Estudo IMPACT: menos exacerbações e mais pneumonias relacionados a tripla terapia inalatória para Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica (DPOC)

| 31 maio 2021 | ID: poems-43871

Área Temática:

Questão Clinica:

Em pacientes com Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica (DPOC) moderada ou grave qual combinação é melhor (vários desfechos): beta-agonista de ação prolongada (LABA) + antagonista muscarínico de ação prolongada (LAMA) + corticoesteróide inalatório (CEI); LABA + LAMA; ou LABA + CEI?
Resposta Baseada em Evidência:

A cada 1000 pacientes-ano (ou seja, tratados por um ano) com DPOC com:

LABA + LAMA + CEI (terapia tripla): teriam 96 pneumonias e 923 exacerbações;

LABA + CEI: teriam 97 pneumonias e 1.052 exacerbações;

LAMA + LABA: teriam apenas 61 pneumonias, mas 1.150 exacerbações.

Para cada oito exacerbações prevenidas usando terapia tripla, há aproximadamente uma pneumonia adicional em comparação com o tratamento com LAMA + LABA.

Alertas:

O estudo foi patrocinado pela indústria farmacêutica. Houve uma taxa de abandono relativamente alta: a taxa de descontinuação prematura do tratamento foi menor no grupo de terapia tripla (758 pacientes, 18%), e maior nas terapias LAMA+CEI (1.040 pacientes; 25%) e LAMA + LABA (566 pacientes; 27%).

Contexto:

A abordagem da DPOC depende da gravidade da doença, incluindo o grau de limitação do fluxo aéreo, seu impacto no estado de saúde do paciente e o risco de eventos graves (como exacerbações, internações hospitalares ou morte). Sua terapia é baseada numa graduação em estágios que vão de A a D, a partir dos quais o tratamento se definirá, podendo ser baseado em LAMA, LAMA + LABA, LAMA + CEI, terapia tripla, ou mesmo inibidores da fosfodiesterase e antibióticos para os casos não responsivos (GOLD, 2017). Em muitas realidades, porém, as medicações de curta duração ainda são as únicas dispensadas na atenção primária.

Referencia

Lipson DA, Barnhart F, Brealey N, et al, for the IMPACT Investigators. Once-daily single-inhaler triple versus dual therapy in patients with COPD. N Engl J Med 2018;378(18):1671-1680. Disponível em: https://www.nejm.org/doi/full/10.1056/NEJMoa1713901

Outros estudos:

Global Initiative for Chronic Obstructive Lung Disease (GOLD). Guide to COPD diagnosis, management, and prevention. A guide for health care professionals. 2017 Edition. Global Initiative for Chronic Obstructive Lung Disease, Inc. http://www.goldcopd.org. Disponível em: https://goldcopd.org/wp-content/uploads/2017/11/GOLD-2018-v6.0-FINAL-revised-20-Nov_WMS.pdf

 

Comentários:

O desfecho primário foi a taxa anual de exacerbações moderadas ou graves da DPOC durante o tratamento. Os medicamentos usados foram:

– Terapia tripla: furoato de fluticasona (CEI inalatório) 100 μg, umeclidínio (LAMA) 62,5 μg, vilanterol (LABA) 25 μg (terapia tripla);

– CEI + LABA: fluticasona (100 μg) – vilanterol (25 μg);

– LAMA + LABA: umeclidínio (62,5 μg) – vilanterol (25 μg).

A taxa de exacerbações moderadas ou graves no grupo de terapia tripla foi de 0,91 por ano, o grupo CEI-LABA teve taxa de 1,07/ano (RR comparado a terapia tripla= 0,85; IC95%=0,80 a 0.90; diferença de 15%; p<0.001) e o grupo LAMA-LABA 1,21/ano (RR comparado com terapia tripla, 0.75; 95% CI, 0.70 a 0.81; diferença de 25%; p<0.001). A taxa anual de exacerbações graves resultando em hospitalização no grupo de terapia tripla foi de 0,13, em comparação com 0,19 no grupo de umeclidínio-vilanterol (RR=0,66; IC95%=0,56 a 0,78; 34% de diferença; P <0,001).

Na espirometria, a diferença média do valor basal no VEF1, entre terapia tripla e CEI+LABA foi de 97 ml (IC95%=85 a 109; P <0,001), e entre o terapia tripla e LAMA+LABA foi de 54 ml (IC95%=39 a 69, P <0,001).

Houve uma maior incidência de pneumonia nos grupos de que usaram CEI (tripla e CEI+LABA) do que no grupo de LAMA+LABA (96 versus 61 por 1000 pessoas-ano), e o risco de pneumonia foi significativamente maior com a terapia tripla do que com LAMA+LABA (RR=1,53, IC 95%, 1,22-1,92, P <0,001).

Data de acesso:

Endereço:

https://www.nejm.org/doi/full/10.1056/NEJMoa1713901

Número, Data e Autoria:

Leonardo C M Savassi, maio 2019