reduziu o processo inflamatório celular, o estresse oxidativo e a disfunção endotelial.
Já a suplementação de vitamina D reduziu marcadores inflamatórios e hemostáticos, ao passo que dietas de baixo índice glicêmico resultaram em perda de peso, que relaciona-se a redução da fadiga. Estudos sugerem que uma dieta com baixa quantidade de carboidratos (low carb), rica em proteínas e rica em gorduras é pelo menos tão eficaz quanto uma restrição energética para redução de fatores de risco de peso e doenças cardiovasculares.
Estudos incluídos em uma revisão sistemática sobre o efeito da dieta na saúde dos pacientes com LES, observaram diferença significativa para marcadores de risco de doença cardiovascular no final da intervenção, provavelmente devido ao pequeno número de sujeitos investigados e ao curto tempo de intervenção. Não observou-se melhora na qualidade do sono e na atividade da doença, mas houve melhora da fadiga em ambos os grupos, sugerindo que a manipulação da dieta associada à perda de peso tem um papel importante no controle da fadiga em pacientes com LES.
Complementação:
O Lúpus é uma doença crônica autoimune. Por uma razão desconhecida, o organismo passa a não reconhecer suas próprias células e produz anticorpos contra elas (autoanticorpos), causando diversas anormalidades clínicas e laboratoriais.
O tratamento para lúpus envolve uma ampla gama de medicamentos que vão desde anti-inflamatórios comuns, baixas doses de corticóides e medicamentos antimaláricos (ex: cloroquina) para tratar manifestações mais leves – sem comprometimento de grandes órgãos ou sistemas – até drogas que retiram as defesas do organismo (como a ciclofosfamida, azatioprina e metotrexate) para graus mais avançados da doença. Cabe ao médico assistente a escolha da opção terapêutica mais apropriada levando em consideração as características individuais da doença e do “adoecer” do paciente em questão.

Atributos da APS:

Acesso – A pessoa com Lúpus deve ter garantido seu acompanhamento regular na sua Unidade de Saúde e é através dela, conforme suas necessidades, ser encaminhada para outros pontos do sistema de saúde. O ACS pode facilitar o agendamento de consultas.
Integralidade –  Além da doença, possíveis limitações podem provocar sofrimento psicológico, pessoal e familiar, ao qual a equipe de saúde deve estar atenta e fornecer suporte.
Longitudinalidade – Com acompanhamento ao longo do tempo, pela mesma equipe, potenciais complicações da doença podem ser identificadas em momentos oportunos para o tratamento.
Coordenação do cuidado –  Lúpus é uma doença rara e seu tratamento provavelmente envolverá cuidados multidisciplinares nos níveis secundários e terciários de atenção à saúde. Nesse caso, a equipe de saúde da UBS deverá fazer-se presente para acompanhar e organizar as intervenções, evitando a fragmentação e os conflitos nos cuidados fornecidos, e facilitando o acesso ao doente e aos seus cuidadores.

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Bibliografia Selecionada:

1. De Medeiros MCS, Medeiros JCA, de Medeiros HJ, Leitão JCGC, Knackfuss MI. Dietary intervention and health in patients with systemic lupus erythematosus: A systematic review of the evidence. Crit Rev Food Sci Nutr. 2018 Apr 12:1-8. Disponível em: https://www.tandfonline.com/doi/abs/10.1080/10408398.2018.1463966?journalCode=bfsn20
2. Hallajzadeh J, Khoramdad M, Izadi N, Karamzad N, Almasi-Hashiani A, Ayubi E, Qorbani M, Pakzad R, Sullman MJM, Safiri S. The association between metabolic syndrome and its components with systemic lupus erythematosus: a comprehensive systematic review and meta-analysis of observational studies. Lupus. 2018 Jan;27(6):899-912. Disponível em: http://journals.sagepub.com/doi/full/10.1177/0961203317751047
3. Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Protocolos Clínicos e Diretrizes Terapêuticas: volume 3. Brasília; 2014: 604p[internet]. [acesso em 25 jun 2018]. Disponível em: http://conitec.gov.br/images/Protocolos/Livros/LivroPCDT_VolumeIII.pdf
4. BMJ Best Practice: Systemic lupus erythematosus [Internet]. Londres; 2011[internet]. [Access in 2018 jun 25]. Available from: http://bestpractice.bmj.com/best-practice/monograph/103.html