Balanço de riscos e benefícios incerto para a terapia com agonistas da dopamina na doença de Parkinson inicial

| 10 dez 2014 | ID: poems-87

Área Temática:

Questão Clinica:

Comparados com placebo ou levodopa, o quanto são eficazes e seguros os agonistas da dopamina (DAs) na doença de Parkinson (DP) inicial?
Resposta Baseada em Evidência: Comparado com placebo ou levodopa, DAs reduzem complicações motoras (distonia, discinesia e flutuações motoras) em pacientes com DP inicial 1. No entanto, o controle dos sintomas é mais pobre com DAs, e efeitos colaterais “não-motores” estão aumentados (edema, sonolência, constipação, tonturas, alucinações, náuseas e dores de cabeça). Doentes em uso de DAs têm mais do que o dobro de probabilidade de interromper prematuramente o tratamento devido aos efeitos adversos do que os pacientes controles, sugerindo que o efeitos colaterais "não-motores" tiveram gravidade suficiente para ter um impacto significativo sobre a qualidade de vida do paciente e talvez foram pelo menos tão importantes clinicamente quanto as complicações motoras.

Alertas:

Infelizmente, o balanço dos riscos e benefícios permanece incerto, já que apenas um estudo incluiu qualidade de vida global e de custo-efetividade como desfechos avaliados. São necessários estudos comparativos maiores, de longo prazo, com mensuração de parâmetros de qualidade de vida do paciente, para avaliar de forma mais confiável o equilíbrio entre benefícios e riscos de DAs em comparação com a levodopa. É importante também avaliar o custo-efetividade, já que há a necessidade de uma melhor evidência sobre o custo-eficácia dos DAs, consideravelmente mais caros.
Contexto: A doença de Parkinson é uma doença progressiva que afeta mais de seis milhões de pessoas em todo o mundo, tornando-a a doença neurodegenerativa mais comum após a doença de Alzheimer2. Na ausência de uma terapia curativa, o tratamento é direcionado no sentido de aliviar os sintomas característicos da DP, tais como bradicinesia, tremor, rigidez e instabilidade postural3. Levodopa associada a um inibidor periférico da dopa-descarboxilase fornecem um controle sintomático eficaz. Entretanto, o uso da levodopa por longo prazo está associado com o desenvolvimento de complicações motoras, tais como movimentos involuntários (discinesia) e flutuações motoras (fenômeno “wearing-off” [deterioração de fim de dose] e flutuações “on-off” [alternância boa resposta e período insatisfatório] imprevisíveis). Uma vez que levodopa foi introduzida na década de 1960, duas outras classes de drogas tornaram-se também amplamente utilizadas4. São os agonistas dopaminérgicos e inibidores da monoamina oxidase de tipo B (IMAO-B), usados isoladamente (como tratamento de primeira linha) ou em combinação com levodopa, em uma tentativa de controlar os sintomas ou retardar o aparecimento de complicações motoras ou ambos, em DP inicial.

Referencia

Stowe RL et al. Dopamine agonist therapy in early Parkinson’s disease. Cochrane Reviews 2008, Issue 2. Art. No.: CD006564. DOI: 10.1002/14651858.CD006564.pub2. Disponível em: http://cochrane.bvsalud.org/doc.php?db=reviews&id=CD006564

Esta revisão contempla 29 estudos envolvendo 5.247 participantes.

McAvoy, Brian R. Balance of risks and benefits unclear for dopamine agonist therapy in early Parkinson’s disease. PEARL, n º 72 Maio de 2008. Disponível em: http://www.cochraneprimarycare.org/sites/cochraneprimarycare.org/files/uploads/72_Balance%20risk%20Dopamine%20agonists%20in%20early%20Parkinson%27s%20disease.pdf

Referências citadas no Pearl:

  1. Schapira AH. BMJ 1999 ;318 :311-314.
  2. Clarke CE. Neurology, Neurosurgery and Psychiatry. 2002 ;72 :122-127.
  3. Quinn NP. Baillieres Clinical Neurology 1997 ;6 :1-13.

Comentários:

A doença de Parkinson tem papel crescente na demanda por serviços de saúde na população brasileira, que passa por um envelhecimento populacional e transição do seu perfil epidemiológico de condições agudas para crônicas. É necessário que se avalie a ampliação do arsenal terapêutico, hoje voltado para doenças agudas, incluindo medicamentos voltados para doenças crônico-degenerativas baseados no perfil populacional e na melhor evidência científica. Neste âmbito, conhecer a melhor evidência científica e escolher medicamentos úteis e custo-eficazes é fundamental para tornar o sistema de saúde mais efetivo. Tradução e comentários da Sociedade Brasileira de Medicina de Família e Comunidade, julho 2010.

Data de acesso:

201020100724

Endereço:

http://www.cochraneprimarycare.org/sites/cochraneprimarycare.org/files/uploads/72_Balance%20risk%20Dopamine%20agonists%20in%20early%20Parkinson%27s%20disease.pdf

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