Qual o diagnóstico diferencial e tratamento dos sopros cardíacos na infância?

| 27 agosto 2009 | ID: sofs-2488
Solicitante:
CIAP2:
DeCS/MeSH:
Graus da Evidência:

Muitas crianças normais apresentam sopros cardíacos, mas a maioria destas crianças não tem cardiopatia concomitante. Um estudo demonstrou que 61% das crianças com sopro referenciadas para especialistas apresentavam sopros funcionais (ou inocentes).
História e exame físico adequados podem identificar crianças com risco aumentado de doença cardíaca significante e definir a necessidade de encaminhamento. A caracterização dos sopros inocentes e patológicos pode ser obtida sem necessidade de exames complementares, na grande maioria dos casos (1).
Contudo, o exame do sistema cardiovascular vai além da ausculta cardíaca, e alterações como diferenças na palpação dos pulsos, são sugestivas de doenças e devem ser valorizadas.
Especial atenção deve ser dada às crianças com dificuldade de alimentação, déficit de crescimento, sintomas respiratórios ou cianose. Em crianças mais velhas deve-se valorizar dor precordial (especialmente com exercício), síncope, intolerância ao exercício ou história familiar de morte súbita em pessoas jovens(2).
O sopro cardíaco inocente é a alteração da ausculta que ocorre na ausência de anormalidade anatômica e/ou funcional do sistema cardiovascular, sabendo-se que 50% a 70% das crianças terão, em algum momento da infância e adolescência, uma alteração auscultatória que será reconhecida como sopro, a maioria na idade escolar (3).
São mais facilmente audíveis nos estados circulatórios hipercinéticos; são sistólicos ou contínuos; nunca ocorrem isoladamente na diástole; têm curta duração e baixa intensidade (1+/4+); não se associam a frêmito ou a ruídos acessórios (estalidos, cliques); localizam-se em uma área pequena e bem definida e não se associam a alterações de bulhas. Os sopros inocentes mais freqüentes na criança são sopro vibratório de Still, de ejeção pulmonar, de ramos pulmonares, supraclavicular e zumbido venoso.
A origem dos sopros inocentes ainda é controversa (3).
Abaixo, segue uma tabela com os principais diagnósticos diferenciais do sopro inocente.

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A maioria das doenças cardíacas estruturais significantes é identificada nas primeiras semanas de vida(4). Alteração no padrão de crescimento e/ou desenvolvimento, embora inespecífica, sugere uma doença grave, cardíaca e/ou em outros sistemas, e não sopro inocente. Outros achados que sugerem cardiopatia grave são: arritmias cardíacas, cianose, crises hipoxêmicas, síncope, dor torácica, dificuldade para se alimentar e/ou sudorese excessiva de pólo cefálico, intolerância aos exercícios, cefaléia e hipertensão arterial (principalmente em crianças de baixa idade), taquipnéia, edema e hepatoesplenomegalia(1).
Todos os sopros com intensidade maior que 3+/6 são patológicos, assim como os sopros diastólicos (com exceção do zumbido venoso) e necessitam de encaminhamento para avaliação especializada. A detecção de alteração auscultatória no recém-nascido ou na criança nos primeiros seis a 12 meses de vida necessita uma investigação mais detalhada, mesmo sabendo-se da existência de sopro inocente nesta faixa etária. Alguns autores recomendam encaminhamento para especialista focal(1).
O sopro inocente não necessita de tratamento e o tratamento do sopro patológico depende da sua etiologia.


Bibliografia Selecionada:

  1. McConnell ME, Adkins SB 3rd, Hannon DW. Heart murmurs in pediatric patients: when do you refer? Am Fam Physician. 1999 Aug;60(2):558-65. Disponível em: http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/10465230 Acesso em: 27 gosto 2009.
  2. Amaral F, Granzotti JA. Abordagem da criança com sopro cardíaco. Medicina (Ribeiräo Preto). 1998 jul-Set;31(3):450-5. Disponível em: http://revista.fmrp.usp.br/1998/vol31n3/abordagem_crianca_sopro.pdf Acesso em: 29 agosto 2009.
  3. Kobinger M. Avaliação do Sopro Cardíaco na Infância. J Pediatr (Rio J). 2003;79(Supl.1):S87-S96 Dispon´[ivel em: http://www.jped.com.br/conteudo/03-79-S87/port.pdf Acesso em: 29 agosto 2009.
  4. Pelech AN. Evaluation of the pediatric patient with a cardiac murmur. Pediatr Clin North Am. 1999 Apr;46(2):167-88. Disponível em: http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/10218068 Acesso em: 29 agosto 2009.