Qual o tempo de validade da esterilização de gazes embaladas em papel grau cirúrgico?

| 14 dezembro 2015 | ID: sofs-23077
Solicitante:
CIAP2:
DeCS/MeSH:
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Recorte Temático:

O novo paradigma de esterilização está relacionado a eventos e não ao tempo relógio/calendário, o qual já foi incorporado no documento Recommended Practices da Association of Perioperative Registered Nurses (AORN) desde 2000 (1).

Apesar das recomendações internacionais, associando as datas de vencimento de esterilização de um material, tradicionalmente é prática comum das centrais de material de esterilização do Brasil estabelecer prazos de validade dos materiais esterilizados (gazes), variando de umasemana, em alguns casos 15 dias ou até alguns meses (1).


Segundo a Agência Nacional de Vigilância Sanitária – ANVISA, a data limite de uso do produto esterilizado, ou seja, o prazo estabelecido em cada instituição é baseado em um plano de avaliação da integridade das embalagens, fundamentado na resistência das embalagens, eventos relacionados ao seu manuseio (estocagem em gavetas, empilhamento de pacotes, dobras das embalagens), condições de umidade e temperatura, segurança da selagem e rotatividade do estoque armazenado (2).

Entendemos que ainda existem muitas controvérsias em relação ao prazo de validade de esterilização por autoclave (em papel grau cirúrgico). Assim cada instituição deve estabelecer seu prazo de validade, porém deve ser alterado de acordo com as pesquisas e avanços tecnológicos (2).

COMPLEMENTAÇÃO – Segundo o Ministério da Saúde e a ANVISA, cada serviço deve realizar a validação do processo de esterilização dos materiais, recorrendo a testes laboratoriais de esterilidade, considerando os tipos de embalagens utilizados, os métodos de esterilização, as condições de manuseio e locais de armazenamento (3,4).

Há um consenso internacional, alertando que todo produto a ser esterilizado, armazenado e transportado, deverá ser acondicionado em embalagens criteriosamente selecionado, com o objetivo de garantir a manutenção do material esterilizado (1,5,6).

As embalagens de papel grau cirúrgico estão normatizadas pela NBR 14990-5-2010, que regulariza os sistemas e materiais de embalagem para esterilização de produtos de saúde (7).

A vida de prateleira de um produto estéril embalado depende da qualidade da embalagem, condições de armazenagem, condições durante o transporte, a quantidade de tratamento, e outros eventos que comprometem a integridade. Devem-se avaliar os pacotes para o uso com relação à perda de integridade (por exemplo, rasgado, molhado ou furado), e se necessário, reembalar e reprocessar o pacote antes de usar (8).

Vários trabalhos derrubando o mito do prazo de validade de esterilização foram publicados, porém com limitações metodológicas (9).

Um estudo realizado em um Centro de Material e Esterilização de um hospital privado do município de Ribeirão Preto (SP), constou de quatro etapas, a saber: preparo dos artigos, avaliação do funcionamento do autoclave, ciclo de esterilização e testes microbiológicos. Os resultados evidenciaram crescimento bacteriano nos artigos embalados com papel grau cirúrgico sem filme e com filme a partir do 21 °dia (10).

As pesquisas vêm demonstrando que o material não se contamina pelo tempo de armazenamento, mas sim, por eventos que danificam a embalagem e a selagem, eventos esses denominados de  relacionados (10).

Muitas condições são importantes para garantir a esterilidade dos materiais na área da saúde, tais como a limpeza, utilização de embalagens com propriedade microbiana, a selagem, a esterilização, e a sua manutenção durante o transporte e armazenamento (1).

ATRIBUTOS APS – Educação continuada

É muito importante que os profissionais de saúde, sigam alguns cuidados ao utilizar a autoclave (11):

– Observar a disposição dos pacotes dentro da câmara, de modo que o vapor possa circular entre todos eles;

– Respeitar espaçamento de 2 cm entre os pacotes e destes para as paredes da câmara;

– A carga não deve ultrapassar 80% da capacidade total da câmara da autoclave;

– Não retirar da câmara os pacotes molhados;

– Os pacotes quentes não devem ser tocados ou colocados em superfícies frias.

Evidências

As autoclaves a vapor também devem sofrer um processo de validação, através da realização de testes biológicos em todos os pontos internos da máquina, antes de sua primeira utilização e após cada manutenção (Grau de Evidência B) (12).

Acredita-se que as pesquisas experimentais rigorosamente sustentadas poderão reforçar o novo paradigma e contribuir para mudanças na prática assistencial, subsidiando assim uma assistência de enfermagem qualificada e segura aos pacientes.

Bibliografia Selecionada:

  1. Association of perioperative registered nurses (AORN). Standards, recommended practices, and guidelines: recommended practices for selection and use of packaging system. Denver: AORN; 2007. Disponível em: http://www.guideline.gov/content.aspx?id=37868Associação
  2. Brasil. Ministério da Saúde. ANVISA – Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Serviços Odontológicos: Prevenção e Controle de Riscos. Brasília: Anvisa; 2006. Disponível em: http://www.anvisa.gov.br/servicosaude/manuais/manual_odonto.pdf
  3. Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Assistência à Saúde. Orientações gerais para Central de Esterilização. Brasília; Ministério da Saúde; 2001. (Série A Normas e Manuais Técnicos, No. 108). Disponível em: http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/orientacoes_gerais_central_esterilizacao_p1.pdf
  4. Brasil. ANVISA – Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Resolução – RDC Nº 15, de 15 de março de 2012 – Dispõe sobre requisitos de boas práticas para o processamento de produtos para saúde e dá outras providências. Disponível em: http://www.anvisa.gov.br/hotsite/segurancadopaciente/documentos/rdcs/RDC%20N%C2%BA%2015-2012.pdf
  5. Association for the advancement of medical instrumentation (AAMI). Comprehensive guide to steam sterilization and sterility in the helth care facilities. Arlington: AAMI, 2008.
  6. Sociedade Brasileira de enfermagem de centro cirúrgico, recuperação anestésica e central de material e esterilização (SOBECC). Práticas recomendadas. 5ª ed. São Paulo, 2009.
  7. Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) NBR 14990-5, sistemas e materiais para esterilização de produtos para saúde, papel grau cirúrgico para embrulhar produtos de saúde. Rio de Janeiro, 2011.
  8. Rutala W. A. Guideline for Disinfection and Sterilization in Healthcare Facilities, 2008. Disponível em: http://www.cdc.gov/hicpac/pdf/guidelines/disinfection_nov_2008.pdf
  9. Moriya G. A. A. Prazo de validade de esterilização de materiais utilizados na assistência à saúde: Um estudo experimental [tese]. São Paulo (SP), Brasil: Escola de Enfermagem, Universidade de São Paulo, 2012.
  10. Brito M.F.P. Validação do processo de esterilização de artigos médicos-hospitalares segundo diferentes embalagens. Rev. Bras. Enferm., Brasília,  jul./ago. 2002; 55 (4): 414-419. Disponível em: http://bvsms.saude.gov.br/bvs/is_digital/is_0303/pdfs/IS23(3)067.pdf
  11. Castellucci A. C. Prefeitura Municipal de Ribeirão Preto-SP. Secretaria Municipal da Saúde. Protocolo de processamento de artigos e superfícies nas unidades de saúde de Ribeirão Preto-SP. Comissão de controle de infecção. SMS-RP. 1ª ed, 2007.
  12. Telessaúde RS. Quais as diretrizes básicas de esterilização e desinfecção de artigos clínicos e médico-Hospitalares? Disponível em: http://blog.telessaudebrasil.org.br/?p=213