Screening de osteoporose com o Fracture Risk Assessment (FRAX) em mulheres de 70 a 85 anos leva a menos fraturas de fêmur, sem redução no número total de fraturas

| 28 maio 2021 | ID: poems-43841

Área Temática:

Questão Clinica:

Triar mulheres de 70 a 85 anos com o Fracture Risk Assessment (FRAX) seguido de densitometria nos casos indicados, comparado a tratamento usual, reduz fraturas?
Resposta Baseada em Evidência:

As mulheres rastreadas foram menos propensas a ter uma fratura de quadril (2,6%) do que as do grupo controle (3,5%) com NNT = 117 (IC[95%] =69 – 396). No final do estudo, não houve diferença significativa na taxa de mulheres que tiveram pelo menos uma fratura relacionada à osteoporose (13%) ou fratura clínica (15%).  Também não houve diferença significativa no número de mulheres que morreram (8%), tiveram uma diminuição no escore de qualidade de vida ou tiveram alguma ansiedade relacionada à osteoporose.  Os autores não relataram os danos relacionados ao tratamento.

Alertas:

Os pesquisadores avaliaram as mulheres em série por até cinco anos após a inscrição para ver se houve alguma fratura através de registros e relatórios de imagem.

Com cinco anos, mais de mil mulheres haviam morrido, quase 600 recusaram-se a fornecer dados de acompanhamento e outras 150 estavam inacessíveis levando a uma perda amostral de 15% das mulheres inscritas ao final do estudo.

Contexto:

Osteoporose é uma condição importante no idoso, especialmente em mulheres não submetidas a Terapia de Reposição Hormonal. A despeito disto, a densitometria não está disponível para todas, é um exame relativamente oneroso e, no Brasil, está disponível em poucos municípios na rede pública, às vezes apenas mediante indicação de especialistas (BRASIL, 2014). Outros métodos – como o Ultrassom de calcâneo – são dependentes do examinador e não apresentam valores de referência com limites confiáveis para avaliar o risco de fraturas.

Uma tentativa de resolver este problema é através de escores de classificação de risco de osteoporose para definir mulheres que estariam em maior risco de fratura por perda de densidade óssea. O FRAX é um desses escores.

Referencia

Shepstone L, Lenaghan E, Cooper C, et al. Screening in the community to reduce fractures in older women (SCOOP): a randomised controlled trial. Lancet. 2018;391(10122):741-747. Disponível em https://www.thelancet.com/journals/lancet/article/PIIS0140-6736(17)32640-5/fulltext

Outros estudos:

Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção a Saúde. Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas – Osteoporose. Portaria SAS/MS nº 451, de 9 de junho de 2014, republicada em 9 de junho de 2014 e retificada em 18 de junho de 2014. Disponível em http://conitec.gov.br/images/Protocolos/Osteoporose.pdf

Comentários:

Mulheres de 70 a 85 anos de idade recrutadas em clínicas de Atenção Primária no Reino Unido foram randomizadas para receber uma triagem inicial usando o FRAX (n = 6233) ou o tratamento usual (n = 6250). Critérios de exclusão foram: estar em tratamento para osteoporose, demência, doença terminal, luto recente ou qualquer outra circunstância que as tornasse “inadequadas para entrar em um estudo de pesquisa”. Cada participante completou uma versão online do FRAX no início, após o que a randomização ocorreu.

As mulheres randomizadas para receber triagem tiveram seus dados do FRAX convertidos em um escore de risco de fratura ajustado para 10 anos, que foi então usado para determinar a necessidade de ofertar densitometria óssea por dupla energia (DEXA) para avaliar a densidade mineral óssea.

Os pesquisadores reestimaram a probabilidade de fratura de 10 anos entre aquelas submetidos a exames subseqüentes de DEXA e classificaram as mulheres como sendo de baixo risco ou alto risco de fratura e forneceram essas informações ao paciente e seu médico.

14% das mulheres inicialmente rastreadas apresentavam alto risco de fratura, e ao fim de um ano, 15% das rastreadas recebeu um medicamento antiosteoporótico, em comparação com apenas 4% das mulheres no grupo controle. Nos anos seguintes, a proporção de mulheres rastreadas em tratamento permaneceu estável, enquanto a proporção no grupo controle aumentou gradualmente até 10% no final do estudo.

A ausência de diferenças nos desfechos de maior interesse das pessoas (qualidade de vida e mortalidade) leva a questionamentos sobre a utilidade do rastreamento estudado.

Data de acesso:

Endereço:

https://www.thelancet.com/journals/lancet/article/PIIS0140-6736(17)32640-5/fulltext

Número, Data e Autoria:

Leonardo C M Savassi, abril 2019