BVS Atenção Primária em Saúde
Traduzindo o conhecimento científico para a prática do cuidado à saúde
Traduzindo o conhecimento científico para a prática do cuidado à saúde
Não houve diferença significativa na probabilidade de um evento cardiovascular ou mortalidade por todas as causas em pacientes que receberam um suplemento de ácido graxo ômega-3 em comparação com aqueles que receberam um “placebo” de azeite. Curiosamente, quando consideradas todas as mortes por eventos vasculares como um único desfecho, há diferença estatística significativa entre os grupos, mas, quando analisados isoladamente um a um (IAM ou AVE), não, e nem na mortalidade geral.
Este foi um estudo de desenho fatorial com pacientes também randomizados para receber aspirina, e esses resultados são relatados separadamente em outro artigo.
O Ataque Isquêmico Transitório (AIT) foi adicionado como evento cardiovascular grave após o início do recrutamento.
A duração do acompanhamento foi aumentada após taxas menores do que o esperado para o desfecho cardiovascular avaliado.
Embora os autores não afirmem especificamente que a análise foi por intenção de tratar, para todos os fins práticos, 99,1% dos pacientes tiveram acompanhamento completo, podendo ser considerado como tal.
Embora o azeite tenha sido associado a um melhor desfecho cardiovascular em estudos da dieta mediterrânea, estudos usaram aproximadamente 1 litro por semana, em comparação com apenas sete gramas por semana neste estudo de Bowman et al.
The ASCEND Study Collaborative Group, Bowman L, Mafham M, et al. Effects of n-3 fatty acid supplements in diabetes mellitus. N Engl J Med 2018;379(16):1540-1550. Disponível em: https://www.nejm.org/doi/10.1056/NEJMoa1804989?url_ver=Z39.88-2003&rfr_id=ori:rid:crossref.org&rfr_dat=cr_pub%20%200www.ncbi.nlm.nih.gov
Outros estudos:
The ASCEND Study Collaborative Group, Bowman L, Mafham M, et al. Effects of aspirin for primary prevention in persons with diabetes mellitus. N Engl J Med 2018;379(16):1529-1539. Disponível em: https://www.nejm.org/doi/full/10.1056/nejmoa1804988
Ensaio controlado randomizado (duplo-cego) que recrutou adultos com 40 anos ou mais anos e diabetes mellitus sem doença cardiovascular conhecida, sem contraindicações para a aspirina e sem comorbidade importante que os impedisse de participar do estudo por pelo menos 5 anos.
Após um período de placebo run-in, para garantir a adesão, 15.480 participantes foram randomizados para receber ácidos graxos ômega-3 ou placebo (azeite de oliva) em cápsulas idênticas de 1 grama.
Os grupos foram equilibrados no início do estudo, o que resultou em uma idade média de 63 anos, 63% eram homens e 96% eram brancos. Quase todos (94%) tinham diabetes mellitus tipo 2. Foi utilizado um escore de risco validado determinou que aproximadamente 40% dos participantes tinham baixo risco de eventos vasculares (<5% em 5 anos), 40% tinham risco em 5 anos de 5% a 10% e o restante estava em alto risco.
O desfecho primário foi um primeiro evento vascular grave (isto é, infarto do miocárdio não fatal ou acidente vascular cerebral, ataque isquêmico transitório ou morte vascular, exceto por hemorragia intracraniana confirmada). O desfecho secundário foi um primeiro evento vascular grave ou qualquer revascularização arterial.
Após média de 7,4 anos de acompanhamento, não houve diferença entre os grupos para cada desfecho vasculares grave (8,9% no grupo ômega-3 e 9,2% no grupo placebo; hazard ratio [HR]=0,97, IC95%=0,87 a 1,08). E não houve diferença na mortalidade por todas as causas entre os grupos.
Houve diferenças significativas (mas limítrofes) -após exclusão de causas hemorrágicas- para as mortes por causas vasculares como um grupo único de análise (2,4% para ômega-3 versus 2,9% para placebo; HR=0,81, IC95%=0,67 a 0,99; NNT = 200 para 7,4 anos, o que não apoia a incorporação nas condutas preventivas.