Quais atividades de educação em saúde podem ser desenvolvidas em crianças em idade escolar de 04 a 10 anos além dos métodos mais utilizados (escovação, palestras e vídeos) ?

| 15 outubro 2009 | ID: sofs-3108
Solicitante:
CIAP2:
DeCS/MeSH: ,
Graus da Evidência:

Educação em saúde bucal é o processo pelo qual as pessoas ganham conhecimento, seconscientizam e desenvolvem habilidades necessárias para alcançar a saúde bucal. Portanto, ela é focada em oportunidades de aprendizagem. Como ressaltaste em tua pergunta, algumas atividades parecem não motivar os alunos ou mesmo causar resistência. Neste sentido, apresentarei algumas sugestões baseadas na literatura disponível. Cabe destacar que a eficácia de cada método pode variar dependendo da população onde ela é utilizada.
Segundo Frazão e Narvai, para estabelecer uma relação de ensino-aprendizagem, o educador em saúde bucal pode organizar determinadas atividades para operar como instrumentos de trabalho em sala de aula. Essas atividades para serem significativas devem:
a) partir do conhecimento prévio que o aluno traz a respeito do tema a ser trabalhado, do que gostaria de saber, suas dúvidas, curiosidades etc;
b) propiciar ao aluno constantes processos de interação entre: aluno-aluno, aluno-adulto, aluno-objeto de conhecimento. É a partir desses processos de socialização do saber que ocorrem trocas de conhecimentos entre os indivíduos e, é no confronto de hipóteses diferentes que o conhecimento vai sendo construído.
c) trabalhar com o interesse do aluno. A partir do interesse são desencadeadas ações que levam à busca do conhecimento.
As atividades que são mais prazerosas e mais ricas são sempre sustentadas por algum tipo de motivação. É muito difícil pedir que uma criança se empenhe numa atividade de aprendizagem se ela não vê interesse algum na atividade. Então é necessário pensar no que seja esse interesse. Pode-se admitir pelo menos dois tipos de interesse: o imediato e o diferido.
O interesse imediato manifesta-se em atividades realizadas com um fim em si mesmas, como por exemplo, o jogo. Já o interesse diferido manifesta-se em atividades onde a criança a realiza com o objetivo de obter algum benefício futuro, conferindo sentido à tarefa cuja função é trabalhar determinados objetos de conhecimento cujos resultados muitas vezes só serão sentidos no futuro, como por exemplo, a compreensão de que é preciso escovar os dentes para não desenvolver a cárie dentária (Grau D).
Quando pretendemos elaborar qualquer tipo de material educativo para crianças temos que ter sempre em mente que o mundo delas é mesclado de fantasia e realidade e que elas também não estão a salvo das contradições e ambivalências do cotidiano vivido por todos nós. Incluir a fantasia nas ações educativas através de dramatizações, desenhos, colagens, possibilita que a criança possa se identificar com personagens e situações, como uma brincadeira. Assim ela irá se descobrindo, desvendando o mundo, criando, interpretando e se apropriando do real. Deve-se dar destaque aos personagens que fazem parte da vida da criança. A seguir são apresentados alguns exemplos de atividades na concepção construtivista:

1) O QUE FAZ O DENTISTA?
Objetivo: levantar junto aos alunos as informações que dispõem sobre a profissão de dentista.
Material: papel sulfite e lápis de cor.
Procedimento:
a) pedir aos alunos que façam um desenho onde expressem o que elas acham que um dentista faz.
b) sentar os alunos em círculo no meio da sala e pedir que cada um fale sobre o que desenhou.
c) anotar na lousa o que vai sendo dito, completando e explicando sobre: o que o dentista faz; quais os instrumentos que utiliza; qual a importância do seu trabalho; o que ele precisa estudar para se tornar dentista etc.

2)COMO É A NOSSA BOCA?
Objetivo: propiciar o conhecimento e o reconhecimento de nossa boca.
Material: papel sulfite, lápis de cor e massa de modelar.
Procedimento:
a) pedir aos alunos que se sentem no chão, em duplas, um em frente ao outro. O primeiro “examina” a boca do outro, invertendo-se os papéis em seguida. Pedir que observem o formato dos dentes, sua cor, se existem cáries ou não, a cor da língua, o tamanho dos dentes etc. Se necessário explicar como esses aspectos podem ser observados.
b) cada aluno deverá, após o “exame” da boca de seu colega, fazer um desenho do que viu.
c) em seguida, cada um com o seu desenho, sentando-se à mesa, deverá reproduzir com a massa de modelar o que desenhou.
d) fazer uma “exposição” do que foi construído com a massa de modelar, colocando os trabalhos no centro da sala para que todos vejam.
e) levantar junto aos alunos suas hipóteses a respeito de: – qual a função dos dentes ? – por que eles são diferentes ? – qual a função da língua ? – por que temos saliva na boca ? – por que os dentes estragam?
f) a partir do que foi sendo falado, complementar com informações adicionais as questões discutidas.

3) COMO É O “BICHO DA CÁRIE”?
Objetivo: trabalhar com os alunos suas hipóteses a respeito de como a cárie é causada.
Material: papel sulfite e giz de cera.
Procedimento:
a) distribuir o papel e o giz para as crianças, fazendo a seguinte proposta: “desenhem como vocês imaginam o bicho da cárie “.
b) após o término do trabalho, pedir as crianças que falem sobre os seus desenhos tentando fazer com que expressem o porquê imaginaram o bicho dessa forma. c) exemplificar apresentando aos alunos a bactéria que causa a cárie em forma de desenhos ou de diapositivos, ou até mesmo através do microscópio. Explicar como ela agride a superfície dentária e como ela consegue sobreviver na boca.
d) concluir a atividade aplicando um evidenciador de placa bacteriana a fim de demonstrar que as bactérias vivem juntas, em “bando”, na forma de uma placa ou massa branca aderida à superfície dos dentes. Em seguida, estimular a remoção da placa bacteriana com uso de escova e dentifrício.

Mesquini e colaboradores (2006) reuniram informações sobre a formação da placa dental, gengivite e cárie dental e as contextualizaram dentro do conteúdo ministrado em Ciências e Biologia para os alunos do Ensino Fundamental e Médio, como estratégia para subsidiar a educação em saúde bucal (Grau D).
Já Garcia et al. (2000) desenvolveram programa de prevenção e educação em saúde bucal utilizando material audiovisual, orientação direta e apresentação do Robô-Dente. Avaliaram o aprendizado de 682 crianças das primeiras às quartas séries do ensino fundamental de três escolas públicas da cidade de Araraquara, submetidas a esse programa educativo em saúde bucal, mediante análise de redações feitas pelas crianças, após 15 dias da aplicação do programa, utilizando palavras-chave no contexto da saúde bucal.
A programação, apoiada na avaliação neurolinguística das informações, valorizou o trabalho com os sentidos: visual, auditivo e cinestésico. Esteve apoiada em três modelos de práticas informativas: palestras, para estimular os sentidos visual e auditivo; atividade clínica de educação e higiene bucal, cujo principal estímulo foi o cinestésico e tátil-motor, além do estímulo auditivo e visual; e utilização de recurso (o Robô-Dente) para trabalhar informação, que foi centralizada no estímulo auditivo e visual, que, embora colabore no processo de retenção de informações, não garante a consciência da necessidade do cuidado com a saúde.
Os autores do estudo constataram que apesar de a proposta ter tido grande aceitação, programas baseados no binômio prevenção-educação precisam ser realizados com continuidade para que ganhem impacto (Grau D).

 


Bibliografia Selecionada:

  1. Mesquini MA, Molinari SL, Prado IMM. Educação em saúde bucal: uma proposta para abordagem no ensino fundamental e médio. Arq Mudi. 2006;10(3):16-22.
  2. Pinto VG. Saúde bucal coletiva. 4a ed. São Paulo: Santos; 2000.
  3. Narvai PC. Odontologia e saúde bucal coletiva. São Paulo: Hucitec; 1994.
  4. Garcia, PPNS, et al. Saúde bucal: crenças e atitudes, conceitos e educação de pacientes do serviço público. Jao: J Assess Odontologista (Curitiba). 2000;3(22):36-41.
  5. Vasconcelos, R. et al. Escola: um espaço importante de informação em saúde bucal para a população infantil. PGR – Pós Grad Rev Fac Odontol (São José dos Campos). 2001;4(3):43-8.