Quais são os diagnósticos e condutas clínicas para pacientes com pigmentação branco-leitoso (opaco-poroso) no esmalte e generalizada em toda dentição mista?

| 4 fevereiro 2010 | ID: sofs-3758
Solicitante:
CIAP2:
DeCS/MeSH: ,
Graus da Evidência:

Muitos termos vem sendo usados para descrever os defeitos de esmalte. Os mais frequentemente utilizados são: fluorose dental, opacidades de esmalte e defeitos de desenvolvimento do esmalte.

Fluorose dental: A fluorose dental é definida como um distúrbio específico na formação do dente causado pelo consumo crônico de flúor durante a fase de formação dental.
Devido ao fato de o diagnóstico da fluorose dental ser difícil em algumas circunstâncias, existe alguma controvérsia quanto ao uso de um termo tão específico. O diagnóstico da fluorose dental requer uma inspeção adequada após limpeza e secagem de todos os dentes, sob iluminação apropriada.
A aparência clínica da fluorose leve inclui a presença de estriações brancas, difusas, opacas e bilaterais que correm ao longo do esmalte. Nas formas mais graves, o esmalte pode apresentar-se manchado e/ou “escavado”. Quando da erupção, o esmalte fluorótico não se apresenta manchado. Manchas podem se desenvolver ao longo do tempo pela difusão de íons no esmalte com porosidade aumentada.
O diagnóstico diferencial entre as opacidades do esmalte não induzidas e as induzidas por flúor é realizado a partir do estabelecimento de diferenças referentes à simetria (simétricas ou assimétricas) e aos padrões das lesões presentes (padrões discretos ou opacidades). Este critério sugere que as lesões que se apresentam opacas e simetricamente distribuídas nos dentes são compatíveis com fluorose dental.
As propostas para o manejo da fluorose dental, descritas na literatura incluem o uso clareamento dental caseiro ou profissional, uso de técnicas de microabrasão com pedra pomes e ácido fosfórico a 37% e a associação de ambas técnicas. Os resultados destas abordagens têm sido descritos como altamente satisfatórios, não resultando em desgaste excessivo de esmalte dentário hígido.

Defeitos de esmalte: Quase todos os defeitos de esmalte visíveis em dentes humanos podem ser classificados, de acordo com suas características macroscópicas, em:
1) hipoplasia, 2) opacidade demarcada ou 3) opacidade difusa.
Estes defeitos podem resultar de uma variedade de fatores locais e sistêmicos, incluíndo anormalidades cromossômicas, toxicidades por químicos como flúor, tetraciclina e antineoplásicos, anormalidades metabólicas, infecções e deficiência nutricional. A hipoplasia é um defeito que envolve a superfície do esmalte e está associada com uma redução de sua espessura.
Manifesta-se clinicamente pela presença de sulcos, ranhuras ou ainda pela perda de esmalte em áreas mais extensas da superfície do dente. O esmalte geralmente tem um aspecto translúcido ou opaco. O diagnóstico diferencial deve ser realizado descartando-se:
1) perda de esmalte em um único dente permanente ocasionada por trauma no dente decíduo predecessor ou 2) desmineralização do esmalte na fase pós-eruptiva.
A opacidade difusa é um defeito que envolve uma alteração de grau variável na translucidez do esmalte. Nesta lesão não é possível identificar com clareza os limites entre o esmalte normal e o esmalte defeituoso.
O esmalte defeituoso é de espessura normal e, ao erupcionar, apresenta como características a cor branca e a lisura superficial. A superfície do dente pode ser afetada parcial ou totalmente e as lesões são resultado de uma agressão de baixa intensidade e longa duração. A aparência clínica e a dureza das lesões são similares a de lesões de baixa gravidade em esmalte. A opacidade demarca também envolve alteração de grau variável na translucidez do esmalte.
O esmalte defeituoso apresenta espessura normal e superfície lisa e é possível identificar o limite entre o esmalte defeituoso e o normal. A cor da lesão pode ser branca, creme, amarela ou marrom. As lesões variam em extensão, posição na superfície do dente e distribuição na boca.
De acordo com as diretrizes clínicas para o manejo de defeitos de desenvolvimento dental hereditários da Academia Americana de Odontopediatria, a identificação precoce e intervenções preventivas são críticas para evitar consequências sociais e funcionais negativas nas crianças que apresentam defeitos de esmalte.
Exames regulares permitem a identificação de dentes que necessitam de cuidados ao erupcionar. Cuidados de higiene bucal meticulosos, remoção de cálculo dental e colutórios bucais podem melhorar a saúde periodontal. A aplicação de flúor e dessensibilizantes pode diminuir a sensibilidade dental.
A aparência, a qualidade e quantidade de esmalte afetado é que irão ditar o tipo de restauração necessária para que se atinja estética, mastigação e função adequadas. Quando o esmalte está intacto, mas manchado, clareamento e/ou microabrasão podem ser utilizados para melhorar a aparência dos dentes.
Se o esmalte está hipocalcificado, podem ser utilizadas restaurações com resinas compostas ou facetas adesivas. Se a adesão ao esmalte ou à dentina estiver comprometida, coroas completas ou “veneers” são necessárias.


Bibliografia Selecionada:

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