A escolha inicial do medicamento a ser usado no controle da hipertensão arterial sistêmica (HAS) é constantemente submetida a numerosos estudos comparativos, nem sempre livres de vieses ou conflitos de interesses. Em meio a tantas informações, as diretrizes mais recentes mantêm a seguinte orientação:
O que realmente importa é o montante da redução alcançada com a medicação, e não com qual ou quais medicamentos se obtém tal redução.
Dizendo de outro modo, para um mesmo nível obtido de pressão arterial (PA), utilizando-se diferentes drogas, a redução do risco de eventos cardiovasculares será a mesma. Desse conceito deriva a seguinte recomendação geral:
Diuréticos (tiazídicos, clortalidona ou indapamida), betabloqueadores, antagonistas dos canais de cálcio, inibidores da enzima conversora de angiotensina (IECA) ou bloqueadores dos receptores da angiotensina (BRA) são TODOS ADEQUADOS para o início do tratamento da HAS. (nível de evidência A-I).
Tal recomendação de caráter geral não exclui a importância de se considerar as características específicas de cada paciente, como idade e comorbidades, que influenciam a escolha da medicação com a qual iniciar o tratamento. Os principais exemplos das classes de droga preferíveis para o início do tratamento conforme situações clínicas específicas são:
IDOSOS: tiazídicos ou antagonistas dos canais de cálcio, por maior eficácia com menos efeitos colaterais nesse grupo.
DIABÉTICOS: IECA ou BRA, pelo efeito nefroprotetor já demonstrado nesse grupo.
SÍNDROME METABÓLICA: IECA ou BRA, antagonistas dos canais de cálcio.
DOENÇA RENAL CRÔNICA E/OU MICROALBUMINÚRIA: IECA ou BRA.
INFARTO PRÉVIO: betabloqueadores, IECA ou BRA.
ANGINA: Betabloqueadores, antagonistas dos canais de cálcio.
INSUFICIÊNCIA CARDÍACA: IECA ou BRA, betabloqueadores (esse último deve ser introduzido apenas após a compensação do quadro).
FIBRILAÇÃO ATRIAL: Betabloqueadores
ANEURISMA DE AORTA: Betabloqueadores
GESTAÇÃO: Metildopa, nifedipina de ação prolongada, metoprolol.
AMAMENTAÇÃO: Propranolol, metoprolol, antagonistas dos canais de cálcio, IECA, tiazídicos.
A questão do tratamento dos pacientes da raça negra é controversa num país de grande miscigenação como o Brasil, onde o fenótipo da raça não guarda relação com seu respectivo genótipo, e portanto não teria relevância clínica. A literatura estrangeira sugere que os pacientes da raça negra sejam inicialmente tratados com um tiazídico ou antagonista do cálcio.
Em relação à escolha de um IECA versus BRA, estamos de acordo com os autores que sugerem o início de um IECA e a troca por um BRA naqueles pacientes que apresentem tosse ou angioedema.