Qual é o diagnóstico diferencial de paralisia facial periférica?

| 2 junho 2011 | ID: sofs-5319
Solicitante:
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Na avaliação de um paciente com paralisia facial periférica (PFP), anamnese detalhada e exame físico minucioso são fundamentais, a fim de investigar causas secundárias (Tabela 1). A paralisia de Bell ou idiopática é a etiologia mais comum (cerca de 50 a 75% dos casos), porém representa um diagnóstico de exclusão.1, 2
Inicialmente é importante definir se o quadro é súbito ou gradual. Na paralisia de Bell o início é súbito, e o tempo de progressão do início dos sintomas até o grau máximo do déficit motor é geralmente em cerca de 3 dias. O início insidioso e a progressão lenta, principalmente quando superior a 2 semanas, sugerem causa secundária.2

Na maioria dos casos, a etiologia traumática pode ser identificada pela história de trauma ou abordagem cirúrgica recente no território do sétimo nervo. Tumores têm início gradual e tendem a acometer outros pares cranianos de forma concomitante.3 O neurinoma do acústico (schwanoma do vestibular) é a lesão tumoral intracraniana mais frequentemente associada a PFP. O paciente pode apresentar cefaléia, redução acuidade auditiva, zumbido e vertigem.

Dor intensa sugere infecção pelo herpes simples ou varicella zoster, e pode preceder a erupção vesicular na síndrome de Ramsey-Hunt. A otoscopia e a oroscopia são extremamente importantes, pois as vesículas podem acometer conduto auditivo, palato mole ou língua. O vírus varicella zoster pode causar paralisia facial mesmo na ausência de lesões cutâneas (“zoster sine herpete”). A otoscopia também é importante no diagnóstico de otite média, otite externa maligna e colesteatoma.1
PFP tem sido relatada em todos os estágios da infecção pelo HIV, principalmente no momento da soroconversão ou em estágios tardios, quando geralmente está associada a infecções oportunistas, polirradiculopatia desmielinizante crônica ou linfomatose meníngea.4 A PFP é a neuropatia craniana mais comum na meningite por doença de Lyme. Pode ser uni ou bilateral, e geralmente persiste por menos de 2 meses.
Os pacientes apresentam manifestações clínicas adicionais que sugerem doença de Lyme: história de picada por carrapato, eritema crônico migratório, mal-estar, febre, cefaléia, rigidez de nuca, mialgias, artralgias migratórias e linfadenopatias, bloqueios cardíacos, vertigem e redução de acuidade auditiva.3, 4
Meningite, sarcoidose, síndrome de Guillain-Barré e polirradiculopatia craniana idiopática geralmente se manifestam como PFP bilateral. Lesões no núcleo do nervo facial podem se manifestar como PFP, mas geralmente estão associadas a outros sinais de acometimento de tronco cerebral, como exceção de lesões pontinas, que podem se manifestar como PFP isolada (por exemplo, esclerose múltipla).3
A síndrome de Melkersson-Rosenthal é rara, de etiologia desconhecida e de provável predisposição hereditária. Caracteriza-se pela presença de edema orofacial recidivante, língua plicata e episódios recorrentes de paralisia facial periférica, com início na adolescência.5

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Bibliografia Selecionada:

  1. Finsterer J. Management of peripheral facial nerve palsy. Eur Arch Otorhinolaryngol 2008 Jul;265(7):743-52. Disponível em: http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC2440925/pdf/405_2008_Article_646.pdf. Acesso em: 23 mar 2015.
  2. Tiemstra JD, Khatkhate N. Bell’s palsy: diagnosis and management. Am Fam Physician 2007 Oct 1;76(7):997-1002. Disponível em: http://www.aafp.org/afp/2007/1001/p997.pdf. Acesso em: 23 mar 2015.
  3. Roob G, Fazekas F, Hartung HP. Peripheral facial palsy: etiology, diagnosis and treatment. Eur Neurol 1999 Jan;41(1):3-9. Disponível em: http://www.karger.com/Article/Abstract/7990 Acesso em: 23 mar 2015.
  4. Ronthal M. Bell’s palsy: Pathogenesis, clinical features, and diagnosis. Up to Date. Version 18.2; 2010. Disponível em: http://www.uptodate.com/contents/bells-palsy-pathogenesis-clinical-features-and-diagnosis-in-adults Acesso em: 23 mar 2015,
  5. Vilela DSA, O. BF, Fernandes AMF, Mitre EI, Lazarini PR. Síndrome de Melkersson-Rosenthal: relato de casos e revisão da literatura. Rev Bras Otorrinolaringol 2002;68(5):755-60. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/rboto/v68n5/a24v68n5.pdf Acesso em: 23 mar 2015.