Existe deformidade articular causada pela artrite da Chikungunya?

| 22 agosto 2016 | ID: sofs-35398
Solicitante:
CIAP2:
DeCS/MeSH: , ,
Graus da Evidência:

Sim, alguns pacientes com chikungunya em fase crônica poderão evoluir com artropatia destrutiva semelhante à artrite psoriática ou reumatoide, incluindo fator reumatoide positivo e erosões características nas radiografias (1-3).


COMPLEMENTAÇÃO

Apresentação clínica da febre de chikungunya
A partir da picada por mosquito infectado com o chikungunya vírus (CHIKV), a maioria dos indivíduos apresenta doença sintomática após um período de incubação de dez dias (1,2). O CHIKV pode causar doença aguda, subaguda e crônica (1,2).
Fase aguda
A doença aguda dura de 3 a 10 dias. É mais comumente caracterizada por febre de início súbito (tipicamente maior que 39°C) e dor articular intensa. Outros sinais e sintomas podem incluir cefaleia, dor difusa nas costas, mialgia, náusea, vômito, poliartrite, erupção cutânea e conjuntivite (1-3). A febre dura de poucos dias até uma semana. Pode ser contínua ou intermitente; porém, a queda de temperatura não é associada à piora dos sintomas (1).
Sintomas articulares são comumente simétricos e ocorrem frequentemente nas mãos e nos pés, mas podem afetar articulações mais proximais. Edema também pode ser visto e é frequentemente associado com tenossinovite. Os pacientes podem ficar incapacitados devido à dor, à fragilidade, ao edema e à rigidez, sendo incapazes de executar tarefas normais ou ir ao trabalho, e podem ficar confinados devido a esses sintomas (1,2). Nesta fase também tem sido observado dor ligamentar (2).
Exantemas normalmente ocorrem de dois a cinco dias após o início da febre em aproximadamente metade dos pacientes. As erupções são tipicamente maculopapulares, envolvendo o tronco e as extremidades, mas também podem incluir as regiões palmar, plantar e a facial. Também podem se apresentar como eritema difuso que cede sob pressão. Em crianças, as lesões do tipo vesículo-bolhosas são as manifestações cutâneas mais comuns (1).
Não há achados hematológicos patognomônicos significativos observados em infecções por CHIKV. Achados laboratoriais anormais podem incluir trombocitopenia leve, leucopenia e testes de função hepática elevados. A taxa de sedimentação de eritrócitos e a proteína C-reativa estão frequentemente elevadas (1).

Fases subaguda e crônica
Após os primeiros dez dias, a maioria dos pacientes sentirá uma melhora na saúde geral e na dor articular. Porém, após este período, uma recaída dos sinais pode ocorrer, com alguns pacientes reclamando de vários sintomas reumáticos, incluindo poliartrite distal, exacerbação da dor em articulações e ossos previamente feridos e tenossinovite hipertrófica subaguda nos punhos e tornozelos. Isso é muito comum entre dois e três meses após o início da doença. Alguns pacientes também podem desenvolver distúrbios vasculares periféricos, como a síndrome de Raynaud. Além dos sintomas físicos, a maioria dos pacientes reclama de sintomas depressivos, cansaço geral e fraqueza (1).
A doença crônica é definida por sintomas que persistem mais de três meses. A prevalência desta fase é muito variável entre os estudos, podendo atingir mais da metade dos pacientes. Os principais fatores de risco para a cronificação são: idade acima de 45 anos, desordem articular preexistente e maior intensidade das lesões articulares na fase aguda (1,2).
O sintoma mais comum na fase crônica é o acometimento articular persistente ou recidivante nas mesmas articulações atingidas durante a fase aguda, caracterizado por dor com ou sem edema, limitação de movimento, deformidade e ausência de eritema. Normalmente, o acometimento é poliarticular e simétrico, mas pode ser assimétrico e monoarticular. Também há relatos de dores nas regiões sacroilíaca, lombossacra e cervical (2).
Outras manifestações descritas durante a fase crônica são: fadiga, cefaleia, prurido, alopecia, disestesias, parestesias, dor neuropática, alterações cerebelares, distúrbios do sono, alterações da memória, déficit de atenção, alterações do humor, turvação visual. Esta fase pode durar até três anos (2,3).
O manejo dos pacientes na fase crônica deve levar em consideração as características das lesões articulares. O exame físico deve ser direcionado para o envolvimento articular e periarticular. É importante o diagnóstico diferencial com outras doenças que causam acometimento articular, por isso, deve-se investigar marcadores de atividade inflamatória e imunológica (2).
Para o tratamento podem ser utilizadas injeções intra-articulares de corticoide, anti-inflamatório não hormonal tópico ou oral, e metotrexate em pacientes com sintomas articulares refratários. Considerar uso de morfina e derivados para analgesia de difícil controle (2).
É importante orientar aos pacientes quanto à necessidade de fisioterapia com exercícios de intensidade leve a moderada. Também se recomenda a avaliação pelo reumatologista (2).

ATRIBUTOS APS
As Unidades de Saúde precisam estar preparadas para alta demanda de pacientes para atendimento durante a ocorrência de surtos/epidemias de arboviroses como a chikungunya. Deve-se avaliar a necessidade de insumos, materiais, equipamentos e medicamentos para prestar o correto atendimento aos pacientes. Também é necessário disponibilizar o fluxograma com a classificação de risco e manejo do paciente com suspeita de chikungunya em todas as unidades de saúde (2).

Este fluxograma pode ser acessado através do link: http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/febre_chikungunya_manejo_clinico.pdf

O diagnóstico precoce e o acompanhamento dos casos exigem tecnologias de cuidado que envolvem a investigação clínica e/ou laboratorial passíveis de utilização em qualquer ponto de atenção, desde que haja a organização dos serviços para este fim. Assim, o acolhimento dos pacientes suspeitos com a classificação de risco deve estar implantado em todas as unidades de saúde e as equipes de atenção básica devem ser a porta de entrada preferencial destes pacientes (2).

Bibliografia Selecionada:

  1. Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Departamento de Vigilância das Doenças Transmissíveis. Preparação e resposta à introdução do vírus Chikungunya no Brasil. Brasília : Ministério da Saúde, 2014. Disponível em: http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/preparacao_resposta_virus_chikungunya_brasil.pdf
  2. Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Departamento de Vigilância das Doenças Transmissíveis. Febre de chikungunya: manejo clínico.  Brasília: Ministério da Saúde, 2015. Disponível em: http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/febre_chikungunya_manejo_clinico.pdf
  3. Madariaga Miguel, Ticona Eduardo, Resurrecion Cristhian. Chikungunya: bending over the Americas and the rest of the world. Braz J Infect Dis  [Internet]. 2016  Feb [cited  2016  June  23] ;  20( 1 ): 91-98. Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1413-86702016000100091&lng=en

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