O que é a Síndrome de Wolff-Parkinson-White?

| 13 abril 2022 | ID: sofs-44872
Solicitante:
CIAP2:
DeCS/MeSH: ,

A síndrome de Wolff-Parkinson-White (WPW) é uma doença congênita gerando taquicardias e arritmias, que reduzem a eficiência do coração. As manifestações clínicas incluem sudorese, dor no peito, cefaleia, dificuldades respiratórias, letargia, sensação de desmaio, perda de apetite, palpitações rápidas e visíveis no tórax, incluindo insuficiência cardíaca. O diagnóstico é feito pelo ECG e o tratamento compreende técnicas que estimulam o nervo vago e medicamentos para converter o ritmo cardíaco e, às vezes, ablação. Os medicamentos antiarrítmicos podem continuar em uso por tempo indeterminado para evitar episódios de aceleração da frequência cardíaca. Ao enfermeiro cabe identificar a gravidade da doença; episódios de taquicardia que se manifestam como falta, dor no peito e palpitações; conhecimento das formas de tratamento adequadas; conhecimento dos medicamentos utilizados, incluindo seus efeitos colaterais, para cuidado e monitoramento adequado do paciente. Educação aos familiares e portadores da síndrome WPW é fundamental para o autocuidado: identificação dos sintomas que podem ocorrer, mesmo sob tratamento médico, e pedir ajuda no momento adequado (logo no início para tratamento em tempo hábil), se necessário; monitoramento do medicamento, caso esteja no plano de tratamento; conhecimento sobre as opções de tratamento disponíveis(1-3).


Em 1930, Louis Wolff, John Parkinson e Paul Dudley White publicaram uma série de casos de pacientes com paroxismos de taquicardia cujo ECG basal mostrava um intervalo PR curto e um padrão de bloqueio de ramo(4-5).

 

No coração normal, o impulso elétrico atrial chega aos ventrículos após sofrer algum retardo fisiológico devido ao maior período refratário das células do nó atrioventricular (NAV) e sistema His-Purkinje, permitindo assim que a contração ventricular suceda a contração atrial, com o retardo necessário ao enchimento ventricular(4-5).

 

A síndrome de Wolff-Parkinson-White (WPW) acontece quando existem vias acessórias que promovem uma pré-excitação ventricular: fibras anormais, congênitas, conectam o átrio ou a junção AV ao ventrículo, fora do sistema His-Purkinje. O impulso elétrico será transmitido sem o retardo do NAV, e haverá um by-pass com ativação elétrica prematura do ventrículo. A pré-excitação ventricular determina três principais alterações no ECG (figura 1)(4-5):

1. Intervalo PR curto, menor do que 120 ms nos adultos ou 90 ms nas crianças;

2. QRS alargado (duração maior do que 120 ms), com um empastamento em sua porção inicial (onda delta) e porção final normal; tal padrão acontece por uma fusão entre a ativação inicial causada pela pré-excitação (com condução intraventricular lenta fibra a fibra) e a ativação final, pelo sistema especializado His-Purkinje.

3. Alterações secundárias do ST-T, geralmente opostas à polaridade da onda delta.

Padrão de WPW vs. Síndrome de WPW: é importante diferenciar o padrão eletrocardiográfico de pré-excitação que acontece em indivíduos assintomáticos do diagnóstico da síndrome de WPW: a síndrome só existe quando, além do padrão descrito, há taquiarritmias sintomáticas. O padrão de WPW é raro, e a síndrome mais rara ainda, com uma prevalência em torno de 1,5/100. A taquiarritmia mais comum na síndrome de WPW ocorre por reentrada AV, com condução anterógrada pelo NAV/His-Purkinje e condução retrógrada pela via acessória; no ECG o QRS terá duração normal, com uma P retrógrada que se inscreve após o término do QRS, no segmento ST ou na onda T, e FC que varia entre 150 e 250 bpm. Mais raramente a condução anterógrada pode se dar pela via anômala, resultando em taquicardias com QRS alargado. Nos pacientes com a síndrome, 80% das taquiarritmias são por reentrada AV, 15 a 30% apresentam FA, 5% flutter, e há um percentual ainda menor de taquicardia ventricular. Embora o prognóstico seja usualmente excelente, a morte súbita pode acontecer em cerca de 0,1% dos pacientes, e geralmente está associada a fibrilação atrial com resposta ventricular muito rápida, que se degenera em taquicardia ventricular. Na atenção primária à saúde, o médico generalista deve suspeitar da síndrome quando crianças ou adultos jovens, sem cardiopatia estrutural, se apresentam com taquiarritmias paroxísticas com frequência cardíaca muito rápida, sobretudo se houver um intervalo PR curto e onda delta no ECG basal. (fig. 1). Pacientes com padrão de pré-excitação ao ECG e aqueles com a síndrome de WPW devem ser referendados ao cardiologista. A indicação de Holter, teste ergométrico e, sobretudo do estudo eletrofisiológico (diagnóstico e para ablação das vias acessórias) será definida conforme as diretrizes e a avaliação cuidadosa do paciente em questão(4-5).

Bibliografia Selecionada:

1. Souza MBL, Rosenstock KIV. Síndrome de Wolff Parkison White: Estudo de Caso. In: Oliveira LL, Rosenstock KIV, Lima PT, Félix ZC. Diálogos Científicos em Enfermagem Vol. 1 [internet]. Cabedelo: Editora UNIESP; [acesso 28 jan 2022]. 2021:104-117. Disponível em: https://editora.iesp.edu.br/index.php/UNIESP/catalog/download/127/117/313-1?inline=1

 

2. Moraes PL, Gerken LM, Gontijo Filho B, Vicente WVA, Evora PRB. Síndrome de Wolff-Parkinson-White associada a comunicação interatrial tipo seio venoso. Arq. Bras. Cardiol. 2005;84(2):170-172. Disponível em: https://www.scielo.br/j/abc/a/Hd4fK5km8Qn9ZczzNfqhsfJ/?lang=pt

 

3. Prenni PG. Caring for the student with Wolff-Parkinson-white syndrome. J Sch Nurs. 2009;25(5):327-32. Disponível em: https://journals.sagepub.com/doi/10.1177/1059840509335556?url_ver=Z39.88-2003&rfr_id=ori:rid:crossref.org&rfr_dat=cr_pub%20%200pubmed

 

4. Lilly LS, Braunwald E. Braunwald´s heart disease – A Textbook of Cardiovascular Medicine, 8th ed., Philadelphia: Elsevier-Saunders; 2008:882-893.

 

5. Surawicz, B, Childers R, Deal BJ, Gettes LS, et al. AHA/ACCF/HRS recommendations for the standardization and interpretation of the electrocardiogram: part III: intraventricular conduction disturbances a scientific statement from the American Heart Association Electrocardiography and Arrhythmias Committee, Council on Clinical Cardiology; the American College of Cardiology Foundation; and the Heart Rhythm Society endorsed by the International Society for Computerized Electrocardiology. J Am Coll Cardiol. 2009;53(11):976-981. Disponível em: https://linkinghub.elsevier.com/retrieve/pii/S0735-1097(08)04135-1