Qual a eficácia da psicoterapia em relação ao abuso e/ou dependendência da maconha em pacientes ambulatoriais?

| 3 dezembro 2007 | ID: sofs-39
CIAP2:
DeCS/MeSH: , , ,

Objetivo secundário:

O tema é relevante para APS. Segundo dados do Centro Brasileiro de Informação sobre Álcool e Outras Drogas – CEBRID (2005), numa pesquisa realizada em 108 cidades brasileiras com população acima de 200 mil habitantes:

  1. Da população pesquisada, 22,8% já fizeram uso de drogas, exceto tabaco e álcool, correspondendo a uma população de 10.746.991 pessoas.
  2. O uso de maconha aparece em primeiro lugar entre as drogas ilícitas, com 8,8% dos entrevistados. Comparando-se esse resultado com os de outros estudos, pode-se verificar que é bem menor que o de países, como EUA (40,2%), Reino Unido (30,8%), Dinamarca (24,3%), Espanha (22,2%) e Chile (22,4%). Mas superior à Bélgica (5,8%) e Colômbia (5,4%).

Tanto a TCC como a TM podem ser aprendidas e praticadas por profissionais de APS, seja individualmente como em grupo. Assim, associando fatores como vínculo do paciente com a equipe de saúde da família, terapia medicamentosa e psicoterapia o paciente terá uma chance ainda maior na diminuição do consumo ou até abstinência da droga. Entretanto, esses profissionais devem estar alertas paralelamente aos riscos dessas pessoas para a substituição de dependências em direção ao álcool.

 

 


Resumo e comentário por Adolfo Oscar Gigglberger Bareiro em 26 de Novembro de 2007

Resposta Baseada em Evidências
Principal estudo analisado
O estudo mais recente, de maior tamanho e melhor qualidade foi o de Babor1 (2004), grau de recomendação B do Projeto Diretrizes da AMB.
Há resposta a vários tipos de intervenções, mas a obtenção da abstinência contínua é menos frequente do que a diminuição do consumo de Cannabis. A abstinência não é o único desfecho importante dos tratamentos.
Sumário das Evidências
Analisou-se 39 estudos. Seis ensaios clínicos randomizados e controlados faziam a análise de algum tipo de intervenção psicoterapêutica para a dependência de cannabis em comparação com um grupo controle. Cinco dos estudos foram realizados no Estados Unidos e 1 na Austrália. Foram comparadas modalidades diferentes de tratamento:Terapia Cognitiva Comportamental (TCC), Terapia Motivacional (TM) e apoio social tanto em sessões individuais como grupais.
O número total de participantes foi 1297, entre 18 e 65 anos. A duração dos estudos foi de 4 a 18 semanas. O número de sessões frequentadas variou de 55% a 78%. As taxas de conclusão das sessões propostas foram de 65% (TCC) a 45 % (TM). A baixa taxa de abstinência obtida comprova que, em pacientes ambulatoriais, a psicoterapia tem efeitos limitados na dependência de cannabis. No entanto, houve uma redução significativa no índice de severidade de adição quando comparados antes, durante e no final das terapias (p < 0,01).
Os sintomas da dependência foram menores na TCC do que na TM, embora a diferença não tenha significância estatística (p = 0,52). Os estudos demonstraram que a TCC, TM e o apoio social são efetivos para a diminuição do consumo da droga, independente das sessões serem individuais ou grupais. Houve, porém, um incremento no consumo de álcool em decorrência da diminuição do consumo de cannabis em 3, 6 e 12 meses de seguimento (p < 0,02).

Bibliografia Selecionada:

  1. Budney AJ, Higgins ST, Radonovich KJ, Novy PL. Adding voucher-based incentives to coping skills and motivational enhancement improves outcomes during treatment for marijuana dependence. J Consult Clin Psychol. 2000 Dec;68(6):1051-61.
  2. Copeland J, Swift W, Roffman R, Stephens R. A randomized controlled trial of brief cognitive-behavioral interventions for cannabis use disorder. J Subst Abuse Treat. 2001 Sep;21(2):55-64; discussion 65-6. Disponível em: http://ac.els-cdn.com/S0740547201001799/1-s2.0-S0740547201001799-main.pdf?_tid=340370a4-bd2e-11e4-b9ef-00000aab0f27&acdnat=1424896866_018bed51e60b15f0928fea713114a20c
  3. Denis Cecile, Lavie Estelle, Fatseas Melina, Auriacombe Marc. Psychotherapeutic interventions for cannabis abuse and/or dependence in outpatient settings. Cochrane Database of Systematic Reviews. In: The Cochrane Library, Issue 2, Art. No. CD005336. Disponível em: http://cochrane.bvsalud.org/doc.php?db=reviews&id=CD005336&lib=COC. Acesso em: 03 junho 2015
  4. Marijuana Treatment Project Research Group. Brief treatments for cannabis dependence: findings from a randomized multisite trial. J Consult Clin Psychol. 2004 Jun;72(3):455-66.
  5. Sinha R, Easton C, Renee-Aubin L, Carroll KM. Engaging young probation-referred marijuana-abusing individuals in treatment: a pilot trial. Am J Addict. 2003 Jul-Sep;12(4):314-23.
  6. Stephens RS, Roffman RA, Simpson EE. Treating adult marijuana dependence: a test of the relapse prevention model. J Consult Clin Psychol. 1994 Feb;62(1):92-9.