O que é o tracoma? E o que podemos fazer para prevení-lo?

| 16 fevereiro 2017 | ID: sofs-35906
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O tracoma é uma inflamação na conjuntiva do olho causada pela bactéria Chlamydia trachomatis. O tracoma é a causa mais frequente de cegueira evitável, representando 3% da cegueira do mundo. Globalmente, 21,4 milhões de pessoas têm tracoma, e 1,2 milhões delas são cegas (1). Um único episódio de infecção por C. trachomatis causa conjuntivite clamidial auto-limitada. Entretanto, repetidas infecções causam inflamação conjuntival de longo prazo que produz cicatrizes que podem causar cegueira se não forem tratadas. O agente provoca uma conjuntivite crônica, que se acompanha de poucos sinais e sintomas, dentre eles: prurido (coceira) ocular, hiperemia leve, pouca ou nenhuma secreção ocular. A dificuldade maior para o diagnóstico decorre exatamente da cronicidade, o que faz com que os sintomas sejam frustros ou ausentes. Confunde-se, ainda, com a conjuntivite alérgica que não infrequentemente se encontra associada ao quadro da conjuntivite tracomatosa. O diagnóstico do Tracoma é essencialmente clínico. A confirmação laboratorial deve ser utilizada, para a constatação da presença do agente etiológico na comunidade, e não para a confirmação de cada caso (2).
A transmissão pode ser por contato físico direto (por exemplo, com as secreções oculares de uma pessoa infectada) ou por vetores (por exemplo, moscas) que transportam C. trachomatis de pessoa para pessoa. O Tracoma é considerado pelas organizações internacionais do campo da saúde como uma das “doenças negligenciadas”, doença para a qual tem havido pouco ou nenhum investimento da indústria no desenvolvimento de novas técnicas de diagnóstico, medicamentos e vacinas. Essa doença tem sido negligenciada inclusive pela academia, o que se pode constatar pelo pequeno número de estudos e publicações sobre ela. A doença está relacionada com baixas condições socioeconômicas e baixos índices de desenvolvimento humano, sendo descrita em locais com precárias condições de habitação, grande concentração populacional, precariedade de saneamento básico, baixos níveis educacional e cultural. Outros fatores relacionados com a presença do Tracoma seriam: presença de insetos vetores, deslocamentos populacionais, presença de outras doenças oculares, precariedade no abastecimento de água e coleta de lixo e íntima relação com a estrutura social (3,4)


Em 1997, a Organização Mundial da Saúde (OMS) estabeleceu a Aliança para a Eliminação Global do Tracoma até 2020 (denominada GET 2020), baseada numa abordagem de quatro vertentes, resumida pelo acrônimo SAFE (S=Cirurgia para a triquíase, A= antibióticos, F= limpeza facial, E= melhorias ambientais). O objetivo do programa SAFE é eliminar a cegueira relacionada ao tracoma. As orientações importantes para a comunidade são:

– Educar sobre a disseminação do tracoma e estratégias para reduzir a transmissão (por exemplo, a melhoria da higiene pessoal [particularmente do rosto], melhoria no saneamento, não compartilhando itens pessoais [por exemplo, toalhas]). Essa estratégia pode ser feita individualmente e coletivamente (como em escolas e grupos).
– Fornecer informações escritas aos pacientes, para reforçar a educação verbal sobre transmissão, risco de complicações com subsequentes infecções por tracoma e estratégias de prevenção, incluindo higiene das mãos e do rosto com água limpa e evitando a partilha de panos contaminados.
– Orientar que se trata de um quadro extremamente contagioso e pode ser espalhado através do contato direto com secreções do olho, do nariz, ou da garganta.
– As crianças pequenas são particularmente suscetíveis, mas a doença progride lentamente e os sintomas mais dolorosos podem não aparecer de forma rápida.
– Educar o paciente e seus familiares sobre sinais e sintomas do tracoma- Aconselhar procurar o médico de sua Equipe de Saúde da Família se eles ocorrerem.

Bibliografia Selecionada:

  1. World Health Organization. Prevention of Blindness and Visual Impairment, Priority Eye Diseases: Trachoma. Disponível em: http://www.salute.gov.it/imgs/C_17_pubblicazioni_1657_ulterioriallegati_ulterioreallegato_0_alleg.pdf 
  2. Silvana Artioli Schellini, Roberta Lilian Fernandes de Sousa. Artigos de Revisão – Tracoma: ainda uma importante causa de cegueira. Rev Bras Oftalmol 2012; 71(3): 199-204. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/rbof/v71n3/a12v71n3.pdf
  3. D’Amaral RKK, Cardoso MRA, Medina NH, Cunha ICKO, Waldman EA. Fatores associados ao tracoma em área hipoendêmica da Região Sudeste, Brasil. Cad Saúde Pública. 2005;21(6):1701-8.Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/csp/v21n6/07.pdf
  4. Lopes MFC. Tracoma: situação epidemiológica no Brasil [dissertação]. Salvador: Instituto de Saúde Coletiva. Universidade Federal da Bahia; 2008.Disponível em: https://repositorio.ufba.br/ri/bitstream/ri/10292/2/4444.pdf
  5. Bailey R, Lietman T. The SAFE strategy for the elimination of trachoma by 2020: will it work? Bull World Health Organ. 2001;79(3):233-6.Disponível em: http://www.who.int/bulletin/archives/79(3)233.pdf
  6. Maxine A. Papadakis, Stephen J. McPhee, Michael W. Rabow. Current Medical Diagnosis & Treatment 2017
  7. Kevin J. Knoop, Lawrence B. Stack, Alan B. Storrow, R. Jason Thurman. The Atlas of Emergency Medicine, 4e
  8. Richard P. Usatine, Mindy A. Smith, Heidi S. Chumley, E.J. Mayeaux Jr. The Color Atlas of Family Medicine, 2e
  9. Paul Riordan-Eva, Emmett T. Cunningham Jr. Vaughan & Asbury’s General Ophthalmology, 18e
  10. Yorston D. Ophthalmology. In: Eddleston M, Davidson R, Brent A, Wilkinson R, eds. Oxford Handbook of Tropical Medicine. 3rd ed. New York, NY: Oxford University Press; 2008:523.