Qual a diferença do Oseltamivir em relação aos antivirais usados para tratamento de Herpes e HIV? Qual o mecanismo de ação de cada um deles?

| 24 março 2022 | ID: sofs-44815
Solicitante:
CIAP2:
DeCS/MeSH: ,

O Oseltamivir, classificado como inibidor da liberação da desmontagem viral, é um antiviral que inibe de forma seletiva a enzima neuroaminidase específica do vírus influenza, que é essencial para a entrada e liberação desse vírus nas células humanas. Desta forma, o oseltamivir, administrado por via oral, inibe a replicação dos vírus influenza. Outros exemplos de antivirais desta classe são zanamivir, rimantadina e amantadina que também atual contra o vírus da influenza(1,2).


Antivirais contra Herpes

Os antivirais da classe de inibidores da DNA-polimerase, que inibe a síntese do DNA viral e interrompe o alongamento de sua cadeia, agem contra o vírus do herpes. O aciclovir e valacyclovir (pró-droga do acyclovir com maior biodisponibilidade oral), penciclovir e famciclovir (pró-droga do penciclovir com maior biodisponibilidade oral) agem pela timidina quinase codificada pelo vírus do herpes simples (HSV) e vírus varicela-zóster (VVZ).  O foscarnete inibe a polimerase do DNA e RNA e reversão transcrita do HIV, tratando a retinite do citomegalovírus (CMV) em pacientes com AIDS.  O cidofir inibe a replicação viral do VZV, vírus de Epstein-Barr (EBV), herpes-vírus humanos tipos 6 (HHV-6) e 8 (HHV-8), além do   Papilomavírus Humano (HPV). Ganciclovir e valganciclovir (pró-droga do ganciclovir com maior biodisponibilidade oral), agem pela quinase codificada pelo CMV. O foscarnet inibe da polimerase do DNA e RNA e reversão transcrita do HIV, tratando a retinite por CMV em pacientes com AIDS. Fomivirsen bloqueia a tradução do mRNA do CMV(2,3).

O grupo de herpes-vírus é formado por, no mínimo, oito vírus humanos e inúmeros vírus animais. Os herpes-vírus humanos incluem o seguinte: vírus do herpes simples tipos 1 e 2 (HSV-1 e HSV-2), vírus varicela-zóster (VVZ), citomegalovírus (CMV), vírus de Epstein-Barr (VEB) e herpes-vírus humanos tipos 6 (HHV-6), 7 (HHV-7) e 8 (HHV-8), também conhecido como herpes-vírus associado ao sarcoma de Kaposi (KSHV). Todos os herpes-vírus humanos têm dimensões e morfologia semelhante e compartilham as mesmas propriedades de latência e reativação. Os sítios de latência variam: o HSV e o VVZ persistem nas células dos gânglios neurais, o VEB persiste nas células B e o CMV permanece latente em muitos tipos de células. Os sítios de latência do HHV-6 e HHV-7 não foram identificados, embora esses dois herpes-vírus tenham sido detectados nas glândulas salivares.

Antivirais contra o HIV

Os antirretrovirais impedem a multiplicação do retrovírus no organismo, a classe de vírus que causa o HIV. Os inibidores nucleosídeos da transcriptase reversa atua sobre a enzima transcriptase reversa, tornando defeituosa a cadeia de DNA que o vírus HIV cria dentro das células de defesa do organismo. Essa ação impede que o vírus se reproduza. Abacavir, didanosina, lamivudina, tenofovir e zidovudina são exemplos de antirretrovirais desta classe. Os inibidores não nucleosídeos da transcriptase reversa atuam sobre a enzima transcriptase reversa, bloqueando diretamente sua ação e a multiplicação do vírus. Exemplos desses são efavirenz, nevirapina, etravirina. Os inibidores de protease atuam na enzima protease, bloqueando sua ação e impedindo a produção de novas cópias de células infectadas com HIV. Exemplos dessas drogas: tazanavir, darunavir, fosamprenavir, lopinavir, nelfinavir, ritonavir, saquinavir, tipranavir.  Os inibidores de fusão impedem a entrada do vírus HIV nas células de defesa do organismo, impedindo a sua reprodução. A enfuvirtida é a droga que represente esta classe.  Os inibidores da integrase bloqueiam a atividade da enzima integrase, responsável pela inserção do DNA do HIV ao DNA humano (código genético da célula), inibindo a replicação do vírus e sua capacidade de infectar novas células.  Duas drogas agem desta forma, dolutegravir e raltegravir. Os inibidores de entrada impedem a entrada do vírus HIV nas células de defesa do organismo, impedindo a sua reprodução. O Maraviroc, por exemplo, bloqueia a entrada e infecção do HIV nos macrófagos. A combinação dos antirretrovirais é a melhor opção para o tratamento do HIV(2,4).

Os antivirais são eficazes contra vírus em replicação ativa ou latentes. Os objetivos do tratamento de infecções virais são reduzir a gravidade da doença e suas complicações e diminuir a taxa de transmissão do vírus, podendo ser usados ​​para profilaxia, supressão, terapia preventiva ou tratamento da doença manifesta. Os medicamentos antivirais utilizam diferentes mecanismos para frear a ação dos vírus, preservar o organismo e impedir a evolução e agravamento da doença.  Alguns impedem os microrganismos de invadir as células humanas enquanto outros agem diretamente sobre as informações genéticas do vírus, enfraquecendo a replicação viral em diferentes estágios no ciclo da vida viral como ligação à célula hospedeira, síntese, tradução e replicação de RNA e DNA viral, liberação de vírus nos fluidos corporais(1,2,3).

Como o HIV é um retrovírus, seus antivirais são chamados de antirretrovirais. Da subfamília dos Lentiviridae, compartilham algumas propriedades comuns: período de incubação prolongado antes do surgimento dos sintomas da doença, infecção das células do sangue e do sistema nervoso e supressão do sistema imune(5,6).

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Bibliografia Selecionada:

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