Com que idade os adultos de risco médio que não apresentam sinais ou sintomas de câncer colorretal devem começar o rastreamento do câncer colorretal?

| 01 out 2021 | ID: poems-44053

Área Temática:

Questão Clinica:

Com que idade os adultos de risco médio que não apresentam sinais ou sintomas de câncer colorretal devem começar o rastreamento do câncer colorretal?
Resposta Baseada em Evidência:

Nesta revisão atualizada em 2021, a Força-Tarefa de Serviços Preventivos dos EUA (USPSTF) continua a recomendar o rastreamento de câncer colorretal em adultos com risco médio, assintomáticos, com idade entre 50 e 75 anos (recomendação A). A força-tarefa agora estende essa recomendação para incluir adultos com idade entre 45 e 49 anos (recomendação B). Os médicos devem oferecer seletivamente o rastreamento do câncer colorretal em adultos com idades entre 76 e 85 anos (recomendação C). Embora o rastreamento reduza o risco de mortalidade específica por câncer, ainda não há evidências de uma redução significativa na mortalidade por todas as causas. (Nível de evidencias = 2c)

Alertas:

Contexto:

Nesta atualização, a USPSTF encontrou 33 estudos sobre a eficácia do rastreamento versus nenhum rastreamento em pessoas de risco médio (nenhum diagnóstico prévio de câncer colorretal, pólipos adenomatosos ou doença inflamatória intestinal; nenhum diagnóstico pessoal ou histórico familiar de distúrbios genéticos conhecidos que os predispõem a um alto risco de câncer colorretal ao longo da vida) e encontrou uma diminuição significativa no risco de mortalidade por câncer colorretal com esta intervenção em alguns grupos etários. Não há evidências que favoreçam um método de triagem específico, embora o teste combinado de DNA fecal com o teste imunoquímico fecal (Cologuard) resulte em mais resultados falso-positivos, mais colonoscopias de acompanhamento, maiores custos gerais de triagem e mais eventos adversos associados sem nenhuma redução adicional da mortalidade (alerta de uso excessivo!). Os médicos e seus pacientes devem considerar uma variedade de fatores (por exemplo, diferentes frequências de triagem, local da triagem (domicílio ou clínicas), preparo intestinal pré-procedimento, anestesia e custo) ao decidir qual teste é melhor para cada pessoa. Nenhuma modalidade de rastreamento demonstrou uma redução significativa na mortalidade por todas as causas. Danos graves podem resultar do rastreamento ou colonoscopia de acompanhamento, incluindo perfurações intestinais, sangramento importante e mortalidade prematura, mas a frequência destes eventos foi relativamente baixa. Várias outras organizações nacionais também recomendam o rastreamento colorretal, incluindo a American Academy of Family Physicians (AAFP), o American College of Physicians e a American Cancer Society. A AAFP ainda não recomenda o rastreamento antes dos 50 anos.

Referencia

US Preventive Services Task Force, Davidson KW, Barry MJ, et al. Screening for colorectal cancer. US Preventive Services Task Force recommendation statement. JAMA 2021;325(19):1965-1977. Disponível em: https://jamanetwork.com/journals/jama/fullarticle/2779985

Comentários:

Esta revisão atualiza a anterior de 2016 e a modifica, acrescentando 5 anos ao ponto de corte para se iniciar o rastreamento do câncer colorretal em pessoas de risco médio. Algumas considerações devem ser feitas sobre ela: 1) A parte de avaliação dos benefícios medidos em anos de vida ganhos em média com a intervenção foi feita através de modelagem, feita especificamente para o estudo, não advinda de estudos revisados. 2) Através destas modelagens, viu-se um ganho médio de anos de vida, porém, ao interpretá-los, vê-se que os benefícios foram ganho de se evitar 3 casos do câncer e 1 morte a mais ao antecipar os 5 anos do rastreio. Além disso, traduzindo os anos de vida ganhos, viu-se uma sobrevida entre 8 a 10 dias a mais para cada pessoa rastreada. 3) Como em muitos estudos de rastreamento, neste não foi incluída a análise da mortalidade por todas as causas, desfecho muito mais robusto para se avaliar reais benefícios dos rastreamentos populacionais. 4) Não foram feitas análises de possíveis danos (como falsos resultados) para os testes não invasivos (sangue oculto), apenas para colonoscopias, sigmoidoscopias etc. Para estes testes, apesar de não haver um dano marcadamente aumentado (sangramentos e perfuração foram os mais estudados), num sistema de saúde com recursos tão escassos para testagem e para acompanhamento de complicações como é o SUS, essa ampliação da indicação da colonoscopia não parece ser medida adequada.

Data de acesso:

Endereço:

https://jamanetwork.com/journals/jama/fullarticle/2779985

Número, Data e Autoria:

Luciano N. Duro, julho 2021