Qual a efetividade de intervenções baseadas em conhecimentos, habilidades e em resposta afetiva (intervenções motivacionais) realizadas nas escolas quando comparados com as atividades curriculares habituais visando a prevenção no consumo de drogas?

| 21 dezembro 2007 | ID: sofs-49
CIAP2:
DeCS/MeSH: ,

Este tema é relevante para os profissionais da APS, dado que atuam em colaboração intersetorial com a rede educacional.
A dependência química (Amato 2005) é uma doença crônica, recorrente, caracterizada pelos efeitos do consumo prolongado da droga e o transtorno comportamental devido à sua busca compulsiva (Leshner 1997). O uso experimental, que precede à dependência, afeta principalmente os adolescentes, que “consomem drogas simplesmente pelas sensações prazerosas de euforia que as mesmas possam produzir e para sentir-se aceito pelo seus colegas” (Leshner 1999).
As escolas constituem um âmbito propício para os programas de prevenção do consumo ilegal de drogas. Quatro em cada 5 fumantes (nicotina) iniciam antes da idade adulta; assim a prevenção do consumo de substâncias (legais ou ilegais) deve centrar-se nas crianças em idade escolar e nos adolescentes, antes que se estabeleçam suas crenças e expectativas de consumo de substâncias.
As escolas oferecem uma maneira sistemática e eficiente de ter acesso a um número considerável de jovens, desde que haja pessoal preparado para aproveitar essa oportunidade de prevenção. As equipes de APS podem desempenhar este papel em colaboração com a escola.

 


Resumo e comentário por Adolfo Oscar Gigglberger Bareiro em 24 Novembro 2007

Resposta baseada em evidência
Os programas baseados nas habilidades parecem ser efetivos para desestimular o consumo inicial de drogas. As escolas constituem um âmbito propício para os programas de prevenção do consumo ilegal de drogas antes dos os alunos estabelecerem crenças e atitudes favoráveis ao consumo de drogas. As escolas têm um acesso eficiente a um número considerável de crianças e adolescentes, podendo efetivar uma gama ampla de medidas educativas nesse sentido.
Principal estudo, grau de recomendação B do Projeto Diretrizes da AMB.
Botvin GJ, Baker E, Dusenbury L, Botvin EM, Diaz T. Long-term follow-up results of a randomized drug abuse prevention trial in a white middle-class population. JAMA 1995;273(14):1106-12.
Sumário de evidências
Foram incluídos 32 estudos, dos quais 29 eram ensaios clínicos randomizados e 3 estudos prospectivos (observacionais). Trinta ocorreram nos Estados Unidos, 1 no Canadá e outro na Rússia, com duração do seguimento de 1 até 10 anos, com alunos do 1º ano do ensino fundamental até o ensino médio. Dos estudos prospectivos, nenhum resultado estatisticamente significativo surgiu.
Dentre os ensaios clínicos randomizados, foram avaliadas seis intervenções:

  1. Conhecimento versus currículo habitual: os programas baseados na informação aumentam o conhecimento a respeito das drogas (DP = 0,91; IC 95%: 0,42 – 1,39).
  2. Habilidades versus currículo habitual: as intervenções baseadas nas habilidades aumentam o conhecimento a respeito das drogas (DP = 2,60; IC 95%: 1,17 – 4,03), as habilidades para tomada de decisões (DP = 0,78; IC 95%: 0,46 – 1,09), a autoestima (DP = 0,22; IC 95%: 0,03 a 0,40), a resistência à pressão dos colegas (RR = 2,05; IC 95%: 1,24 – 3,42), houve redução no consumo de drogas (RR = 0,81; IC 95%: 0,64 – 1,02), consumo de cannabis (RR = 0,82; IC 95%: 0,73; 0,92) e consumo de drogas mais pesadas (RR = 0,45; IC 95%: 0,24 – 0,85).
  3. Habilidades versus conhecimento: Não há diferenças evidentes.
  4. Habilidades versus intervenções motivacionais: as intervenções baseadas nas habilidades são mais efetivas do que as baseadas na resposta afetiva a intervenções motivacionais (DP = 1,90; IC 95%: 0,25 – 3,55).
  5. Resposta afetiva a intervenções motivacionais versus currículo habitual: as intervenções baseadas na resposta afetiva aumentam o conhecimento a respeito das drogas (DME = 1,88; IC 95%: 1,27 2,50) e as habilidades para tomada de decisões (DME = 1,35; IC 95%: 0,79 a 1,9).
  6. Resposta afetiva a intervenções motivacionais versus conhecimento: não há diferença significativa

Bibliografia Selecionada:

  1. Bernstein E, Woodall WG. Changing perceptions of riskiness in drinking, drugs, and driving: an emergency department-based alcohol and substance abuse prevention program. Ann Emerg Med. 1987 Dec;16(12):1350-4. Disponível em: http://ac.els-cdn.com/S0196064487804171/1-s2.0-S0196064487804171-main.pdf?_tid=fef1d014-bd1d-11e4-ac5d-00000aacb35d&acdnat=1424889905_1c025649f274a96c7df624dda32ecb5c.
  2. Botvin GJ, Baker E, Filazzola AD, Botvin EM. A cognitive-behavioral approach to substance abuse prevention: one-year follow-up. Addict Behav. 1990;15(1):47-63. Disponível em: http://ac.els-cdn.com/030646039090006J/1-s2.0-030646039090006J-main.pdf?_tid=04b926ea-bd1f-11e4-b657-00000aab0f26&acdnat=1424890344_7be1dc59e7e2d2bb95bd055ee41845d5
  3. Botvin GJ, Baker E, Renick NL, Filazzola AD, Botvin EM. A cognitive-behavioral approach to substance abuse prevention. Addict Behav. 1984;9(2):137-47. Disponível em: http://ac.els-cdn.com/0306460384900510/1-s2.0-0306460384900510-main.pdf?_tid=3757db00-bd1f-11e4-8a07-00000aab0f02&acdnat=1424890429_7a3eaf4f6f6e8b95c087de5fbbfbc867
  4. Botvin GJ, Baker E, Dusenbury L, Botvin EM, Diaz T. Long-term follow-up results of a randomized drug abuse prevention trial in a white middle-class population. JAMA. 1995 Apr 12;273(14):1106-12.
  5. Botvin GJ, Baker E, Dusenbury L, Tortu S, Botvin EM. Preventing adolescent drug abuse through a multimodal cognitive-behavioral approach: results of a 3-year study. J Consult Clin Psychol. 1990 Aug;58(4):437-46.
  6. Botvin GJ, Schinke SP, Epstein JA, Diaz T. Effectiveness of culturally focused and generic skills training approaches to alcohol and drug abuse prevention among minority youths. Psychol Addict Behav. 1994;8(2):116-27.
  7. Cook R, Lawrence H, Morse C, Roehl J. An evaluation of the alternatives approach to drug abuse prevention. Int J Addict. 1984 Nov;19(7):767-87.
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  10. Bell RM, Ellickson PL, Harrison ER. Do drug prevention effects persist into high school? How project ALERT did with ninth graders. Prev Med. 1993 Jul;22(4):463-83. Disponível em: http://ac.els-cdn.com/S0091743583710388/1-s2.0-S0091743583710388-main.pdf?_tid=9e66d700-bd20-11e4-a450-00000aacb35e&acdnat=1424891032_cc41cfb6862f94ff1ceeb4a3ca815356