O que fazer quando os incisivos inferiores permanentes erupcionam por lingual dos decíduos?

| 21 fevereiro 2018 | ID: sofs-37373
Solicitante:
CIAP2:
DeCS/MeSH: , , ,

A decisão está entre extrair os dentes decíduos que não esfoliaram ou aguardar até que esfoliem, sem a necessidade de uma intervenção mais traumática à criança, que, na maioria das vezes, nunca se submeteu a um procedimento cirúrgico. Esta segunda opção costuma não ser bem aceita por alguns pais, que vêm em busca de uma solução imediata para o problema que os incomoda. Mesmo naqueles pacientes com espaço insuficiente no arco para o alinhamento dos dentes permanentes recém-erupcionados, a situação tende a melhorar sem procedimento cirúrgico.


Entretanto, as decisões de tratamento podem diferir, segundo a idade da criança, a presença de diastemas na arcada inferior e a consequente presença ou ausência de espaço. Por outro lado, a sensação dos pais não pode ser ignorada na decisão de tratamento pelo profissional.
A literatura tende a levar em consideração o manejo comportamental do paciente no consultório odontológico, evitando ao máximo a exposição, muitas vezes, desnecessária da criança, em idade precoce, a procedimentos invasivos, como a extração dentária, conduzindo a uma adaptação do paciente de forma agradável ao tratamento odontológico. Desta forma, a correção espontânea dos incisivos inferiores permanentes erupcionados lingualmente deve ser estimulada em pacientes que possuem diastemas no arco inferior, ou ainda, mesmo naqueles que possuem um leve apinhamento, visto que tal correção ocorrerá em certo tempo, fazendo com que a proposta da observação vigilante encontre justificativa (2).
Naquelas crianças com desenvolvimento ósseo adequado e oclusão normal, deixar os incisivos decíduos retidos o máximo possível em boca parece ser a melhor conduta, a fim de aguardar o desenvolvimento natural do arco e a ação de uma série de forças, influenciando e guiando os incisivos permanentes à posição normal com o tempo.

Complementação
A erupção lingual dos incisivos permanentes é uma situação clínica comum no início da dentição mista, gerando preocupação aos pais dos pacientes infantis com esta condição. Esta condição pode ocorrer tanto em crianças que apresentem um comprimento inadequado do arco, bem como naqueles que possuem espaço adequado na região dos incisivos decíduos (1). A simples constatação de uma dupla fileira de dentes inferiores nos filhos gera ansiedade e um desconforto estético nos pais que logo procuram o dentista em busca de um tratamento imediato para esta situação.
Durante o período de transição da dentição decídua para a mista, um apinhamento dentário mínimo é frequente no desenvolvimento normal da dentição. Tal apinhamento também costuma ser observado após a erupção dos incisivos centrais inferiores permanentes. Com a erupção dos incisivos inferiores permanentes, um apinhamento leve representa um estágio normal do desenvolvimento e é resolvido com o aumento da distância intercanina, com o posicionamento vestibular dos incisivos permanentes em relação aos decíduos e o movimento distal dos caninos nos espaços primatas (1,3).

Atributos da APS
Conhecer o padrão de normalidade das dentições em desenvolvimento da criança, bem como analisar o comprimento do arco, são essenciais para que sejam traçadas propostas de tratamento eficazes a esta frequente condição clínica, não só no sentido tecnicista mas sobretudo levando-se em consideração o manejo comportamental dos pacientes infantis. Assim, todos os esforços na APS devem estar dirigidos ao diagnóstico adequado e na decisão de tratamento que favoreça o comportamento futuro do paciente no consultório odontológico, nunca esquecendo-se de explicitar aos pais ansiosos os benefícios da observação vigilante, mantendo-se os incisivos decíduos retidos em boca por mais tempo possível, até que os permanentes possam ocupar o seu lugar, permitindo a esfoliação fisiológica de seus antecessores.

Bibliografia Selecionada:

1. Aminabadi NA, et al. Lingual eruption of mandibular permanent incisors: a space correlated phenomenon? J Contemp Dent Pract. 2009;10(1):25-32, jan. Disponível em: https://pdfs.semanticscholar.org/000e/38f92168191f6c2f0c0d4d40b5508d284d28.pdf
2. Bell RA, Sonis A. Space supervision and guidance of eruption in management of lower transitional crowding: A non-extraction approach. Semin Orthod. 2014;20(1):16-35, mar.  Disponível em: http://www.semortho.com/article/S1073-8746(13)00077-7/pdf
3. Linck GKSB. Estudo do alinhamento dos incisivos inferiores na dentição mista. Faculdade de Odontologia de Piracicaba, Universidade Estadual de Campinas, São Paulo. 2013: 35p. Monografia(Especialização em Ortodontia).  Disponível em: http://www.bibliotecadigital.unicamp.br/document/?code=000903356&opt=1