Budesonida inalada encurta a duração da doença em pacientes ambulatoriais de alto risco com COVID-19 (PRINCIPLE)

| 03 out 2021 | ID: poems-44241

Área Temática:

Questão Clinica:

A budesonida inalada melhora os resultados em adultos ambulatoriais de alto risco que estão com COVID-19?
Resposta Baseada em Evidência:

Pessoas maiores de 65 anos de idade, ou 50 anos com comorbidades respiratórias, se recuperam mais rápido (mais de 99,9% de certeza) da COVID-19 se usarem budesonida spray oral 800 μg duas vezes ao dia, por 14 dias, começando a menos de 14 dias de início dos sintomas. A redução do risco de internação ou morte não foi tão evidente assim (96,3% de certeza).

Alertas:

Contexto:

PRINCIPLE é um ensaio clínico multicêntrico que avalia simultaneamente diversas intervenções, de forma adaptativa. Dos 4 700 randomizados entre tratamento usual, budesonida ou outras intervenções, apenas 2 655 tiveram um teste positivo para COVID-19, e apenas aqueles alocados para tratamento usual ou budesonida tiveram seus desfechos analisados neste artigo. A idade média foi 64,7 anos, sendo 64% dos participantes maiores de 65 anos. Comorbidades estavam presentes em 80% dor participantes, e incluíam cardiopatia, hipertensão, asma ou outra doença pulmonar, diabetes, hepatopatia, derrame ou outra doença neurológica, imunossupressão (por exemplo, quimioterapia) ou obesidade (índice de massa corpórea de pelo menos 35 kg/m²). O tempo até a recuperação clínica foi 2,94 dias mais curto para quem usou budesonida (intervalo de confiança [IC] de 95%, 1,19 a 5,12). A razão de chances (odds ratio) para morte ou internação hospitalar foi de 0,75 (IC 95%, 0,55 a 1,03), com uma diferença absoluta de risco de 2,0% (IC 95%, desde aumento em 0,2% até diminuição de 4,5% no risco). As análises secundárias incluindo todos os participantes randomizados chegaram a resultados muito semelhantes. Há duas ressalvas metodológicas neste estudo. Devido à natureza pragmática e adaptativa do estudo, os participantes sabiam em que grupo estavam. Além disso, o tempo até a melhora clínica foi incluído como um desfecho primário do estudo depois de a randomização começar, devido à baixa taxa de internação hospitalar por COVID-19 no Reino Unido naquela época. De qualquer forma, medidas foram tomadas para evitar que isso influenciasse as análises. Além disso, os resultados concordam com aqueles de outro ensaio clínico, o STOIC.

Referencia

Yu LM, Bafadhel M, Dorward J, et al, for the PRINCIPLE Trial Collaborative Group. Inhaled budesonide for COVID-19 in people at high risk of complications in the community in the UK (PRINCIPLE): a randomised, controlled, open-label, adaptive platform trial. Lancet 2021;398(10303):843-855. Disponível em:  https://doi.org/10.1016/S0140-6736(21)01744-X

Outros estudos:

Ministério da Saúde (BR). Relação Nacional de Medicamentos Essenciais: Rename 2020. Brasília: Ministério da Saúde; 2020. Disponível em https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/relacao_medicamentos_rename_2020.pdf

 

Comentários:

No SUS, a budesonida 200 µg ou 400 µg integra o componente especializado da Relação Nacional de Medicamentos Essenciais, enquanto a beclometasona 250 µg integra o componente básico. Em conjunto, os ensaios clínicos PRINCIPLE (resumido acima) e STOIC atestam a eficácia clínica da budesonida para o manejo ambulatorial da COVID-19, mas não está claro (1) qual seria a eficácia da beclometasona; e nem (2) qual seria a viabilidade de distribuir qualquer um desses medicamentos sem deixar desassistidas as pessoas com asma e outras doenças pulmonares.

Data de acesso:

Endereço:

https://doi.org/10.1016/S0140-6736(21)01744-X

Número, Data e Autoria:

Leonardo Fontenelli, setembro 2021