Quais os efeitos de aumentar a ingestão de líquidos para pessoas com infecções respiratórias agudas?

| 6 novembro 2007 | ID: sofs-26
Solicitante:
CIAP2:
DeCS/MeSH: ,
Graus da Evidência:

Não há evidências contra ou a favor da recomendação de aumentar a ingestão de líquidos em infecções respiratórias agudas. As implicações desta recomendação não foram estudadas em estudos clínicos randomizados (ECRs) até a presente data. Alguns estudos observacionais sugerem que possa haver prejuízos com a medida. Há necessidade de estudos adequadamente desenhados e realizados em atenção primária para determinar os verdadeiros efeitos desta orientação médica corriqueira.
As evidências disponíveis para responder as questões formuladas não são de estudos clínicos randomizados controlados e foram realizados em ambiente hospitalar. Os achados de hiponatremia e aumento de hormônio anti-diuréticos descritos não parecem ser relevantes para APS e estão provavelmente relacionados à terapia endovenosa. Não é possível, baseado nestes dados, fazer uma recomendação inequívoca para a conduta de hidratação em infecções respiratórias agudas em atenção primária.

 


Sumário das evidências
Um benefício citado como potencial dos fluídos seria a prevenção ou tratamento de desidratação associada (WHO 1990). Há somente dados observacionais em crianças suportando esta recomendação. Outro benefício potencial é a redução do volume e viscosidade do muco. Saketatkhoo (1978) encontrou que a velocidade do muco nasal era aumentada pela ingestão de líquidos quentes em um pequeno estudo controlado em indivíduos saudáveis. Shim (1987) não encontrou alteração na produção em um estudo controlado de hidratação versus desidratação em pacientes com bronquite crônica. Estes estudos não foram realizados em pessoas com infecções respiratórias agudas e, portanto, excluídas da revisão.|
Estudos observacionais hospitalares sugerem potencial nocivo na recomendação de aumento da ingestão de líquidos em crianças com pneumonia admitidas para tratamento hospitalar. Shann (1985) relatou incidência de hiponatremia de 45% e Dhawan (1992), de 31%. Em outro estudo observacional de crianças com bronquiolite, nenhuma teve hiponatremia apesar de 22 das 23 terem aumento dos níveis de hormônio anti-diurético (HAD) (Gozal, 1990). 21% das crianças admitidas em hospital por infecção pelo vírus sincicial respiratório (VSR), o que incluía crianças com bronquiolite, tiveram hiponatremia em outro estudo observacional (Van Steensel-M 1990). Os sintomas de hiponatremia não foram relatados. Estes estudos foram realizados em crianças hospitalizadas. A importância clínica destes dados para a atenção primária e para adultos não é clara. Não são relatados desfechos relacionados à essa hiponatremia.
Quanto ao local e tipo de infecção (alta ou baixa) no trato respiratório, a maioria dos estudos referindo hiponatremia eram de infecções baixas. Hiponatremia também foi associada com infecções de trato respiratório inferior em adultos, incluindo pneumonia (Breuer, 1981; Pollard, 1975; Rosenow, 1972) e bronquite (Heim, 1982).
Dois casos de hiponatremia sintomática foram relatados em crianças com infecção de trato respiratório superior (Lipsitz, 1984 e Lubitz, 1982). Entretanto, isto parece ser raro. Em um estudo de crianças com infecção pelo VSR, nenhuma das crianças no grupo das infecções respiratórias altas teve hiponatremia (Van Steensel-M 1990).
Quanto à severidade da infecção, também não houve ECRs que respondessem à questão. Dados observacionais sugerem que a hiponatremia ocorre mais frequentemente em infecções mais graves. Dhawan 1992 relatou hiponatremia duas vezes mais comumente em crianças com pneumonia grave. Hanna 2003 relatou 33% de incidência de hiponatremia em crianças admitidas á unidade de tratamento intensivo por bronquiolite. Van Steensel-M 1990 não achou diferença dos níveis de sódio conforme a gravidade da doença, apesar da diferença de níveis de HAD.
Não há estudos relatando manejo hídrico em atenção primária.

Bibliografia Selecionada:

  1. Guppy Michelle PB, Mickan Sharon M, Del Mar Chris. Advising patients to increase fluid intake for treating acute respiratory infections. The Cochrane Library, Issue 2, Art. No. CD004419. Disponível em: http://cochrane.bvsalud.org/doc.php?db=reviews&id=CD004419&lib=COC Acesso em: 10/mar/2015.