A fitoterapia pode ser uma opção terapêutica para obesidade?

| 18 maio 2016 | ID: sofs-23722
Solicitante:
CIAP2:
DeCS/MeSH: ,
Graus da Evidência:

O tratamento da obesidade é complexo e multidisciplinar, sendo que pode incluir intervenções não medicamentosas e medicamentosas. A fitoterapia, entre outros, é um tratamento não medicamentoso que pode estar associado a outros tratamentos da obesidade.¹  Há estudos que avaliam algumas plantas medicinais para o tratamento da obesidade, dentre as quais: Caralluma fimbriata; Citrus aurantium; Ephedra sinica; Erva-de-São João (Hypericum perforatum); Garcinia cambogia; Ilex paraguariensis (Erva-mate); Ioimbina (Pausinystalia yohimbe); Psyllium (Plantago).


CARALLUMA FIBRIAT2:

Caralluma fimbriata é um cacto comestível, pertencente à família Asclepiadácea. Segundo a medicina tradicional Ayurvédica, a Caralluma fimbriata é um alimento considerado revigorante e supressor da fome. Consumida in natura, em saladas, refogados e caldos ou desidratada, a C. fimbriata era utilizada na antiga Índia nas peregrinações e caravançarais, por sua suposta propriedade de reduzir o cansaço e a fome.

Não existem evidências que atestem o efeito protetor ou terapêutico da Caralluma. No entanto, em estudo com humanos, indivíduos de 25 a 60 anos, com IMC acima de 25 kg/m2, ausentes de doenças crônicas ou uso de medicamentos para perda de peso, foram acompanhados durante 60 dias. As avaliações antropométricas, dietéticas, bioquímicas e estimativas do apetite foram realizadas antes e nos dias 30 e 60 do estudo. O grupo experimental recebeu duas cápsulas de 500mg de extrato de Caralluma fimbriata por dia. Ao final da pesquisa, houve diferença significativa na diminuição da circunferência abdominal e do apetite no grupo experimental em relação ao grupo placebo. No entanto, não houve resultado positivo quanto ao IMC e exames bioquímicos. Segundo os autores, houve uma diminuição de 9,5% na compulsão alimentar e 19,5% na sensação de fome. A supressão do apetite gerou menor ingestão energética e de gordura, além da ingestão de alimentos considerados não saudáveis, sem alterações daqueles considerados benéficos à saúde.

CITRUS AURANTIUM2:

Consiste em um fitoterápico conhecido por ser substituto da efedrina e auxiliar na perda de peso dos praticantes de atividades físicas, entretanto, sem os efeitos colaterais da efedrina. No entanto, a falta de estudos evidenciando a atividade biológica da planta, com relação ao efeito protetor ou terapêutico sobre a obesidade, e a suspeita de cardiotoxicidade fazem dessa planta esta planta um risco para consumo por seres humanos. 

EPHEDRA SINICA¹:

Ephedra sinica ou ma-huang, nome chinês da planta Ephedra, é frequentemente utilizada para perder peso e, em geral, combinada com outros compostos, como cafeína e/ou aspirina. Apesar de alguns estudos demonstrarem a eficácia da combinação de efedrina (30-150 mg) com cafeína (150-600 mg) na perda de peso, revisões atuais do uso da efedrina isoladamente (60-150 mg) mostram efeito apenas modesto, aproximadamente 0,9 kg, na redução do peso quando comparado ao do placebo, com aumento de 2,2 a 3,6 na chance do aparecimento de efeitos adversos psiquiátricos, gastrointestinais e cardíacos(D)(A)¹. A frequência e a magnitude dos efeitos colaterais e a ineficácia dos suplementos contendo efedrina contraindicam seu uso no tratamento da obesidade (D)¹.

ERVA-DE-SÃO JOÃO (HYPERICUM PERFORATUM)¹:

É uma planta nativa da Europa, da Austrália e das Américas. Seus extratos, que parecem ter ação serotoninérgica, são utilizados para tratar depressão. Com base nessa ação no sistema nervoso central, tem-se propagado o uso da erva isoladamente ou em associação com ma-huang, no tratamento da obesidade. Os estudos publicados não são duplo-cegos nem randomizados (D). Portanto, não existem evidências científicas de que a erva-de-são joão seja eficaz para reduzir peso.

GARCINIA CAMBOGIA2:

Esta substância, extraída da casca de uma fruta cítrica exótica (Brindall berry ou brindleberry), contém ácido hidroxicítrico, que inibe a clivagem enzimática do citrato. Segundo seus defensores, além de aumentar a taxa de síntese hepática de glicogênio, inibe o apetite e a estocagem de gordura corporal (A). A maioria dos estudos que corroboram a eficácia da garcínia é de curta duração, inferior a 12 semanas, não é randomizada ou controlada, nem avalia o efeito do suplemento sobre o apetite. Além disso, é comum associar outros produtos na mesma cápsula, colocando em dúvida a eficácia da própria substância. Estudos bem conduzidos não mostraram diferença na redução de peso entre os indivíduos que usaram ácido hidroxicítrico e os que utilizaram placebo, bem como não comprovaram aumento na oxidação de gorduras(A). Apesar de não terem sido documentados efeitos colaterais significantes, não existem estudos de longo prazo a esse respeito. Atualmente, não há dados convincentes para o uso da garcínia como agente antiobesidade.

ILEX PARAGUARIENSIS (Erva-mate)2:

Estudos in vitro e in vivo atestam que o Ilex apresenta efeitos antioxidantes, prevenindo a oxidação do DNA e lipoperoxidação do LDL, efeito hipocolesterolêmico, hepatoprotetor, diurático. Recentemente esta planta tem sido utilizada, em fitoterápicos, no tratamento da obesidade. Em alguns estudos realizados foram analisadas várias plantas utilizadas popularmente para fins de perda de peso no Sul do Brasil, somente o Ilex Paraguariensis apresentou resultados positivos, sugerindo que este possa estar relacionado ao conteúdo de metilxantina, composto com atividade lipolítica e estimulante, e de saponinas, com comprovada ação sobre o metabolismo de colesterol, e na absorção intestinal de gordura, via inibição da atividade da lipase pancreática. No entanto, não existem fortes evidências do uso de Ilex paraguariensis no tratamento da obesidade, porque o efeito diurético da planta é o maior responsável pela redução de peso.

IOIMBINA (PAUSINYSTALIA YOHIMBE)¹:

A Yohimbe é uma planta nativa da África Central. O constituinte ativo dessa planta é a ioimbina, antagonista do alfa-2 receptor. Nos três estudos randomizados encontrados, nos quais se comparou a substância isoladamente com placebo, os resultados foram conflitantes(B). A maior perda de peso ocorre quando se associa à efedrina a cafeína. Descreveram-se efeitos colaterais como irritabilidade, artralgias e cefaleia. Até o momento, não há evidências clínicas de que se possa indicar a ioimbina para reduzir peso.

PSYLLIUM (PLANTAGO)¹:

Psyllium é uma fibra hidrossolúvel derivada da semente da Plantago ovata. Propõe-se que o uso dessa fibra aumente a saciedade, reduzindo a ingestão calórica. Apesar de haver uma sugestão de discreta redução na ingestão alimentar, os estudos até agora realizados não demonstram diferença na perda de peso de indivíduos obesos usando 15 a 30 g/dia do suplemento, quando comparado ao placebo(B)(C). A ingestão da fibra relaciona-se a distúrbios gastrointestinais, como flatulência, diarreia e náuseas, além de interferir na absorção de medicamentos, como antibióticos e digitálicos, e potencializar a ação de drogas anticoagulantes (D).

Outras opções terapêuticas não medicamentosas para obesidade estão abordadas na SOF:

Quais são as opções terapêuticas não medicamentosas para obesidade?

 

 

Bibliografia Selecionada:

  1. Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e da Síndrome Metabólica. Diretrizes Brasileira de Obesidade. 3 ed. São Paulo, 2009. Disponível em: http://www.abeso.org.br/pdf/diretrizes_brasileiras_obesidade_2009_2010_1.pdf [último acesso 19 de fev de 2016].
  2. Manenti AV. Plantas medicinais utilizadas no tratamento da obesidade: uma revisão. Criciúma. Trabalho de Conclusão de Curso apresentado para obtenção do Grau de Bacharel no Curso de Nutrição – Universidade do Extremo Sul Catarinense. 2010. Disponível em: http://repositorio.unesc.net/bitstream/1/127/1/Aline%20Vefago%20Manenti.pdf [último acesso 28 de abril de 2016].

SOF Relacionada

Quais são as opções terapêuticas não medicamentosas para obesidade?