Por que alguns pacientes que tiveram Arbovirose Chikungunya continuam com artralgia por um longo período de tempo?

| 9 agosto 2018 | ID: sofs-40627
Solicitante:
CIAP2:
DeCS/MeSH: ,
Recorte Temático:

Os mecanismos fisiopatológicos da dor musculoesquelética e da artrite crônica após infecção pelo vírus da chikungunya são parcialmente conhecidos. Acredita-se que esses sintomas sejam decorrentes do escape precoce do vírus da chikungunya do interior dos monócitos e consequente realocação nos macrófagos sinoviais. Essa hipótese tem sido reforçada pela observação da persistência, por tempo prolongado, do vírus da chikungunya em tecidos musculares, articulares, hepático e linfoide.


Após a fase subaguda, alguns pacientes poderão ter persistência dos sintomas, principalmente dor articular e musculoesquelética. As manifestações têm comportamento flutuante.
A prevalência desta fase é muito variável entre os estudos, podendo atingir mais da metade dos pacientes. Os principais fatores de risco para a cronificação são a idade acima de 45 anos, desordem articular preexistente e maior intensidade das lesões articulares na fase aguda.
A poliartrite distal com artropatia deformante em alguns casos pode vir acompanhada de exacerbação das dores articulares e depressão com fadiga crônica. Indica-se anti-inflamatório não hormonal para alívio do componente artrítico.
O uso de analgésicos mais potentes como morfina ou uso de corticosteróides podem ser necessários para pacientes com dor intensa que não obtiveram alívio com os anti-inflamatórios não hormonais. Injeções intra-articulares de corticóide e uso de metotrexate são alternativas para pacientes com sintomas articulares refratários; Fisioterapia deve ser instituída gradualmente.
Nesse cenário o paciente deve ser acompanhado pelo reumatologista. Alguns medicamentos são usados em quadros persistentes subagudos ou crônicos (Cloroquina, Aciclovir, Ribavirina, Interferon-alfa, Corticóide, Anticorpos monoclonais e Methotrexate), porém ainda não existem ensaios clínicos robustos que demonstrem eficácia dos mesmos.

Atributos da APS:

Acesso – Os profissionais da APS devem facilitar o acesso dos pacientes com sinais e sintomas de infecções febris e dores articulares.
Longitudinalidade –  É importante o acompanhamento desses pacientes ao longo do tempo, pois com o vínculo é possível conhecer suas fragilidades e individualizar o seguimento. Pode-se ainda identificar aqueles com rede social frágil e dificuldade com as medicações, muitas dessas questões podem ser acompanhadas e acessadas pelos próprios ACS nas visitas domiciliares.
Coordenação do Cuidado – A equipe de saúde deve estar ciente e participar de recomendações que o paciente possa receber em serviços de pronto atendimento, ambulatórios especializados ou com outros profissionais fora do território de atuação do Centro de Saúde.

Sof Relacionada:

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Bibliografia Selecionada:

1. Murillo-Zamora E, Mendoza-Cano O, Trujillo-Hernández B, Guzmán-Esquivel J,Higareda-Almaraz E, Higareda-Almaraz MA, Sánchez-Piña RA, Lugo-Radillo A.Persistent Arthralgia and Related Risks Factors: A Cohort Study at 12 Months from Laboratory-Confirmed Chikungunya Infection. Arch Med Res. 2018 Apr 24. pii:S0188-4409(18)30108-5. Disponível em: https://www.arcmedres.com/article/S0188-4409(18)30108-5/fulltext
2. Murillo-Zamora E, Mendonza-Cano O, Trujillo-Hernández B, Sánchez-Piña RA. Gusmán-Esquivel J. Persistent arthralgia and related risks factors in laboratory-confirmed cases of Chikungunya virus infection in Mexico. Rev Panam Salud Publica. 2017 Jun 8;41:1-8. Disponível em: https://scielosp.org/pdf/rpsp/2017.v41/e72/en
3. Yaseen HM, Simon F, Deparis X, Marimoutou C. Identification of initial severity determinants to predict arthritis after chikungunya infection in a cohort of French gendarmes. BMC Musculoskelet Disord. 2014 Jul 24;15:249. Disponível em: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC4121301/pdf/1471-2474-15-249.pdf
4. Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Departamento de Vigilância das Doenças Transmissíveis. Febre de chikungunya: manejo clínico. Brasília; 2015:30p. [acesso em 26 jun 2018]. Disponível em: http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/febre_chikungunya_manejo_clinico.pdf
5. Thiberville SD, Moyen N, Dupuis-Maguiraga L, Nougaired A, Gould EA, Roques P, Lamballerie X. Chikungunya fever: Epidemiology, clinical syndrome, pathogenesis and therapy. Antiviral Res. 2013 Sep;99(3):345–370. Disponível em: https://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S0166354213001666?via%3Dihub